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Foto de David Jay, 2011.
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Meu corpo, minhas marcas, minha história
Um carro passou por cima de mim e da minha autoestima.
Mudou minha história, mudou meu corpo, mudou o meu “trepar”. Mudou tudo
Cicatrizes. 23 anos. 30 janeiro de 2010. Neste dia
ganhei três marcas que estão no meu corpo por toda a vida. São elas: braço
esquerdo com 5 pinos e 23 marcas decoradas com quelóides, um enxerto nas costas
de 30×30 centímetros, na perna esquerda no mesmo tamanho para dar o tom. É,
isso, foram 2 meses de hospital. Um carro passou por cima de mim e da minha
autoestima. Mudou minha história, mudou meu corpo, mudou o meu “trepar”. Mudou
tudo.
Eu fiquei um ano sem ir para praia por vergonha do meu
corpo, um ano sem usar salto (nunca fui fã também rs), um ano sem usar calça
jeans (amei e aprendi a comprar vestidos) , um ano sem beber e fumar (se você é
da boemia vai te doer), e um ano e dois meses sem sexo porque achava que nunca
mais alguém ia gostar de uma mulher defeituosa.
Num dia, uma amiga da minha mãe me perguntou como eu ia
casar agora com esse corpo. Respondi: se você conseguiu meu bem, qualquer um
consegue e soltei uma gargalhada. Ela foi embora. E, após isso, tive uma noite
com choros e antidepressivos. Um dia, beijei um cara que se recusou a transar
comigo. Disse que eu era legal, mas que ele não topava as minhas marcas. Mais
um semana de choros, lagrimas e antidepressivos. Nas praias cariocas eu já não
era mais admirada também. Doeu, rendeu lágrimas e remédios …
Eu poderia ficar aqui dizendo a vocês o quanto sofri e
afirmar, com certeza, que não é nada diferente do que sofre uma mulher com
estrias de gravidez, acima do peso, com celulite ou marcas de uma guerra. Em
nome de uma beleza pré-montada, essa sociedade mata milhares de mulheres que se
submetem a mesas cirúrgicas, com o objetivo de adequar-se a essa beleza irreal
e vazia que é mostrada nas passarelas, revistas e novelas do Brasil .
Digo sim, do Brasil, pois hoje somos um dos campeões em
cirurgias plásticas no mundo. Em nome dessa ” mulher” magra, de cabelo liso,
peito e bunda grande. É por causa desse estereótipo machista que
meninas/moças/mulheres contribuem ainda significativamente para aumentar o
consumo de antidepressivos no País.
A minha história é para dizer a vocês que não é
necessário mudar seu corpo, e sim, mudar de grupo, de homens/mulheres que vocês
tem como amigos, peguetes, namorados, maridos ou afins que matam sua autoestima
aos poucos. Alguém que julga um corpo é vazio. Você deve ter pressa e fome de
conhecer gente livre desse tipo de julgamento idiota. Corra e grite contra
isso!
Não é facil, eu sei. Quando o primeiro cara me rejeitou
achei que não tinha mais jeito. Depois conheci um cara legal e fui para cama
com ele. Antes, contei que tinha marcas, como seu eu tivesse duas vaginas ou
duas cabeças. Disse: “Olha, eu durmo contigo, mas eu marcada e tals”. Ele tirou
minha roupa e nem prestou atenção em nada (confesso que nem eu, depois de tanto
tempo sem fazer). E, depois disse: “Olha, seguinte, tu tem que relaxar garota.
Tu é gostosa. É uma mulher. E as marcas são lindas porque mostram sua força.
Vão te julgar a vida toda, se tu for gorda/magra, velha ou nova, negra ou
branca. Você tem que se livrar do preconceito contra você mesma”. E, assim,
ficamos amigos e segui meu caminho.
Ah, esse momento me transformou em uma mulher que hoje não
tem medo de transar, trepar, fazer amor na primeira ou na décima noite. Hoje,
coloco biquíni, mini-saia, shorts curto, calcinha sexy, blusa sem manguinha.
Amo minhas marcas, amo a mulher que me tornei, sabe.
Depois dele, tive alguns outros homens/namorados/peguetes/casos
e nenhum deles julgou meu corpo, meus quilos a mais ou a menos. Tivemos
inúmeras brigas, tiveram traições, tiveram desamores, teve amor demais, tiveram
incompatibilidades e até barraco para apimentar. Porém, nunca questionaram
minhas marcas, nunca deixaram de me desejar. Sim, após meu acidente aprendi a
me relacionar com homens que não deixam jamais de chamar uma dama de “louca”
numa briga e que nunca olham só uma questão de um ser humano. A todos, meu
muito obrigada. Vocês merecem mulheres de corpo e alma.
As marcas me levaram a homens melhores, a amigos mais
nobres, a trabalhos mais bonitos e a transar de luz acesa. Ah, me obrigaram a
realizar meus sonhos e a me respeitar acima de tudo e atrair o respeito para
minha vida. Hoje, eu sou feita de corpo, alma, coragem, teimosia e um corpo
personalizado como todo o gênero que habita este planeta. Somos todos
indivíduos individuais deste universo.
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