O mercado editorial sob a ótica dos escritores IV: A leitora que virou professora que virou escritora [Marcelo Spalding]
entrevista com Maria Helena Zancan Frantz
Maria Helena Zancan Frantz estudou letras e Romanística na Universidade de Münster, Alemanha, onde obteve o título de Magister Artium. Foi professora de Literatura do curso de Letras da Unijuí e também da rede estadual de ensino. A partir dessa experiência escreveu dois livros A Literatura nas Séries Iniciais, pela Editora Vozes e Vamos Brincar com Poesia, pela Editora Unijuí, voltados para o ensino da literatura na escola. Além destes, possui dois livros dedicados ao público infantil: Declaração Universal dos Direitos da Criança (WS Editor) e Palavra Faceira também pela WS Editor. Em 2012, publicou Um Amor Shakespeariano- Magia de uma noite de verão (WS Editor) voltado mais para o público juvenil. Nesta entrevista Maria Helena nos conta porque optou em publicar seus livros de forma independente.
Como e quando surgiu a vontade de ser escritora? Você já iniciou publicando em livros?
Difícil saber quando, até mesmo porque provavelmente eu nem tivesse consciência de que essa vontade estivesse à espreita dentro de mim. O que sei é que a leitura, desde cedo, entrou na minha vida com forte poder de fascinação. Desejo de desvendar os segredos de outras vidas, de descobrir outras possibilidades de viver, de expulsar a monotonia... Uma leitura sempre puxava outra. E de tanto ler romances, passei a ver o mundo como um grande livro de histórias: algumas que já estavam contadas e outras a espera de alguém que as pudesse contar. Então, ficava imaginando histórias para retalhos de vidas que encontrava pelo caminho. É o tal de “e se” de que nos fala Rosa Montero. Assim que fazia minhas anotações, registrava algumas ideias, mas essas acabavam escondidas numa gaveta. A poesia sempre foi outra paixão rivalizando com a narrativa. Através de minha mãe mergulhei desde cedo no ritmo dos poemas folclóricos, das quadrinhas, das cantigas de roda, das adivinhas... Mais tarde, como professora vivenciava muito a leitura de poesia em sala de aula, incentivando meus alunos a escrever e me permitindo também brincar com as palavras. Vários registros dessa época acabaram fazendo parte dos livros Declaração Universal dos Direitos da Criança e Palavra Faceira, que publiquei mais tarde. Acredito que o “como” e o “quando” começaram a se concretizar a partir de uma oportunidade/desafio feita pelo Professor Mario Osorio Marques, editor-chefe da Editora Unijuí. Daí surgiu meu primeiro livro, com um tema pedagógico: O ensino da literatura nas séries iniciais. Logo depois veio um segundo: Vamos brincar com poesia? Só um tempo depois veio meu primeiro livro para o público infantil: Declaração Universal dos Direitos da Criança. Esse foi um poema com o qual recebi o 1º lugar em um concurso de poesia. O poema foi publicado inicialmente numa antologia e só depois em livro.
Você tem belos livros publicados de forma independente. Por que você tem optado por essa modalidade de publicação?
Porque é muito difícil conseguir espaço em editoras que bancam o livro. A demora em uma lista de espera é sempre muito grande. Espera-se anos por um sim ou um não que acabam nunca vindo. Sabemos que a maior parte dos originais nem são lidos. Se você não tiver uma indicação, alguém que te apresente, aí fica ainda mais difícil. As editoras dificilmente apostam em autores iniciantes ou pouco conhecidos. Tenho visto muitos autores criando a própria editora para publicar seus livros. No caso de publicação por conta própria, você utiliza ou já utilizou alguma editora para o processo editorial e de divulgação ou faz diretamente com a gráfica. Todos os meus livros confio a uma editora que se encarrega do processo editorial e também da divulgação. Não fiz nenhum diretamente com a gráfica.
Como funciona a divulgação de seus livros e de seu trabalho em escolas?
Na minha região têm muitas professoras que foram minhas alunas e que conhecem o meu trabalho e então me convidam para ir às suas escolas. Participo também de dois importantes projetos de incentivo à leitura no RS. Um é do IEL – Instituto Estadual do Livro - o Autor Presente. Através dele tenho participado de encontros em vários municípios do RS. O outro é o projeto Autor na Sala de Aula da Editora WS, que editou alguns dos meus livros. Divulgo também o meu trabalho através da minha página na internet (www.literatour.com.br) e do blog.
O fato de residir no interior do Estado atrapalha de alguma forma sua carreira de escritora? Por quê?
Penso que o fato de residir no interior dificulta esse trabalho, principalmente no que diz respeito à divulgação e à comercialização dos livros. Sabemos também que a proximidade com o centro de decisões, as relações que se estabelecem, a inserção em grupos, a participação em eventos temáticos, contribuem muito para tornar um trabalho e seu autor conhecidos dentro da sua área. Não é à toa que as pessoas acabam se mudando para as grandes cidades quando decidem investir em determinadas carreiras, principalmente naquelas ligadas à arte. No interior ficamos bastante isolados. Principalmente no meu caso em que quase 500 km nos separam de POA.
O que você sugeriria para um autor iniciante que quer publicar seu livro, mas está em dúvida sobre qual a melhor forma de proceder?
A publicação de forma independente tem alguns prós e contras. Entre os primeiros, podemos citar a agilidade do processo e a liberdade na comercialização e na determinação do preço do livro, que pode ficar bem mais em conta, uma vez que se eliminam vários intermediários. Entre os contras podemos citar o custo do trabalho de editoração, bem como a dificuldade com a distribuição e a venda. No entanto, se você for bem sucedido com uma publicação, essa poderá financiar a próxima. O que considero indispensável antes de qualquer publicação é recorrer ao serviço de um bom profissional para fazer uma leitura crítica do seu texto. Não ter pressa em publicar e ser incansável na busca da qualidade do seu trabalho. O outro caminho é ter muita paciência e tentar a publicação por alguma editora.
Esse texto foi originalmente publicado no site: http://www.artistasgauchos.com.br/
Um comentário
Esta querida e inesquecível professora, Maria Helena Frantz, foi quem me ensinou a gostar de ler, la no ano de 1992 no curso de magistério em Ijui... com uma simples frase: escolhe um livro q vc acha q vai gostar, depois te ajudo a ir adiante! pensei q ela era d outro mundo pq sempre ganhávamos listas prontas de livros pra ler... mas ela sabia o q estava fazendo... aprendi amar a leitura... ela contava e lia historias durante as aulas... lembro da sensação maravilhosa q era escutar e ver ela d óculos caminhando pela sala lendo com seu livro na mão...Foi mágica a passagem desta prof pela minha vida... hj amo ler e tento fazer o mesmo com meus aluninhos da pré-escola .... Camila Loureiro dos Santos
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