Tráfico de mulheres
Há cerca de dez dias as discussões sobre o tráfico de pessoas, principalmente de mulheres, estão intensas na mídia brasileira. Na última terça-feira, assisti um documentário sobre o assunto, onde a cruel realidade das brasileiras prostitutas no Suriname e na Europa ficou estampada.
Segundo uma reportagem do Jornal do Brasil em 16 de outubro, em seis anos, quase 500 brasileiros e brasileiras foram vítimas do tráfico de pessoas. Desse total, 337 casos, que representam mais de 70% dos registros feitos de 2005 a 2011, referem-se à exploração sexual e a maioria das vítimas brasileiras tem como destino os países europeus Holanda, Suíça e Espanha. O Suriname, que funciona como rota para a Holanda, é o país com maior incidência de brasileiras e brasileiros vítimas de tráfico de pessoas, com 133 casos, seguido da Suíça, com 127. Na Espanha, o número de vítimas chegou a 104 e, na Holanda, a 71 pessoas.
Segundo Relatório da Anistia Internacional, o tráfico de pessoas é a terceira das formas ilegais mais lucrativas no mercado mundial. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) estimam que o tráfico humano movimente por ano cerca de 32 bilhões de dólares, perdendo somente para o narcotráfico e o tráfico de armas.
O Instituto Europeu para o Controle e Prevenção do Crime estima que cerca de 500 mil pessoas são traficadas de países mais pobres para este continente por ano. Quanto ao tráfico de pessoas para fins sexuais, 98% das vítimas em todo o mundo são mulheres. Para quem realiza este tipo de exploração, a atividade tem baixos riscos e altos lucros. As mulheres traficadas entram no seu país de destino com visto de turista e a ação da exploração sexual muitas vezes é camuflada nos registros por atividades legais como o agenciamento de modelos, babás, garçonetes ou dançarinas.
Das mulheres vítimas deste crime, somente algumas têm ciência de que a migração se destina à exploração sexual; por vezes elas permanecem em cárcere privado, quando chegam ao destino seus passaportes são confiscados e já contraíram dividas com o aliciador e ficam sob permanente vigilância, além de sofrerem preconceito, discriminação e agressões por parte dos clientes e dos donos dos estabelecimentos. Essas mulheres trabalham de 10 a 13 horas diárias no mercado do sexo, não podendo recusar clientes e sendo submetidas ao uso abusivo de drogas e álcool para permanecerem acordadas e ativas. E acabam não se reconhecendo como traficadas, não se dão conta da grave exploração que sofrem, apenas admitem que foram ludibriadas.
Ana Emilia Iponema Brasil Sotero é professora, advogada, doutoranda em Ciências Jurídicas e Sociais, palestrante sobre violência de gênero, ex-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso e superintendente e gestora de políticas públicas para as mulheres de MT e escreve exclusivamente para este blog toda sexta-feira - soteroanaemilia@gmail.com - http://facebook.com/AnaEmiliaBrasil
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