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O ônus da sinceridade [Vinícius H. Masutti]



O ônus da sinceridade

Descobri porque as pessoas mentem, ou melhor. Porque as pessoas decidem praticar a mentira.

Não foi uma descoberta repentina, claro. Toda descoberta vem permeada de inúmeros pensamentos, tentativas e erros, mas o importante é que ontem concluí esta questão que me assolava há muito tempo. Eis o pensamento:

A mentira e a verdade são decisões do homem. Ele é quem escolhe qual irá praticar.

Quando a decisão é favorável á verdade, á honestidade, o homem passa a viver com mais liberdade, porque a mentira aprisiona. Bom, ao ser honesto e verdadeiro, o indivíduo cria um compromisso consigo e com os demais, o de dizer a verdade e somente a verdade. Com o passar do tempo e com o reconhecimento de sua honestidade, uma possível mentira, por mais insignificante que seja, para este homem torna-se pesada demais, portanto sente que precisa continuar praticando a honestidade. Significa que o peso da mentira é inversamente proporcional á honestidade do indivíduo. Quanto mais este, pratica a honestidade, mais pesada será para ele uma mentira. A decisão de ser honesto ou desonesto é feita á todo tempo, é uma escolha diária e constante.

Por outro lado, há as pessoas que não praticam a honestidade, por saberem inconscientemente desta minha descoberta. Explico.

Quando se é desonesto, é mais fácil lidar com a mentira e escondê-la sob o manto da consciência. Se o individuo usa a mentira em muitas situações, para ele é simples continuar praticando. Como disse antes, o peso da mentira para este ser pode parecer mais leve. Mas, tudo tem sempre um porém. O que acontece com o homem desonesto é que a cada mentira contada, que a ele parece leve, há um acúmulo de peso na consciência. Como este homem pratica a mentira constantemente, parece á ele imperceptível este peso. Mas ele está lá. E com o passar do tempo, os resíduos das mentiras praticadas se torna tão grande e pesado que o indivíduo não consegue praticar a verdade, mesmo que queira. Nessa situação é comum sentir uma confusão dentro de si. Bem, esta confusão é o acúmulo de pequenas mentiras que toma conta da consciência do ser e que impede que a verdade seja praticada.

Há uma solução. O homem precisa ter em mente isso tudo que disse. Que é melhor ser honesto, pois assim terá a dimensão real de uma mentira, do que ser desonesto e perder o controle sobre sua consciência.

Talvez tenha reinventado a roda, trazendo á tona esta minha descoberta, mas estou certo de que pode ajudar algumas pessoas. Mas, isto só funcionará para quem tem a intenção de ser livre. Os tementes á liberdade decidirão continuar a mentir, pois não podem suportar a leveza de ser livre. 


Vinícius H. Masutti - é natural de Pato Branco, Paraná, Brasil. Mas é uma espécie de nômade, pois já viveu no Mato Grosso do Sul e hoje faz seus versos em Cuiabá, Mato Grosso. Lá faz um trabalho de garimpo poético, redescobrindo os poetas daquela terra. Escreve artigos para o jornal "Diário de Cuiabá", o mais antigo do estado. Estuda Filosofia na Universidade Federal do Mato Grosso, porque como gosta de afirmar,  "Filosofia é poesia porque poesia é reflexão". Vinícius pratica poesia e filosofia.

4 comentários

José Prado disse...

"Quando a decisão é favorável á verdade, á honestidade, o homem passa a viver com mais liberdade, porque a mentira aprisiona."

Vinícius,
Você está calcado numa lógica binária e extremamente moralista nessas conclusões. Verdade e mentira são pontos de vistas sustentados pela subjetividade. A verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã. A maior prova disso é que a ciência está sempre reinventado a verdade. Os poetas inventam "lirismo", contam mentiras transvestidas de verdade: "O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente." (F.Pessoa)
Hitler "criou" uma guerra e influenciou uma nação a odiar os judeus por causa de uma mentira. Ele mesmo dizia - talvez um dito popular -:"uma mentira dita cem vezes, torna-se verdade". Ainda bem que ele perdeu a guerra, senão sua mentira seria a nossa verdade!
Alias, metaforicamente falando: não é porque eu não acredito no seu deus que eu sou seu demônio.

José Prado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vinícius Masutti disse...

José Prado, a mentira de que falo é o relato de algo que não aconteceu ou diferente do que realmente aconteceu. Evidente que a subjetividade está incluída, pois é instrínseca. Mas é simples assim.

E sou amoral, não há moralidade alguma no texto. Aliás, o escrito é uma constatação minha, que obtive por meio do empirismo.

A frase que você destacou no texto fala disso. Quando vê um carro vermelho e conta a outra pessoa que viu um carro azul, está ciente de que mente e aí está o peso da mentira.

Acho que é isso. Agradeço o comentário, é para isso que serve o texto. Abraço!

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