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Oscar Leme Brisola [Poeta Brasileiro]

Nome: Oscar Leme Brisola
Ano de Nascimento: 1887
Local de Nascimento: Itapetininga, SP
Ano da Morte:1954
Local da Morte: São Paulo

Fonte do autor(a): COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global;
Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v.

Descrição: Poeta, crítico, professor, Diretor da Escola Normal.

Obras do Autor Cadastradas :
*Título da Obra/Ano:
*Constelação de Sonhos/ 1910 - *Poesias Escolares/ 1917

SONHOS DE GLORIA



Eu nunca estive só nas batalhas da vida;
alguém me acompanhava, alguém que se não via,
alma gêmea da minha, à minha sempre unida,
e caindo comigo às vezes se eu caía.

Não sei quem fosse; a sua luz me protegia,
seu olhar me abençoava a estrada percorrida,
guiando-me atravéz de escuridão sombria
em busca de uma sombra arrante, esmaecida...

Eu nunca estive só; perseguem-me cortejos
de duendes, ilusões, insaciados desejos
de gloria, de ambição, de sonhos imortais.

Percorri as regiões esplêndidas da História,
a ouvir, embevecido, os clarins da vitória.

NÁUFRAGO



Não pretendia expôr aos olhares profanos
os Versos que compus em noites tormentosas,
impregnados de fel e duros desenganos
ou rescendendo a aurora esplendido de rosas...

Ao percorrer um dia as veredas tortuosas
das camadas sociais, habitações de arcanos,
feriram-me de perto injúrias clamorasas
como frases brutais em bocas de tiranos.

Estremeci de dor, tornei-me em rebelado;
a hipocrisia ví, num ginete cansado,
esmagando sem dó o amor que agonisava...

Sou náufrago, meu Pai, neste oceano medonho;
em meus versos palpita a dor de uma alma escrava,
em cada estrofe mova o cadaver de um sonho!
  
MEIA NOITE



Meia-noite: em meu ermo isolamento
não penetram ruidos da cidade;
escuto apenas sussurar o vento
num gemido angustioso de saudade.

De uma lâmpada a frouxa claridade
alumia meu lúgubre aposento;
sem que o perceba, fúnebre, me invade
o cortejo feral do desalento.

Tortura-me, o pensar no meu passado,
ao ver-me, quase abandonado,
longe dos meus idolatrados pais...

Fora o vento soluça tristemente;
meu coração afaga a dor que sente;
-Saudade! o mais agudo dos punhais. 

SAUDADE CANTADEIRA



A saudade, bondosa companheira,
quantas vezes nos faz até chorar!...
Vai longe a mocidade...na poeira
luminosa dos tempos a rolar.

E tropeçando e rindo, ou a cantar,
alegre ou triste, uma canção brejeira,
chegamos à velhice, o nosso altar;
e a saudade se torna cantadeira.

A amizade, que vem do coração,
robustecida ao sol da mocidade,
traz um quê da primeira comunhão...

Ei-la a cantar, em dueto com a saudade,
uma nova e suavíssima canção,
em marcha firme para a eternidade.

A UM POETA TRISTE



Em lendo os versos teus, os desalentos
de tua musa triste e sonhadora,
fico a pensar na dor que te devora,
recrudescendo os teus padecimentos.

De minh'alma também se vão aos centos
as ilusões e sonhos cor de aurora...
Reacende, pois, no peito que hoje chora,
a rósea luz dos belos pensamentos.

Que teu verso se alteia, não sossobre,
embora continue merencórea
a tua musa inspiradora e nobre!

Tua alma sofredora vibra e canta...
bendita seja a dor, mil vezes santa,
-o trampolim da tua própria glória!

AMOR QUE JÁ MORREU



Quisera possuir o gênio de Virgilio,
das estrelas roubar a luz opalescente,
das deuses imitar o infavel idílio,
para em ruínas gritar o nosso amor ardente,

implorar de Petrarca o romântico auxílio,
e dos olhos de Laura o brilho resplendente,
para balsamizar meu coração, no exílio,
em que vivo a pensar no grande amor ausente;

mendigar por piedade ao iserando Jó
um raio de luar do seu olhar magoado
para meu coração que em breve será pó...

O amor que já se fôra...ai!(desse amor não mofes)...
Abandonara o ninho antigo esburacado
para vir palpitar nas veias das estrofes!

MORTE APARENTE



Aos versos meus, que se fanarem cedo,
por tumba dar-lhe-ei o coração,
moradia final que lhes concedo,
onde - estrelas cadentes - viverão.

Nesse cofre ignorado de segredo
suas mágoas um dia morreram;
em seu lugar, intrépido, sem medo,
novos versos certos brotarão.

Prosseguirei cantando alegremente,
nas vibrações do amor e do desejo,
pois, a morte dos versos é aparente.

Eles hão de viver, tenho certeza,
na alegria ou na dor, ou na tristeza,
ou na doçura cálida do beijo.

Oscar Leme  Brisola
Todos os direitos autorais reservados aos familiares do autor.

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