CASAS, ESCRITORES & ESCRITURAS
Conheça as casas onde autores como Fernando Pessoa,
Tolstoí, Scott Fitzgerald e tantos outros escreveram suas obras. Apesar de
muitos autores serem nômades, todos possuem uma característica comum, gostam de
passar horas e horas em seus lares, são caseiros por natureza. Abaixo está uma
seleção que contempla grandes autores e seus lares.
Confiram:
1) CASA FERNANDO PESSOA, LISBOA – Foi o último endereço
do Pessoa das personas, que aqui viveu se esmilinguindo entre 1920 e 1935. Hoje
é um esfuziante centro cultural do município de Lisboa, dirigido pela minha
amiga Inês Pedrosa, com um sugestiva iconografia pessoana (dei palestras e
participei de debates no local, uma delas com o colunista da Folha de São
Paulo, João Pereira Coutinho, sobre ciência e literatura).
2) IASNAIA POLIANA, TOSTOI – Foi nessa propriedade
rural que o conde Leon fez sua aparição neste desenxabido planeta, e dela se
escafedeu aos 82 anos, meio lelé da cuca, mas não foi muito longe: estrebuchou
num soturno banco de uma estação ferroviária, a um tirico de garrucha, com uma
cara de Rei Lear fundido com o respectivo Bobo. E aí morreu, ploft!
3) BUENOS AIRES, JORGE LUIS BORGES – Placa na fachada
do prédio em que Borges viveu e sacou que a vida é um caminho que se bifurca em
caminhos que se bifurcam em caminhos que… “Em meus sonhos, nunca saí de Buenos
Aires…” E no poema intitulado Buenos Aires: “E a cidade, agora, é como um
mapa/Das minhas humilhações e fracasssos;/Desta porta, contemplei os
crepúsculos/E nesta coluna de mármore esperei em vão.”
4) CASA DE NIETZSCHE EM SILS-MARIA, SUÍÇA – O filósofo
bigodudo zanzou por aqui de 1883 a 1888, quando começou a deixar cair os
parafusos daquele cérebro avantajado e aforístico. A casa contém a maior
biblioteca multilíngue sobre sua filosofia às marteladas.
5) THOREAU, LAGO WALDEN – Achei que não podia faltar
uma casa ao relento: a floresta que Henry Thoreau, o autor de A Desobediência
Civil, se embrenhou para uma fuga meio proto-riponga da sociedade de consumo.
Mais tarde ele foi preso e, ao ser visitado no xilindró pelo seu compincha
transcendentalista Ralph Waldo Emerson, este repreendeu-o: “Pombas, Henry, o
que vc está fazendo aí dentro?” Resposta na lata: “E você, o que está fazendo
aí fora?”
A experiência legou uns versos singelos e bacanas:
“Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida…
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!”
6) CASA DE RIMBAUD EM HARAR, ETIÓPIA – Rimbaud não
habitou exatamente aqui, mas sim nesta cidade etíope, e, como a lenda era
melhor que a história, quando ele morreu imprimiram este endereço, que continua
valendo até hoje. É um cantinho catita, pelo menos. É como o enfant-terrible
escreveu: Uma noite, sentei a Beleza no meu colo – e a achei amarga. Tell meu
about it, meu nobre colega, que por estas e por outras pendurou a pena aos 20
anos, virando comerciante de café, traficante de armas, fotógrafo e
explorador. Paulo Leminski declarou que,
se vivesse hoje, Rimbaud seria roqueiro. Deus nos livre e guarde.
7) CASA EM QUE SCOTT FITZGERALD NASCEU – O autor de O
Grande Gabtsby nasceu nesta casa linda de morrer, em Saint Paul, Minnessota.
Mais tarde, deu o nome aos bois: “Três meses antes de eu nascer, minha minha
mãe perdeu seus outros dois filhos. Acho que foi aí que comecei a ser um
escritor.” E depois? Bom, como ele resmungou, “as vidas americanas não têm
segundo ato.”
8) VIRGINIA WOOLF, MONK’S HOUSE – Ela saiu daqui para
dar um mergulho só de ida no rio Ouse. O marido, Leonard Woolf, era
obsessivamente meticuloso e manteve na vida adulta um diário no qual registrava
todos os dias as refeições e a quilometragem do carro. Aparentemente, não houve
nenhuma diferença no dia em que sua mulher se matou: ele anotou a quilometragem
do carro. Mas, diz sua biógrafa, a página dessa data está borrada, com “uma
mancha amarela pardacenta que foi esfregada ou enxugada. Podia ser chá, café ou
lágrimas. É o único borrão em todos os de um diário impecável.”
9) APÊ DE TRUMAN CAPOTE NO BROOKLIN – Falar o quê?
Lindo de morrer e ponto final. Parágrafo. E aí, comos os desafinados também têm
um coração, começamos a ouvir música para camaleões.
10) MESA REDONDA DO HOTEL ALGONQUIN – Está aprumado até
hoje, na 59 West 44th Street, em Manhattan. Poleiro de tantos escritores e
epigramáticos anglo-saxônicos. Voto em Dorothy Parker: “Tem de haver mais do
que isso na minha vida. Há menos que haja menos.”
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