Escritor best-seller luta
contra Google, Apple e Amazon
RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK (EUA)
O escritor e advogado
Scott Turrow está em guerra. E o inimigo, desta vez, não é nenhum inocente
condenado injustamente, e sim as grandes corporações da rede, entre elas
Google, Amazon e Apple. Presidente da Author's Guild, uma associação que reúne
cerca de 8.000 escritores nos EUA, Scott quer que as empresas dividam os lucros
com quem cria o que elas vendem.
"Essas empresas
distribuem conteúdo pirateado que outros produzem. E vendem publicidade com
essa distribuição, enquanto escritores e editores não ganham nada",
reclama ele, que luta para que os gigantes da internet paguem direitos autorais
a escritores.
Admitindo que não nega
"por um segundo" que a internet melhorou imensamente a vida cotidiana
de muita gente, ele diz que o sucesso dessas empresas não pode ser feito
passando os outros para trás. "Sou a favor do preço baixo para os livros,
o que estimula a leitura, mas quero a divisão dos lucros."
Os nove romances de Scott
Turow, 64, venderam mais de 25 milhões de exemplares até hoje. Seus livros são
dramas de tribunais, gênero que reinventou e levou para Hollywood
""como "Acima de Qualquer Suspeita" (que virou filme com
Harrison Ford em 1990), "O Ônus da Prova" e "Ofensas
Pessoais".
Ele deixa claro que não
compra as brigas com as grandes empresas da internet por causa própria.
"Essa crise não atinge tanto autores best-sellers, como eu, que têm poder
de negociar, mas faz com que muitos novatos ou escritores menos conhecidos
percam seu meio de sustento."
Scott perdeu uma dessas
batalhas, recentemente, quando a Suprema Corte americana permitiu a importação
e revenda de edições internacionais de livros de autores americanos
""em geral mais baratas e pelas quais, diz ele, os escritores quase
nunca recebem.
Sites como Yahoo! e Bing
também não são perdoados pelo autor. "Se você procurar livros digitais
grátis do Scott Turow nesses sites, virão várias páginas promovendo material
pirateado. Com anúncios ao lado, pagos para esses sites, que não trabalham de
graça."
Scott terá um descanso das
brigas, em breve e no Brasil. Ele participa da primeira edição do evento
Pauliceia Literária, da Associação dos Advogados de São Paulo, entre 19 e 22 de
setembro, que vai abordar a relação do direito com a literatura. O festival
ainda terá o escritor português Valter Hugo Mãe e o mexicano Juan Pablo
Villalobos.
IGUALZINHO AOS EUA
"Sou fascinado pelo
Brasil, é parecido com os EUA, do tamanho às riquezas naturais, da história à
escravidão", diz
Às vésperas de lançar seu
décimo romance nos EUA, "Idênticos" (sai em março no Brasil, pela
Record), ele não esconde a empolgação em conhecer Fernando de Noronha. Sua
terceira viagem ao país terá dias de descanso, entre Bahia, Rio e Pernambuco.
Ele lembra com gosto de
sua visita a uma livraria paulistana, em uma sexta-feira à noite, em 2011,
"onde mal dava para circular de tanta gente". O país tinha mudado
muito desde sua primeira visita, em 2003. "Acompanho o Brasil com grande
interesse."
O autor justifica porque,
mesmo sendo um campeão de vendas há muitos anos, nunca deixou de trabalhar como
advogado em um grande escritório. "Não é só por fonte de inspiração
literária, não. Ser advogado me ensina muito. Me faz ter tantas experiências de
vida que evitei qualquer tentação de virar escritor 100% do tempo."
Mas ele anda melancólico
com a profissão, o que ficou explícito no último romance, "O
Inocente", de 2010 (Ed. Record), continuação de seu livro de maior
sucesso, "Acima de Qualquer Suspeita". "Houve diversas mudanças
no direito nesses últimos 25 anos e há uma comercialização excessiva do dia a
dia, cada vez mais dependente de interesses corporativos."
Scott, que tem trabalhado
pro bono ""sem cobrar honorários"" em diversos casos
recentes, dá o exemplo de um advogado de um grande escritório de sua cidade,
Chicago, que ganhou quase R$ 20 milhões no ano passado. "Já sei que serei
odiado pelos colegas por dizer isso, mas me pergunto o que faz um advogado para
receber tanto dinheiro."
Para ele, a profissão está
em crise nos EUA, tornando-se cada vez mais desigual. "As faculdades de
direito ganham muito dinheiro e despejam no mercado milhares de recém-formados,
que não acham emprego. Os portões da profissão deveriam estar mais
fechados", argumenta. "Há os advogados de elite que ganham milhões e
uma maioria trabalhando por muito pouco."
Scott também discute como
os julgamentos nos Estados Unidos viraram uma espécie de reality show.
"Uma câmera muda o comportamento de todo mundo: do juiz, das testemunhas,
dos advogados. Mas é permitido pela lei, para que atinjam uma audiência
maior", diz. "A Suprema Corte não permite. Os juízes de lá não se
deixaram virar personalidades televisivas."
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