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Antonio Sodré [ Poeta, Músico, Ilustrador, Livreiro Brasileiro]

Antônio Sodré é natural de Jucimeira-MT, filho de baianos radicados no Mato grosso pelos programas de ocupação do oeste.

Mudou-se para Cuiabá no final da década de 70, época que iniciou a escrever poemas, e ingressou na universidade federal do Mato Grosso no curso de história no início dos anos 80, depois de letras e depois de música.
Na verdade o poeta nunca mais saiu dos campos da UFMT, tendo se estabelecido lá com uma banca de livros, estudando e divulgando poesia por cerca de 30 anos. O poeta participou também de um grupo de arte litero-musical chamado "Caxemir-Bouquê", que durante muito tempo fez apresentações de música e poesia falada, tendo gravado 2 CDs.
O amante da literatura partiu no dia 19 de fevereiro de 2011.
As estórias que envolvem o poeta no campus da universidade confundem-se com as histórias de seus poemas e canções e são conhecidas e celebradas por várias gerações de estudantes que passaram por lá, assim como pelos grupos de artistas e arteiros que conviveram naquele ambiente estudantil. Antônio, que é irmão do pintor matogrossense Adir Sodré, gostava de denominar-se "el poeta de la transmutación y de la trancedencia!" Pequenos poemas e versos seus como "Eu não quero as réguas/ para traçar os meus caminhos./ Eu prefiro as éguas/ num galopar torto e veloz..." ou "Nunca pensei que você fosse tão fóssil!.../ ...ó! meu osso duro de roer!" são lembrados com saudade pelos ex-alunos daquela escola.

O Poeta da "Poesia Necessária"
 (Foto Mário Friedlander)
O poeta escrevia pouco e  não tinha muita vontade em publicar seus escritos, mas não perdia a oportunidade de declamar ou de participar de eventos culturais ou de incentivo à leitura. Juntamente com o poeta e professor Luiz Renato ele participa de um projeto de poesia nas escolas denominado de "Poesia Necessária", do qual foi o idealizador e, sempre que possível, promove exposição de poemas ou apresentação de poetas no saguão do curso de letras.

"O poema é quem escolhe o poeta!"

Sebo em Alto Araguaia (Foto Mário Friedlander)
Figura tradicional do velho Coxipó, das velhas noitadas, dos eventos culturais e artísticos. Mas não tem “point” que é mais Sodrezinho que a UFMT. Ali, na rampa do Instituto de Letras e Artes, acho que é isso, trabalhando naquilo que acreditava: venda e revenda de livros usados.
O famoso “sebo” do Sodrezinho. 
O “sebo” e a vida conspiraram para que ele se tornasse um leitor voraz, seletivo; e a escrever e compor versos originalíssimos. Vivia entre os livros e para eles. Sempre a versejar, inspirado que era.
Sodré, certamente, estava entre os três artistas vivos mais expressivos da nossa arte literária.
Sodré em efervescência performática
Aplicava-nos, às vezes, com suas performances cantando e se deixando acompanhar pelos amigos músicos, em línguas imaginárias. Fazia isso com uma naturalidade surpreendente. Quando a galera se reunia e a cerveja já estava nas alturas, sempre era conclamado aos seus improvisos. Nunca mais... Isso é o tipo de coisa que dói. Sodré se mandou, mas sua poesia fica.

“O livro Empório Literário reflete uma fase madura do poeta que milita na literatura mato-grossense há mais de 20 anos.
Na década de 80, entre o bar Candeias e o bar do Léo, sendo influenciado pela efervescência cultural do ambiente universitário, Antônio Sodré começa a produzir as suas primeiras poesias.
Em 1984 com a sua poética caótica e heterogênea, o poeta da transmutação, como se autodenomina, publica o seu primeiro livro, uma brochura, com 13 poemas, contando com a ilustração do artista plástico Adir Sodré, seu irmão.
Além da poesia, a música e as artes plásticas também transitam no seu processo criativo. Como músico, já foi integrante do grupo BandoGira, participou do evento Mecânica da Palavra.
Sua história com o Caximir começa em 1984, naquele momento então chamava Caximir Bouquet, em homenagem ao desodorante da época.”

                      O poeta na Academia dos Mortais
Algumas  Poesias de Antônio Sodré


manifesto

faça-se o poema, de qualquer forma:
aberto,
fechado,
rasgado,
solto,
louco,
livre, rimado, trovado,
travado,
com letras miúdas, grandes, grávidas!

faça-se o poema:
marron, vermelho, branco, negro, roxo, verde,
escarlate ...
cor-de-chocolate,
com batom ou sem batom:
faça-se o poema!

faça-se o poema: é uma ordem da vida!
essa ordem que não tem compromisso
como o poema
que é feito sem compromisso,
pois ele já é em si um compromisso feito
como a vida, feito um poema ...
e o poema se faz
como se faz a dor
costurada, amordaçada, sangrando,
palpitando num delírio
que faz do poema
que faz da dor:
a força que move o mundo!


sonhostantostontossonhos
os sonhos sonhei-os todos
num sonhar desesperado
até me perder sonhando
imerso no meu passado

recordações ilusórias
quimeras imagens tolas
gravadas no inconsciente
"pra" no presente repô-las!

suscitou-me pesadelos
assanhando meus cabelos
oh! era melhor não vê-los
soaram em vão meus apelos!

mas tem sonhos tão gostosos
dá vontade de comê-los
suaves vôos de aves
caravanas de camelos
transportando em seus alforjes
doces, balas, caramelos!

flutuando ... flutuando ... flutuando

feito espuma colorida
que chego a pensar que a vida
é um sonho em movimento.  

abismumano

um abismo me separa
dos meus próprios semelhantes ...

mas se tento chegar mais perto deles
sinto estar mais longe
do que estava antes!

é que entro cada vez mais
para dentro de mim mesmo
numa viagem, que se afasta da chegada,
pois vou pra lugar nenhum
numa lenta caminhada ...

... que me diminui
não sou, pois nunca fui...

... apenas me desfaço
como uma estátua que rui! ...


corparla porcorea

todo corpo é porco
todo porco é corpo

pouco porco
muito
porco
todo corpo é porco
todo porco é corpo
corparia
porcórea
porcaria
corpórea
porcoral mente
corporalmente
na cama
na lama ...
corpumano
porcumano
Sodré Recitando em uma exposição dos alunos do projeto Poesia Necessária

Momentos antes de falecer, vítima de ataque do coração, Sodrezinho estava declamando, fazendo o que mais sabia e gostava de fazer na vida.
“Ele deixou um varal de poesias lá em casa”, disse-me Pio Toledo, no velório. Enquanto Bia, a declamadora imbatível desta cidade, andava pelo velório com um papel manuscrito onde estavam os últimos versos do Sodrezinho. Ele, aliás, enfartou-se poetisando.
Nada a ver
Tô sem TV
Quem sente ciúmes não ama, possui

Paredes comuns têm ouvidos
mas as de vidro têm olhos

O sol surgiu depois da chuva
pra secar meu coração.


Em um único verso sua poesia se mostra completa. Assim também foi a sua convivência entre nós.

Uma das últimas entrevistas de Sodré foi dada a Altair de Oliveira, da Revista ContemporArte, em junho do ano passado.Clique e confira mais sobre a obra do poeta.
              El Poeta de la Transmutación y de la Trancedencia.
Fontes de pesquisa: 
http://www.midianews.com.br
HiperNotícias- Por Aliana Camargo
Revista ComtemporArtes

Antônio Sodré
Todos os direitos autorais reservados.

Um comentário

Mirian Marclay disse...

Ficou belíssimo, de uma sensibilidade ímpar o artista e a retratação do mesmo.