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O sexo nosso de cada dia.[Ana Paula Veiga]

O sexo nosso de cada dia.

Já ouviram alguém reclamando quando a buzina é tocada a cada troca de sinal? É porque a mulher é uma mal comida. Ou então quando o cara está de mal humor há quem garanta que a esposa dormiu de calça jeans. Histeria ou vibradores à parte, porque será que há uma necessidade tão urgente pela sexualidade e sexualização de todos momentos?

Se antes Freud foi o pioneiro em falar sobre a sexualidade infantil, hoje é preciso que todas as crianças sejam sexualizadas precocemente. Se antes queimamos sutiãs nas ruas em nome da nossa liberdade sexual, hoje nos tornamos celebridades por (e para) expor o próprio corpo nú à mídia.
Peraí. É preciso realmente gostar, se interessar, querer saber, praticar, falar sobre sexo? Acredito que há muitas pessoas por aí, indo aos shoppings, academias e festas de casamento e que não tem no sexo o assunto de preferência em suas vidas. Ninguém está beliscando azulejos ou dando nó em pingo d´água por conta isso. Estão muito bem assim, obrigada.
Há linha que garante que o sexo faz bem. Afirma que ele é capaz de curar enxaqueca, estresse e TPM, além de deixar a pele bonita e os músculos relaxados: essencial para a nossa felicidade. Muito legal até aqui mas esqueceram de nos avisar que ele não é fundamental.
Com tanta variedade no mundo, há espaço prum bando de coisas. É culto falar que curte Nietzsche ou chique dizer que está aprendendo mais sobre a culinária japonesa. Mas seria ignorância afirmar que não se pretende fazer do sexo a atração principal da própria vida? É preciso se dar a liberdade, no meio de tanta sexualização, de não fazer sexo. Sexo é escolha e acho bem saudável poder se escolher pelo não em um mundo tão permissivo.
No meio dessa liberdade às avessas, ainda temos um agravante: somos brasileiros. O discurso é cansativo e fala sobre a nossa ‘brasilidade’ sexual. Que Deus nos acuda pois nossa nacionalidade nos livrou dos convencionalismos. Até que ponto por termos nascido nos trópicos precisamos estar em dia com os movimentos feitos em cima das camas?
Claro que precisamos separar o joio do trigo. Até aqui estou falando de pessoas que poderiam ficar em abstinência por um longo período ou que não se relacionam sexualmente e nem sentem falta de tais momentos em suas vidas. E isso é diferente das que não curtem sexo pois o encaram como sujo ou pecaminoso e por isso ‘abrem mão’ desses momentos. Pausa explicativa: sujo vem de sujeira e pecado vem daquilo que institucionalizaram que o sexo deveria ser. O sexo, por si só, é uma manifestação de sensações, é instinto, é troca de energia e sentimentos.
E no meio de tudo, o que temos visto por aí são pessoas se prendendo às falsas necessidades do sexo, quando precisam de uma boa dose de amor. Resumos das teorizações da biologia que afirmam o impulso de espalhar nossos genes e ponto final. Sexo foi incrementado pelo homem com a sensualidade e usá-lo fora de determinados contextos pode acabar sendo um tanto agressivo.
Claro que para muitos, e vamos respeitar as opiniões diversas, a idéia do “vamos fazer amor” deveria ser usada em campanha contra a guerra. Pois é preciso desamarrar as palavras sexo e amor. Amor é sentimento, é proteção, é cuidado. Sexo é uma prática, é um instinto. Um não é condição para o outro. E é assim que o sexo pode rolar sem amarmos o outro.
A libido não é coisa pra se manter trancada numa masmorra interna. O sexo é maravilhoso quando é experimentado com respeito. E respeito não deve ser sinônimo de transgressão. Assim, espero que haja espaço para o prazer e satisfação, mesmo que isso seja conseguido através da abstinência sexual. Espero que todos possamos viver de acordo com as nossas escolhas. É preciso devolver o corpo aos seus donos e tomar cuidado com a propaganda enganosa. 


Ana Paula Veiga. Dedica a atividade profissional às questões da sexualidade. Trabalha em consultório particular no Rio de Janeiro com casais, terapia de grupo e individual, além de realizar orientação psicológica mediada pelo computador. É colunista sobre sexualidade para alguns sites, para o jornal Correio Carioca e tem diversas entrevistas publicadas em revistas e sites especializados. Email para contato: consultoriodepsicologia@gmail.com  Site: http://www.wix.com/ana_paula_veiga/atendimento

Um comentário

Unknown disse...

Ana, adorei o seu artigo muito lúcido e direto. As palavras andam perdendo seu peso e seus valores com isso as pessoas ou vão se embrutecendo ou se sensibilizando demais. Continue nesse caminho. Niltino.