É, meu velho Manara (ilustração), os balõezinhos calientes das suas inspiradoras HQs aqui seriam silenciados. Repare como a coisa anda.
Que mundo é esse que não se pode nem mesmo emitir saudáveis onomatopeias no momento mágico do orgasmo!
Que mundo é esse?, indagam as minhas sobrancelhas fatigadas.
Existe amor em SP, mas é quase proibido alardear esse sentimento sagrado na hora do gozo.
Em muitos prédios da cidade, só mesmo gozando com um esparadrapo na boca.
Psiu!
E não estamos falando de um escândalo ao estilo Linda Lovelace (foto) ao ouvir o bimbalhar dos sinos no filme “Garganta Profunda”.
Muito menos da gemedeira gostosa de Jane Birkin & Serge Gainsbourg na música “Je t’aime moi non plus”. La petite mort, como dizem os franceses. Escute aqui a canção.
Reflito sobre a grave causa depois de uma cartinha de uma fogosa leitora, com a qual me solidarizei de imediato.
Pelo “direito de gozar”, como a Lola define no seu manifesto. “Moro em um apartamento que, como a maioria dos apartamentos de hoje, vaza som”, conta. “Moro com meu namorado há seis meses e, óbvio, transamos com frequência.”
Sacanagem, seu síndico!
Não há som mais bonito que uma mulher no clímax.
Voltemos ao relato da leitora: “Não faço escândalos, não grito durante toda a transa, mas gosto de gozar gemendo alto, gritando, que seja. A questão é que isso acontece por apenas 10, 20 segundos. Não é, de fato, um incômodo terrível para o ouvinte.”
De forma alguma, amiga. É o melhor som ao redor do universo.
Agora a sacanagem das sacanagens: os vizinhos registraram a queixa contra a destemida leitora no livro do condomínio.
Um vizinho solteirão chegou ao cúmulo de dizer a ela que os gemidos teriam como objetivo chamar a atenção dele. Pode?
Mil anos de análise para um sujeito desses, meu caro Sigmund.
Não se pode mais nem gozar em paz, minha gente. Isso é que é patrulha.
Não se reprima, caro vizinho, aproveite a inspiração e faça bom uso. Nem que seja consigo mesmo.
Pelo direito dos gritos & sussurros nos prédios, edifícios, casas, puxadinhos. Não somente de SP, esta Carençolândia de pedra, mas em todo o país.
Goza, Lola, goza!
Xico Sá é escritor e jornalista, colunista da Folha, autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa” (GNT).
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Um comentário
Ao som de La Décadanse, leio esse texto de Xico Sá, embevecida, enquanto relembro meu primeiro, grande e único amor! Peço-lhe, encarecidamente, que conclame o mundo inteiro, Xico! E nunca, nunca deixe de fazê-lo! Abaixo os síndicos de plantão! Sou mulher, e quero a delicadeza de ''gritar & sussurrar'' em paz! E, talvez por ser mulher, não vejo como você, que é homem, a beleza dos ''gritos & gemidos'' (que o faz deliciar-se apenas ao imaginar ouvi-los)! Porém, Xico, saiba que muito, muito mais belo é esse lindo presente que nós mulheres recebemos de você!
Um abraço, e parabéns pela magnitude de seus sentidos e a perspicácia e a sensibilidade de seu olhar!...
Postar um comentário