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Angela Togeiro [Poeta e Prosadora Brasileira ]

Angela Togeiro, natural de Volta Redonda/RJ, reside em Belo Horizonte/MG, graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Política Econômica e Finanças das Empresas e Recursos Humanos, poetisa e prosadora. Pertence a entidades culturais, entre elas, Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, Academia Feminina Mineira de Letras, as duas com sede em Belo Horizonte/MG, Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette – Conselheiro Lafaiete/MG, InBrasCI - Instituto Brasileiro das Culturas Internacionais – Governadoria de Minas Gerais, sede em Mariana/MG; Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana/MG. Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravinistas – sede em Mariana/MG, Associação Profissional dos Poetas no Estado do Rio de Janeiro/RJ, Grêmio Literário de Autores Novos – Volta Redonda/RJ, Sociedade de Cultura Latina do Brasil/Mogi das Cruzes/SP; Membro Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro do Itapemirim/ES; Clube da Simpatia – Olhão/Portugal, Poetas del Mundo – Chile, ao Proyecto Cultural Sur, sede no Brasil em Bento Gonçalves/RS, e a Accademia Internazionale Il Convivio, Castiglione di Sicilia - Sicilia/Itália; Embaixadora Universal da Paz-Belo Horizonte/MG-Brasil, pelo Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix – Suisse/France. É verbete em diversos dicionários, tais como, “Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras”, de Nelly Novaes, “Dicionário de Mulheres”, da Profª Hilda Agnes Hübner Flores e na “Enciclopédia de Literatura Brasileira”, de Afrânio Coutinho e Jô Galante de Sousa. Detém prêmios e antologias em prosa e verso em português, espanhol, francês, italiano e inglês, lançadas em diversos países, além de vídeos-poemas. Livros: em verso – Contato Urbano, Trem Mineiro, Na luz dos teus Olhos, Sou Mulheres; em prosa – Pudim de Claras com Baba-de-moça e O Compositor – romances; Cavalo Alado - contos, Flagrantes do Viver - crônicas. Vitrines da Vida – contos, e O Dente de Leite apresenta: O Molar fugiu do sonho da Menina – teatro infanto-juvenil. Foi assim... novela com diversos escritores. Editou (re) Leitura do Natal - (antologia internacional poética).



                                  LUNA©


            Angela Togeiro
   
                 La luna crescente
             Passa sulla mia strada,
          Testarda,
        Illuminando soltanto le impronte
       Che tu hai lasciato quando mi abbandonasti.
     La luna piena
    Entrando nella mia casa,
   Nostalgica,
  Percorrendo il letto spoglio
 Che tu hai denudato quando partisti.
 La luna calante,
 Sconvolta,
  Entrando dentro me,
  Rischiarando le tenebre
   Che hai creato quando mi feristi.
      La luna sa di tutti
       O pensa che sa,
          Perché cerca di mi sollevare
             Giacché era luna nuova
                   Quando il tuo cuore mi tradì.
                          Ah!... questa luna...








A primeira ceia©
Angela Togeiro
Na pracinha próxima a minha casa, há uma turma que costuma reunir-se para rezar o terço. Costumo vê-la esporadicamente. Hoje não foi diferente. Caminhava rumo à padaria quando vi o grupo lá. Quando cheguei mais perto, levei um susto. Havia um homem deitado num dos bancos e pessoas a sua volta, de pé ou sentadas no banco ao lado. A primeira coisa que pensei, sentindo um frio na boca do estomago, foi que ele estava morto. E que rezavam, esperando o socorro chegar. Mas olhando direito vi pelas roupas sujas e desalinhadas que era um mendigo, que estava deitado no banco. E ele estava dormindo o sonho dos justos.
Cena bizarra. Terrível de se ver. Inacreditável.
A praça grande, com outros nichos onde a turma poderia ir rezar. Mas não, decidiram marcar território, no lugar habitual, onde o infeliz estava dormindo.
Por outro lado, imaginei. Estão fazendo de propósito para mostrar quem é que estava sobrando ali: ele. Estavam defendendo a praça da invasão diurna de mendigos e outros assemelhados, já que a noite há outra ambientação... Mas, onde fica a caridade, a fraternidade? A igualdade, a irmandade tão apregoada pelo Deus, pelo Jesus, objeto daquele pseudo-encontro de fé?
Com ou sem motivos egoístas, era uma falta de respeito ao indivíduo que ali chegara primeiro, pobre, classe média, rico, ou quem fosse que parasse para um pouso.
Teria me meter? Nada. Olhei as mãos que rolavam as contas do terço. Estava a findar.
Fiquei a metros examinando aquela cena. Ele iria acordar? E se acordasse o que faria?
Como se me ouvisse, o homem acordou. Espreguiçou. Arrotou (nojentamente, confesso). Tirou do bolso um enorme fio dental e começou a passar nos dentes.
Fazendo cara de asco, torcendo caras, as pessoas foram saindo dali, aos pares, trios, sós, a cochichar entre si, sem aquele ar de fé até há pouco ostentado, procurando outros cantos ou indo para suas casas.
O terço ficou por terminar.

O mendigo continuava a limpeza dos dentes, entre um arroto e outro, ignorando totalmente o ambiente, e o caos que sua presença provocara. E a reação fora foi condizente com a ação precedida.
Nos sonhos, embalados por tanta reza por certo nos seus sonhos comeu muitas ave-marias e pais-nossos. Pela reação, comunhão.
Ante cena tão dantesca, lembrei-me da primeira missa rezada no Brasil, lá pelos idos 1500... justamente hoje 26 de abril...
Como teriam os índios se comportado vendo seus deuses sepultados sob uma cruz, com cânticos latinos, de bocas que nem essas palavras compreendiam? Que falavam português. Português? Que eles, índios, nem reconheciam? Outra babel? Longa babel, porque o latim até meados do milênio passado era falado na missa e nos cânticos. Quem não tivesse oportunidade de estudá-la, não teria a mínima ideia do que acontecia na missa, nem na absolvição dos confessionários, dos batismos... Que mistério cristão as palavras ocultavam dos fiéis? Nenhum, hoje sabemos. Nessa babel, o colonizador falou português, línguas e dialetos afros... Francês. Espanhol. Inglês. Italiano... E até o colonizador falou guarani! Dos índios tiraram o que puderam, e continuamos hoje na mesma saga – queremos suas terras, suas riquezas, suas culturas, suas vidas para exibi-los por dinheiro, em museus...
Os índios daquela época também não entendiam esses rituais de falas de significados estranhos, assim como aquele homem no banco. Homem que já perdeu tudo o que teve e que não teve e sem dignidade, sem cidadania, olha o vazio da própria plenitude de miséria, como estivesse suspenso no mundo, marionete do destino, embora preso em meio a rezas sem sentido ao seu entorno pessoal. Que deuses teria...? – questiono-me. Em vão. Sua face é uma máscara indevassável, apática, cerume que escorre de velas nos sepulcros dos vivos.
Não havia mais que interferir naquele momento, já o fizera com minha presença. Fiz meia-volta, fui comprar meu pãozinho.
O pão da última ceia – a primeira ceia dos seguidores de Jesus, a primeira do colonizador, a primeira dos índios, a primeira do mendigo e a minha primeira refeição do dia.












 Angela Togeiro
Todos os direitos autorais reservados a autora.

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