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Conto de Fadas às Avessas [Dy Eiterer]

Conto de Fadas às Avessas

“E eles foram felizes para sempre!... Fim!”
Sim, começamos essa crônica pelo final: final dos contos de fadas, das histórias de princesas que nos contaram a vida toda, final da vida que todos sonham para si.
Todo mundo espera um grande amor – até eu! – e é só conversar com seus amigos que terá a confirmação: mais da metade dos solteiros querem, se não de imediato, uma companhia para passar os dias. E atentemos para o detalhe: o final será feliz!
Acho que esqueceram de colocar uma pitada de realidade nos sonhos que andamos tendo... Esqueceram daquela parte da história em que até o final feliz chegar, acontecem dezenas de imprevistos e desencontros.
Somos programados e nos programamos para esperar o tal final feliz, mas se ele não chegar nunca, pode ser traumático! E não tenho dúvidas que ele não chegará. Não se trata de pessimismo, trata-se tão somente de realismo.
Aqui no chão, onde os nossos pés devem ficar, a vida não é só cor-de-rosa, ela também é verde-anil-amarela-e-carvão. Passamos por uma série de dificuldades ao longo da vida, temos contas a pagar, trabalhos a fazer, livros para ler, reunião de condomínio, ônibus atrasado, chefe estressado, dor de cabeça, chuva no fim da tarde, engarrafamento, aumento da passagem de ônibus, falta de luz em casa e o pior de tudo: Jornal Nacional e NOVELAS!
Aguentar a barra de um dia-a-dia de correria a gente acaba tirando de letra. Acostumamos com a rotina e um pouco de organização nos coloca no ritmo e lá vamos nós, viver a nossa vida e ter momentos de felicidade, porque nos entremeios dessa correria há vãos que só são preenchidos com amor, beijos, abraços e sorrisos. E por sabermos da importância de todos eles, arrumamos brechas nas nossas agendas e nos rendemos ao chamego da família, ao passeio com o cachorrinho, ao cineminha, ao choppinho, aos domingos de chuva com edredom, pipoca e DVD.
Mas... E a pior parte? Aquela do Jornal Nacional e da NOVELA? Essa é de doer. Chegamos em casa e ligamos aquele aparelho que deveria nos trazer informação, cultura e entretenimento, mas que ao contrário nos desinforma com fatos manipulados, notícias mal escritas e tendenciosas, programas vazios e muita, muita propaganda!
Há meses, talvez mais de um ano, eu não ligava a minha TV. Tentei a sorte dia desses: acidentes nas estradas brasileiras, aumento na conta de luz, entrega do carnê do IPTU, guerra no Oriente Médio, uma quase crise nos EUA, e toda sorte de crueldades do homem com o seu semelhante em uma vitrine de horrores com crimes: um pior que o outro. Jantar assistindo ao telejornal ficou difícil! A melhor notícia da noite foi a proximidade do Carnaval (eu desejei pular da janela!).
Na sequencia entrou a NOVELA! Criatividade batendo pontos negativos, o enredo era fraco e o que vi foi mais um conto de fadas moderninho, se bem que esse bem que se aproxima dos medievos, já que o mocinho anda montado em um cavalo maravilhoso – quase mais bonito que o protagonista. A mocinha, pobre, sonha em se casar com o príncipe (de cavalo!) e ser feliz pra sempre. Pra variar acontece um monte de empecilhos, mas o final é previsível: eles vão se casar e, com sorte, o último capítulo será consagrado com o nascimento de um filho ou uma viagem dos sonhos para a família perfeita.
Em outro núcleo da novela, outro candidato a príncipe se desponta, também com seu cavalo, mas esse é mais espertinho, é, na verdade, candidato a sultão: com fama de bonitão já deve ter saído com metade das turistas da novela, mas será conquistado por um amor verdadeiro e, previsivelmente, deve se casar e ser feliz pra sempre!
Tudo nos conformes. Tudo como deveria ser, só que não! Enquanto tivermos esse tipo de cultura se fixando em nossas cabeças tendemos a viver em stand by, esperando ad aeternum pelo nosso final feliz que não virá.
Se passarmos os dias à espera do nosso “feliz pra sempre” perderemos os momentos mais felizes de nossas vidas, aqueles cujos detalhes fazem toda a diferença.
Encontrar o príncipe não é impossível, principalmente se estivermos dispostas a transformar um sapo meio desajeitado no nosso príncipe. O importante não é ele ser encantado, mas o encanto que provoca. Esse é o segredo! Precisamos manter o encanto, o interesse.
Perdemo-nos pelo caminho porque esquecemos esses detalhes. Esquecemos o bilhete pregado na porta da geladeira. Esquecemos a nossa música favorita, não decoramos o nosso poema predileto, não usamos o vestido mais bonito, nem o melhor perfume e a aquela maquiagem porque estamos esperando um dia importante pra fazê-lo.
Sabe quando o dia vai chegar? Talvez, nunca! Porque quem dá o tom dos dias somos nós. Se fizermos a nossa rotina deixar de ser monótona, estaremos construindo as oportunidades que antes só ficávamos esperando.
Vou concordar com Maquiavel: os fins justificam os meios. Se quer um final feliz, faça um meio feliz e terá dias felizes e não só um final. Será muito melhor olhar para trás e ver que a sua história teve altos e baixos e muitos momentos de felicidade do que perceber o quanto ela foi norma e o quanto perdeu-se oportunidades.
O melhor a fazer é mesmo desligar a TV, esquecer o telejornal e a novela e mudar o lema e o estilo de vida: quem sabe se pensarmos que a partir de ontem o amanhã é hoje não viveremos mais intensamente? É uma boa provocação, não?

Dy Eiterer. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando

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