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O QUARTO “F” DE D. PEDRO [Humberto Pinho da Silva]

O QUARTO “F” DE D. PEDRO


Por Humberto Pinho da Silva 

Após o Imperador do Brasil haver abdicado a favor do filho, reuniu na ilha de S. Miguel, sete mil e quinhentos homens. Obtido o apoio da Inglaterra e da França, rumou às amenas areias de Mindelo - povoaçãozinha do concelho de Vila do Conde, - no intuito de destronar o irmão, D. Miguel, e seus correligionários.

Sentindo fome, deambulou pela localidade, e avistou modesta locanda. Entrou, e perguntou ao taberneiro, se havia coisa que se coma. 

Prontamente, este, esclarecendo-o; disse que tinha: peixe de três “Fs”. 

Admirado com o que ouvira D. Pedro, interroga-o. 

- Que quer você dizer com os três “Fs”?

O vendeiro, que não conhecia o Imperador, apressou-se a esclarece-lo: 

- Há: faneca, fresca e frita.

Veio a faneca e veio o pão, e também o bom e saboroso vinho verde. 

Abancou-se o Imperador diante de larga e sólida mesa de pinho, escrupulosamente esfregada, e comeu com sofreguidão. 

Ao terminar o frugal, repasto, que lhe soube divinamente, o Imperador, para sua desdita, verifica que não trazia dinheiro.

Volta-se, então, para o taberneiro, e sorrindo: 

-Estava bom!; estava ótimo!; mas agora a faneca fica com mais um “F”.

- Como assim!? 

- Interroga atónito, o vendeiro.

De lábios a transbordar de risos, D. Pedro dispara: 

- Faneca, fresca, frita e… fiada!

Não posso asseverar se o taberneiro perdoou a divida, ao reconhecer o Imperador, mas creio que sim, ao saber que na praia havia sete mil e quinhentos homens armados. 

Também não sei esclarecer se D. Pedro liquidou o que devia. Sei que os liberais chegaram a Lisboa, após diversas escaramuças, e Mouzinho implantou as reformas que considerou necessária; mas com tantas nomeações políticas, que o funcionalismo público cresceu exageradamente.

Então, como agora, os oportunistas e os desonestos, são, quase sempre, os únicos que beneficiam das revoluções, que se fazem em nome do povo, e da liberdade.


Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ


Página na Internet:http://solpaz.blogs.sapo.pt/






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