Conexão Marilyn Monroe: para assistir, rir e pensar [Carla Dias]
Infelizmente, não são todos os que se apossam da comédia que sabem fazê-la funcionar decentemente. E infelizmente – parte II, muitos se acham mestres da comédia, alimentando mais o ego do que a própria arte. Para os espectadores, resta o bom senso de escolher uma obra que não lhes trate como idiotas. Porque apesar de nos fazer rir como doidos, quando sob a batuta de um bom criador, ela pode nos tornar mais sábios a respeito de temas que, em conversas cotidianas, jamais poderíamos abordar com a crueza que a comédia permite.
Antes de me atrever a escrever sobre o espetáculo, assisti o Conexão Marilyn Monroe duas vezes, finais de semana seguidos, o que foi a melhor coisa que poderia ter feito. Eu sempre escrevo sobre o que gosto, e adorei o espetáculo quando o assisti pela primeira vez, na semana da sua estreia. Porém, assim como não tenho mão para escrever comédias, fiquei com receio de não saber me expressar decentemente sobre o espetáculo, e não queria deixar por menos. E o mais bacana foi perceber como, de um sábado para o outro, o espetáculo evoluiu. Se na primeira vez que assisti o Conexão... gargalhei muito, e fiquei impressionada com o texto e com os atores, a segunda vez me levou a concluir que o espetáculo precisa ser assistido por muitos, principalmente nesse momento em que se encontra o Brasil – e os seus brasileiros. Nós.
O Dr. Pacheco (Paulo Ivo) é um senador da república visto com bons olhos, mas é corrupto e trabalha com tráfico de drogas e contrabando. Homossexual nada assumido, seu discurso, a princípio, é honesto, suas ações, não. Ricardinho (Thiago Adorno) é o novo namorado de Pacheco, uma criatura fofa e histriônica, que insiste com seu parceiro que um dinheirinho por fora não machucaria ninguém. Paulo (Alexandre Barros) é o bonitão machista, nada gentil e parceiro de Pacheco nas suas contravenções. Dom Pepino (Riba Carlovich) é um criminoso com dor de cotovelo, porque está perdendo espaço para Pacheco. Sendo assim, decide se vingar do senador. Otávio (Romis Ferreira) é funcionário de Dom Pepino, bem atrapalhado, e que, por falta de pessoal, tem de trabalhar em campo. Silvia (Maximiliana Reis) é esposa de Paulo e amiga de Pacheco. Ela guarda um segredo que vem à tona e atrapalha a vida de todos.
Durante o espetáculo, os atores nos entregam situações com as quais estávamos acostumados, mas que já não contam mais com a nossa indiferença cidadã. A corrupção aparece em vários matizes, do grande político e seus golpes elaborados, ao funcionário que tem um emprego que não escolheu, mas do qual precisa. Aquele que justifica seu roubo por considerá-lo menor, porque o país está em uma situação difícil. Mas a grande questão em Conexão... é que todos os personagens são criminosos. Cada um deles tem uma justificativa que soa justa. E com essa máscara, sobrevivem às intempéries e à distração da lei, melhor, de quem deveria aplicá-la.
Pode-se pensar que este é assunto batido, que a corrupção é tema que não dá mais em samba. Aos adeptos de tal pensamento, só posso dizer que esse samba nunca esteve em ritmo tão acertado. Nada mais interessante que um olhar apurado e divertido – que é para não mergulharmos de vez na sensação de impotência predominante – para nos fazer olhar além e desarrumar o universo pessoal dos que sacaneiam o povo sem pestanejar, como se fossem dignos de eterna indulgência. E dignidade é o que falta nessa roda.
Conexão Marilyn Monroe é um espetáculo divertido e inteligente, com atores de primeira encarando o desafio de mostrar ao público aqueles que os representam. Cada ator tem seu momento de nos entregar um tema para ruminar, e todos são merecedores dos aplausos que recebem, assim como das gargalhadas que arrancam do público, durante o espetáculo.
Eu poderia contar sobre o que me encantou em cada ator e com detalhes. Só que eu acho mesmo é que vocês têm de assistir ao espetáculo para conferir pessoalmente o timing, o talento, a capacidade de interpretação de cada um deles. Entre eles, conheço e sou fã de carteirinha - e pôster na mão - da Maximiliana Reis. Agora, meu repertório de conhecimento de talentosos atores está maior e melhor. Obrigada, Maxi, por isso!
ALEXANDRE REINECKE
Eu sei que Alexandre Reinecke é uma pessoa que vem colaborando muito com o teatro brasileiro. Conexão Marilyn Monroe foi o primeiro espetáculo dele que assisti. Gostaria de ter assistido aos outros. Certamente, assistirei aos próximos.
MARILYN MONROE
Definitivamente, vocês terão de assistir ao espetáculo para saber qual papel ela desempenha nessa história.
Essa não é uma crítica, mas um convite feito por quem ainda está começando a se embrenhar nesse universo tão interessante que é o teatro. Um convite para que vocês prestigiem o que merece ser prestigiado.
CONEXÃO MARILYN MONROE
Teatro Gazeta
Av. Paulista, 900 - SP
Sexta: 21h
Sábado: 22h
Domingo: 20h
Até 17/11
Informações: 11.3253 4102
Ingressos: clique para conferir.
Maximiliana Reis
Paulo Ivo
Romis Ferreira
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