Wanderson Lana nasceu em 1º de novembro de 1985 na cidade de Poxoréu-MT, onde viveu até os 13 anos.
É diretor e dramaturgo da Cia. de Teatro Faces, com sede em Primavera do Leste (cidade onde reside atualmente), e idealizador do maior projeto de teatro do estado: a Escola de Teatro Faces.
É graduado em história pela UFMT e mestrando em Estudos de Cultura Contemporânea.
Possui mais de vinte textos montados e premiados em festivais estaduais e nacionais.
Dia 29 do segundo mês
Distante vejo sua imagem em meus dias que se foram,
Aos que virão, ainda não é possível ver além da bruma.
Alcanço apenas uma porta guardando um lugar vazio de rostos conhecidos,
Não sei se é meu lugar, mas continuo caminhando... Não posso parar assim, não posso parar aqui.
Sinto saudades das coisas que planejava e não de como elas realmente foram,
Vejo diferente, vejo um mundo diferente quando abro os olhos para viver, e não vivo... Fico escondido dentro de mim.
Será que você pode me beijar agora?
Vinte nove vezes, em todo lugar ferido?
Será que você consegue dizer sem desviar os olhos?
Eu prometo escutar, me deixar, beijar também.
Prometo devolver algumas coisas suas que voltaram para o meu peito,
Mas beija, agora, não espera... Beija, a bruma cobriu meu olhos e já não consigo te ver... Você me vê?
Faltam muitas horas para o futuro,
E minha translação é errada...
Sou atingido por planetas e satélites kamikaze em existir.
Então não choro... não, sei caminhar,
em meio a névoa, descobrindo coisas quando não é mais possível evita-las
E sei enfrentar... E provocar enfrentamentos.
Será que você pode me beijar um dia?
Assim, em minha translação errada,
Será que você pode me fazer acreditar?
Sentir saudades dessa minha nossa história tão diferente da nossa história?
É o dia 29 do segundo mês
Ele não vai mais acontecer.
Incidir em mim
Foi involuntário... Debaixo do chuveiro, primeiro dia do ano. Como um ritual rosti bem forte o sabonete no peito limpando os pontos de feridas que não vão sarar, mas limpas não infeccionam. Descansa o coração, orei. Não a Deus, orei a mim, ao Eu de dentro e ele escuta, se você insite um dia escuta. Escutou naquele dia e me fez bonito no espelho. Dois anos me fizeram tão feio, agora a imagem refletida é bonita... Sou o mesmo e a imagem não.
As roupas eram novas, o lugar novo, as pessoas me olhavam, me amavam, me queriam e eu também querendo conhecer todas aquelas pessoas que já conhecia, doar a elas todos os meus sorrisos, minha presença, o meu lado feliz - que existe, eu promete, ele existe. - Eu querendo correr com qualquer alguém capaz de segurar minha mão bem forte e dizer "Estou aqui, não vou até o fim da estrada contigo, mas enquanto estivermos ligados não te deixo... E depois prometo lembrar sempre e te fazer saber que lembro", sorrindo deixo, me deixo. Correndo e conversando coisas profundas e vertendo lágrimas ebolidas pela pele sem deixar marcas. Eu me vejo assim. Então abraço todo mundo, olho uma moça de olhos claros e sinto seu amor, retribuo sem medo com olhos de "Você me esperou e estou aqui... Obrigado por me esperar".
Não há certezas agora, não se confunda. Na verdade aprendi que nada nunca é certeza, que certeza é uma palavra como futuro, existe, mas é abstrato e inalcansável. Entende? Eu entendo... Entende também.
Sou como uma poema: cheio de palavras erradas. Sim, uma palavra só é bonita em um poema porque está errada, palavras certas são da gramática e não da poesia. No poema elas dizem outras coisas, não é o que está escrito, amor... amor... Leia com o peito, vai. Verbo de poema não conjuga. E sou pretérito imperfeito nesse presente reticente de um futuro sem pretérito nenhum. Corre comigo, segura minha mão e diz que vai lembrar e vai me fazer saber que lembrou. Corre comigo...
A lápis
Não foi rabisco,
E ainda assim toda escrita a lápis.
Nos campos do romantismo, onde pássaros e flores ornavam o cenário
E o vento certo carregava um futuro que era possível alcançar,
Palavras ditas e silenciadas não existem mais...
Acreditar no baú que guarda é se perder do tesouro.
Então olho o branco da folha,
Sinto uma história
E até afirmo poder ver,
Mas no branco da folha, só há o branco...
- Eu sinto... eu sinto...
E crio histórias de sentir,
Histórias de chorar,
Histórias de amor...
Que estavam ali, – Eu juro!
E que agora eu crio.
Você me escreveu a lápis,
E já não escavam vestígios meus em seu peito.
Sempre volta para as coisas que me afastam e lá
Permanece seguro, entendo... E me afasto.
Estou quieto...
Choro a noite por ter escrito assim, com letra bonita e cuidadosa,
Com uma tinta que demora, mas sai.
Chorou e ainda chora pela partida de outros amores,
Mas à minha se alegra, embarca a escrever
Em rascunhos as verdadeiras palavras de amor
Que a borracha não apaga...
Apaga a mim... Papel em branco, não há mais nada.
Foi escrito a lápis,
Se lembra, é com segredo e não sorriso.
Não é raiva, ou dor ou solidão...
É tristeza de um coração dizendo:
“Se era preciso escrever a lápis, não escrevesse então”.
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Elaine Caniato e Wanderson Lana
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O Homen do Coração Azul – e as coisas que ele escreveu
As várias histórias deste livro revelam um pouco da sensibilidade do autor que dialoga com alguns textos canônicos para criar histórias do universo fantástico ou real que falam das relações de amor, bem ou mal sucedidas. Onde quando mal sucedidas, o empecilho é quase sempre a diferença.
Wanderson sai do universo da dramaturgia e mergulha na arte literária, em prosa e verso.
Bradicardia é um singelo mini-livro, com fragmentos das principais frases e pensamentos do “O Homem de Coração Azul”
Autor: Wanderson Lana
Edição: 1ª
Ano de publicação: 2011
ISBN: 978-85-8009-037-6
Tamanho: 13,8 x 20,8 cm
Número de páginas: 152 e 32 (livrinho)
Gênero: Literatura – Ficção e poesia
Peso: 218 gramas
Editoras: Carlini & Caniato
Contatos
Editora TantaTinta / Carlini & Caniato
(65) 3023-5714 /3023-5715
Fontes:
Editora TantaTinta / Carlini & Caniato
Wanderson Lana
Todos direitos autorais reservados ao autor.
2 comentários
Genial! Um grande artista... Fazendo uma pesquisa sobre artistas contemporâneos da região amazônica me deparo com esse dramaturgo/poeta de MT.
Estou tocado por suas obras.
Sensacional, é de tirar o fôlego do leitor.
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