Clarice Lispector e o seu
jornalismo introspectivo
por Viviane Mendes
Artigo publicado no site Obvious
Muito se conhece da
Clarice-escritora, entretanto poucos sabem da sua trajetória como jornalista.
Antes de produzir o seu
primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector já atuava na
Agência Nacional, órgão governamental da Era Vargas, que tinha parceria com o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), no qual exerceu o ofício de
tradutora. Depois foi encaminhada para o setor de reportagem, trabalhando como
editora e repórter e para o jornal A Noite. Também escreveu reportagens e
artigos que foram publicados nos jornais do Rio e em outros estados.
Logo depois trabalhou em
Correio da Manhã, Diário da Noite, Senhor, Manchete, Fatos e Fotos e Jornal do
Brasil. Escreveu cerca de 450 colunas que abordavam o universo da mulher e como
entrevistadora, publicou cerca de 100 textos e 300 crônicas. Também atuou, em
1952, no tablóide antigetulista chamado Comício, como Tereza Quadros e em 59,
utilizando o pseudônimo Helen Palmer.
Se por um lado, alegava
que detestava dar entrevistas porque a deformava, por outro lado, Clarice
gostava de entrevistar. Nelas, mantinha uma certa singularidade: o diálogo
introspectivo.
Era uma espécie de
pingue-pongue, quase um jogo de perguntas e respostas com algumas alternâncias,
juntamente com questionamentos que suscitavam um mergulho no interior dos seus
entrevistados. Segundo ela, era preciso se expor para conseguir captar a
confiança dos entrevistados, a ponto deles próprios também se exporem.
Em uma das entrevistas,
Clarice pede uma autodefinição à cantora Maísa: - Como é que você se define
Maísa? - Uma pessoa essencialmente boa de coração, bastante insegura, mas já a
caminho do encontro. Nunca fiz meu autorretrato.
Mesmo não tendo o
"enfoque jornalístico", como o Zevi Guivelder, chefe de redação da
revista Manchete alegava, Clarice domava bem a arte de "olhar para
dentro". Isso já bastava.
Viviane Mendes
22 anos. Estudante de
Jornalismo. No mais, gosta de Literatura, Fotografia e Cinema..
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