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Até parecia que tudo estava como
deveria ser. Céu, nuvens, carros, pés, mãos, bocas, palavras bem ditas e as
malditas palavras mal ditas. Não fossem pelos não-ditos e não-feitos tudo
estaria certo, nos conformes, como diziam por aí.
Era um inverno mais frio que os
outros porque era marcado pelo silêncio causado pelos mal entendidos ou seria
pelos não-entendidos deles de cada dia? Tanto fazia. Por um ou pelo outro havia
um ruído ali na sala, mergulhando os corpos companheiros em mares imensos de
desilusão, descontentamento e cada vez um silêncio maior, levando ao
afastamento e às mágoas.
Engoliam o sal das suas próprias
lágrimas sem queixar-se ou sem ao menos tentar entender o porquê elas se
jogavam da margem do olho, como cachoeiras que não pedem licença.
Ela literalmente se afogava em
seu sal. Calava-se com as palavras que desejava dizer. Ele apenas remoia o
porquê de ela ter se calado, mas já não ousava falar. Dos olhos úmidos, só ela
sabia explicar. Só ela sustentava a cena de se deixar transbordar pelo que
sentia. Ele, homem, segurava, parecia mais frio que o mármore da estátua da
praça, mas ela sabia que não era assim.
Compartilhavam um silêncio de
cristal, fácil de ser quebrado, mas temido pelos cacos que poderiam deixar pelo
chão. Compartilhavam ainda uma admiração um pelo outro e não sabiam de onde
vinham as mágoas que os afundava naquela poltrona da sala.
Tudo estava como deveria estar:
quem os via até elogiava o casal. Estavam muito bonitos até para uma foto, não
fosse o coração em frangalhos, retalhado ao longo dos anos por tantas palavras
não ditas e muito mais pelas mal ditas.
Ele, estátua de bronze, ainda a
queria para aquecer seu coração com aquelas mãos tão pequenas e delicadas – mas
que nem eram tão menores que as dele e que se encaixavam tão bem com seus
entrededos.
Ela fazia uma prece dessas
decoradas, inconformada, desejosa por uma lareira que fosse capaz de
reaquecê-los, porque mais do que os “mal” e os “não” entendidos, embaixo de
toda a neve que teimava em glaciar a sala, havia amor naqueles corações.
Era um dia de inverno mais frio
que os outros, mas esperançoso pela chegada das flores e do calor amoroso da
primavera, anunciando, mais uma vê, o verão que poderia fazê-los arder.
Dy Eiterer.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
Palavras Mal Ditas [Dy Eiterer]
Reviewed by Ivana
on
agosto 27, 2013
Rating: 5
Por que ainda produzimos literatura? Cassio Pantaleoni Dia desses, um jornalista amigo meu me perguntou sobre o sentido ...
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