A IDADE DA DISCRIÇÃO (A MULHER DESILUDIDA)- Simone de
Beavouir
SINOPSE:
Em "A Idade da Discrição" Simone de Beauvouir
traz à tona as angústias de uma escritora, casada, mãe de um filho que se vê
envolta em uma crise existencial e no medo constante de enfrentar sua velhice e
seu futuro. No decorrer da novela suas aflições se acentuam, comprometendo seu
relacionamento com o marido e até mesmo com o filho.
MINHAS IMPRESSÕES
A Idade da Discrição é um dos três contos que integram
o livro A Mulher Desiludida (novela que dá nome ao livro), contendo ainda um
conto chamado Monólogo. As histórias são independentes, e por esta razão achei
mais interessante falar de todas separadamente, começando hoje com o primeiro
conto: A Idade da Discrição.
Escrito por Simone de Beauvoir, considerada um ícone do
feminismo, entendemos o porquê da escritora ser assim considerada. Beauvoir
traz à tona as angústias de uma mulher madura que teme o futuro e à velhice, e
através de seu conto nos revela muitos conflitos que integram o universo
feminino.
A história conta a rotina de um casal maduro, estudioso,
independente, politizado e de vertentes esquerdistas, que buscam lidar com
frustrações e a velhice que se aproxima. A mulher é uma escritora casada com
André, um intelectual cada dia mais descrente de sua produtividade e
contribuição científica. O casal possui um filho chamado Philippe, que sempre
teve uma forte ligação com a mãe mas se mostra cada dia mais distante após
relacionar-se com Irene.
A escritora escreve e publica um livro, que acaba
tornando-se alvo de inúmeras críticas. Isto abala sua confiança, já que
depositou em seu livro as esperanças de revigorar-se com seu possível sucesso.
Para tornar tudo ainda mais difícil, André, seu esposo, mostra-se cada vez mais
distante e Philippe abre mão de seu doutorado e de sua carreira acadêmica para
ocupar um cargo no Ministério da Cultura, oferecido por seu sogro.
Ao ver seu filho aliando-se ao governo e abandonando a
carreira com a qual ela sonhou, sua confiança é abalada e ela fica cada vez
mais frustrada e só. Neste momento é tomada pela angústia, medo da velhice, do
futuro, do esquecimento, além de sentir-se inútil.
Esta parte do livro foi extremamente angustiante pra
mim, e confesso que me envolvi e compreendi muitas de suas frustrações. Suas
angústias são reais, fez e fazem parte da vida de muitas mulheres, afinal de
contas, não é fácil lidar com a solidão, as mudanças no corpo, com o
envelhecimento e principalmente com o medo da morte. Ao questionar tudo isto,
seu relacionamento, o rompimento com Philippe e sua crise profissional
endurecem sua forma de ver a vida e iniciam um processo depressivo.
O interessante é que este conto é quase autobiográfico
e revela muito do que Simone de Beavouir e Jean Paul Sartre (seu esposo)
passaram, como por exemplo o sentimento de traição ao verem o filho optar por uma
vertente conservadora e contrária aos seus ideais políticos.
Somos levados a refletir de forma despretensiosa, já
que o conto não é nada determinista e e Simone não se propõe a ditar nenhum
tipo de moral para a história., sem
determinismos. A novela é mais melancólica que dramática, e somos presenteados
com inúmeros e angustiantes questionamentos que são um retrato da vida de
Beauvoir, narrados através de sua escrita inebriante e envolvente. É um conto
maravilhoso, que recomendo à todos, principalmente àqueles que pretendem
conhecer um pouco mais sobre trabalhos que influenciaram o feminismo!
TRECHO DO LIVRO:
"Sempre olháramos longe. Seria necessário aprender
a viver o dia-a-dia? Estávamos sentados lado a lado sob as estrelas, tocados
pelo aroma do cipreste, nossas mãos se encontravam; o tempo havia parado por um
instante. Iria continuar a escorrer. E então? Sim ou não, poderia ainda
trabalhar? Minha raiva contra Philippe se esfumaria? A angústia de envelhecer
me retomaria? Não olhar muito longe. Longe seriam os horrores da morte e dos
adeuses. Seria a dentadura, a ciática, as enfermidades, a esterilidade mental,
a solidão em um mundo estranho que não compreenderíamos mais e que prosseguiria
seu curso sem nós. Conseguiria não levantar os olhos para esses horizontes?
Quando aprenderia a percebê-los sem pavor? Nós estamos juntos, é a nossa sorte.
Nós nos auxiliaremos a viver essa derradeira aventura da qual não retornaremos.
Isso no-la tornará tolerável? Não sei. Esperemos. Não temos escolha."
Isabela Lapa e Kellen Pavão – Administradoras do blog Universo dos Leitores,
que fala de livros e de tudo que estiver relacionado a estes pequenos
pedaços de papel que nos transferem do mundo real para o universo dos
sonhos, das palavras e da felicidade!
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário