|
Salvador Dali – Loucura e
Maldade
|
Loucura nossa de cada dia!
Uma cidade é o delírio de
seus loucos! Certamente, tal afirmativa lhe causará espanto e plantará a dúvida
sobre minha própria sanidade. Ainda bem!
Os traços históricos de um povo, em algum momento, se cruzam com a existência
marcante de um, ou vários, loucos. Assim foi com Dona Maria, a Rainha Louca;
com o Imperador Romano Nero e outros tantos. Também nas artes e na filosofia o
estado de alucinação marcou a carreira de muitos gênios. Van Gogh é só um dos
exemplos mais marcantes. Fernando Pessoa teve sua genialidade contestada ao
confundirem a grandeza da sua heteronímia com esquizofrenia. Nietzsche é
considerado, por alguns, como louco, justamente, pelo seu excesso de lucidez.
Em sua obra ele nos dá pistas de que já antevia essa denominação: “E aqueles
que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam
escutar a música”.
Em Elogio da Loucura, de
Erasmo de Rotterdam, é a própria loucura quem nos afirma que “ Tudo o que o
louco tem na alma está escrito em seu rosto, e sua boca o diz sem disfarce.”
Além de nos falar de sinceridade, a loucura também associa a sua existência à
felicidade: “Sempre alegres e contentes, eles não apenas brincam, cantam,
riem e divertem-se sem parar, mas também
espalham as brincadeiras, os risos e os prazeres sobre todos que os cercam.”
E assim será. Os loucos continuarão a marcar
seu tempo, espalhando risos libertos, olhares desnudos, ideias geniais, em
qualquer era ou lugar!
Uauá não foge à tônica da
loucura necessária. Parte das lembranças mais pitorescas e doces que nós
uauenses carregamos deve-se a tantos loucos que habitaram o nosso imaginário e
provocaram nossos medos pueris.
A minha infância foi recheada pela presença
desses loucos ilustres: a alegria e afeição do Eurico “Tem dono” por bicicletas.
– Tem dono ô não, tem dono ô não?- Gritava ele ao encontrar uma bicicleta
parada, e lá se ia pedalando. O Pedrinho do Lixo e seu paletó impecável,
participando do concurso de músicas juninas: - Mamãe, o boi do pintadinho, olé,
lê, lê, entrou no ‘lagadiço. Mais tarde, o cantor uauaense Nilton Freitas fez
uma canção homenageando a doce loucura do Pedrinho.
As músicas boêmias entodas
pelo Caçulo e seus diálogos intermináveis com Deus. Tantas verdades escondidas
em seus devaneios.
Há em nós, latejando ou
dormente, uma loucura que nos faz crer em um mundo melhor, que nos incita à
criação, ao engenho puro da poesia nossa de cada dia! Ai, do universo não
fossem os seus loucos para quebrarem a morbidez da normalidade. Fazer germinar
um olhar puro para a vida, viver sem as caretas impostas pela sociedade.
Seja nos versos brotados
nos becos e bares, nas canções dedilhadas ao fim da tarde, nas tintas ou no
simples vaguear pelas ruas... Uma cidade é o delírio de seus loucos!
Erika Jane Ribeiro (Pók Ribeiro). Poeta, cronista, professora de Língua Portuguesa, oficineira, articuladora textual com adolescentes e blogueira. Natural da cidade de Uauá – Bahia, terra iluminada pelos vagalumes e com forte veia cultural, foi acolhida pelo Rio São Francisco desde os idos de 2000 quando iniciou o curso de Licenciatura em Letras pela UPE/FFPP em Petrolina - PE. Já em 2010, concluiu o curso de Direito pela UNEB em Juazeiro – BA e, em 2012, especializou-se em Direito Penal e Processo Penal. Amante da literatura desde sempre, começou a escrever poemas por volta dos 12 anos. Em 2007 lançou, numa produção independente, o livro de poemas “Noites e Vagalumes”. Atualmente, além de poemas, escreve crônicas, memórias literárias e arrisca-se em composições musicais, em parceria com amigos músicos. Página na internet: Vagalumes, poesia e vida
Um comentário
Texto Maravilhoso! Cada um com sua loucura 'local'. Parabéns Erika Jane (Pokinha). Sucesso sempre!
Luis Sena (Lula)
Postar um comentário