Podcast
Brasil
Eles nunca estiveram na
crista da onda da Internet. Mas é graças ao público fiel, crescente e empolgado
que esses programas se mantêm. Mais que isso, geram escritores de sucesso,
elebridades disputadas e palestrantes requisitados. Conheça o agitado universo
dos podcasts brasileiros.
por Pedro Duarte
"Lambda, Lambda,
Lambda!", grita Alexandre Ottoni, para delírio do público. A referência ao
filme A Vingança dos Nerds, clássico de sessão da tarde de 1984, não é à toa.
Alexandre é o Jovem Nerd, um dos criadores do blog homônimo que, desde 2006,
produz o maior podcast do Brasil e um dos maiores do mundo, o Nerdcast. O
programa, com 347 mil downloads por episódio, é o maior responsável por
Alexandre e seu parceiro Deive Pazos, o Azaghal, serem webcelebridades. Em
eventos de cultura da internet, eles tiram fotos com fãs e são assediados - às
vezes do jeito mais nerd possível. "Uma vez ganhamos um Kratos e um
Obi-Wan Kenobi enormes", diz Alexandre, espantado com os bonecos
colecionáveis do jogo God of War e de Star Wars, respectivamente. Em eventos do
tipo em Manaus, Fortaleza, São Paulo, Recife ou Rio de Janeiro, a cena se
repetiu, graças a essa onda discreta, que cresce no Brasil. A mesma onda que
faz do cearense Jurandir Filho uma referência em filmes. Ele nunca estudou
cinema nem escreveu resenhas para jornais e sites. Mas, para as cerca de 80 mil
pessoas que baixam seu programa, ele tem mais influência que um crítico
tradicional. Conseguiu isso com uma linguagem direta, usando histórias pessoais
para ilustrar suas opiniões sobre filmes. E, para ele, seu podcast tem também
outro trunfo. "Mostrou que o nordestino pode fazer algo para o Brasil
todo, sem seguir o estereótipo do `programinha engraçadinho¿", diz.
Podcasts, para quem não
sabe, são programas de áudio periódicos que podem ser baixados em computadores,
tablets ou smartphones. Na prática, é um programa de rádio na internet, que
você ouve quando quiser. É um fenômeno velho para os padrões digitais: a
podosfera começou a ganhar força no País em 2005 como um espaço despretensioso
e informal de circulação de ideias. Hoje, esse clima permanece, mas muitos
podcasters (como é chamado quem faz podcast) viraram empresários, pessoas
influentes e ídolos. É um nicho - e esse é um dos motivos do sucesso e da
longevidade do formato - porque quase sempre são pessoas que resolvem falar de
um assunto específico para um público específico que quer ouvir sobre aquilo. E
ainda é informal porque jogos, música, cinema, quadrinhos etc. são tratados do
jeito mais "conversa entre amigos" possível.
OUVINTE
AMIGO
Quem faz um podcast acaba
tendo uma relação mais próxima com o público do que outros formadores de
opinião, como colunistas de revistas ou blogueiros. Para isso, os podcasters
fazem questão de, sempre que possível, falar de experiências pessoais nos programas.
É uma receita usada há décadas por apresentadores de mídias tradicionais. O
público cria empatia, se reconhece em situações e passa a se sentir próximo dos
locutores. "Há muitos podcasts em que ouvintes participam enviando
mensagens em áudio ou conversando com os podcasters durante os programas",
diz Lucio Luiz, jornalista especializado no assunto (e ele mesmo um podcaster).
Até aí, nenhuma novidade. Mas o formato do podcast permite que a interação seja
diferente. O fato de precisar baixar o programa e ouvir na hora em que quiser
torna a situação mais maleável ao seu dia a dia. Além disso, o contato entre
quem faz e quem ouve é invariavelmente simples - trocar ideias com o público é
essencial para o sucesso. E isso leva a situações inusitadas. "Já recebemos
convites para casamentos e, algumas vezes por ano, marcamos de tomar cerveja
com os ouvintes", diz Tato Tarcan, do Ultrageek, podcast sobre tecnologia
com 45 mil downloads em média. Essa relação gera um círculo virtuoso, que
aumenta a oferta e a demanda. "Todo ouvinte pode se tornar um podcaster, o
que, por sinal, é o caso da maioria", explica Lucio Luiz.
No Facebook, há um grupo
fechado, o PodcastersBR, em que ouvintes e produtores de conteúdo postam
episódios novos e falam sobre divulgação, servidores e equipamentos. Lá, eles
discutem tópicos como onde encontrar trilhas e efeitos sonoros gratuitos, qual
o melhor programa de edição, como otimizar o conteúdo para aparecer nas buscas
na internet, qual o melhor headset ou se vale a pena investir nos anúncios do
Facebook. Já o YouTuner é uma espécie de YouTube para podcast. São 274 títulos
com 20 mil horas de programação, dividida por temas específicos. É um prato
cheio para quem quer começar a escutar. Há também um aplicativo para iPhone, o
WeCast, feito para ouvir podcasts diretamente no celular. "Foi ouvindo um
podcast que tive a ideia de fazer o aplicativo", diz seu criador, Eduardo
Baião. Além disso, os comentários nos sites dos próprios programas geraram um
círculo social à parte. O Jovem Nerd percebeu o potencial disso e criou a
Skynerd, uma rede exclusiva para quem acompanha o Nerdcast e a programação do
site. Tudo isso representa a podosfera, que é frequentada por gente como Igor
Gudima, analista de desenvolvimento de vendas e ouvinte assíduo de 90 (noventa!)
podcasts. "Escuto no mercado, quando lavo a louça... Acho o efeito da
informação via áudio mais prático. Recebo os assuntos que gosto sem precisar
ler", explica.
EXPANDINDO
FRONTEIRAS
"Um ouvinte de
podcast vale por cem de mídias tradicionais", defende Luciano Pires, 56
anos, do Café Brasil, programa com 40 mil downloads que trata de assuntos
polêmicos do dia. Talvez a comparação seja exagerada, mas esse público é
poderoso. Segundo o Jovem Nerd, 47% dos ouvintes do Nerdcast afirmam comprar o
que é indicado no programa, como livros, jogos e brinquedos (entre blogueiras
de moda, tema potencialmente mais consumista que cultura nerd, essa taxa é de
60%). Muitos podcasters se transformaram em marcas. Um spot, inserção
publicitária em que a equipe fala de um produto específico por dois minutos,
pode custar até R$ 7 mil, valor mais alto que em grandes rádios. Já um programa
temático, ou seja, todo voltado a anunciar determinado produto ou serviço, é
negociado por até R$ 14 mil. E a publicidade nem é a maior fonte de renda dos
podcasts, representando 40%. A maior parte vem de participação em eventos,
palestras e venda de produtos com a marca do programa.
Mas nem sempre foi assim.
Há cinco anos, ninguém ganhava dinheiro com isso. Hoje, novos podcasts já nascem
com uma cara profissional, com áreas para anúncios, permutas com lojas online e
investimento em produção. Entre equipamentos de gravação e criação do site, a
equipe, normalmente formada por três pessoas, investe cerca de R$ 400. Um
podcast de sucesso fatura cerca de R$ 15 mil por mês. Alguns lucram mais de R$
20 mil, tanto que muitos se dedicam integralmente a seus programas. É o caso de
Jurandir Filho, que, além do RapaduraCast, lançou o 99Vidas, sobre videogames
antigos.
Além de dinheiro, podcasts
podem render credibilidade. Luciano Pires quer "desasnar" o Brasil, o
que já o levou a eventos como a Campus Party e o TEDx. Já Affonso Solano, do
Matando Robôs Gigantes, lançou o livro O Espadachim de Carvão e, em dois meses,
vendeu 10 mil cópias, esgotando a primeira edição - um feito no mercado
editorial brasileiro, que ele conseguiu graças a seus ouvintes. Com essa fama,
os podcasters mais conhecidos estão em diversos eventos pelo Brasil, como
naquele em que a dupla do Nerdcast dava autógrafos.
Mas a concorrência é
grande. São 300 podcasts brasileiros inscritos no iTunes, que contabiliza os
programas. E eles estão ampliando os temas. A maioria se dedica à cultura pop e
nerd, mas há outros conteúdos, como história, turismo e mercado profissional.
Eles atraem pessoas como o analista de sistemas Christopher Moura, que escuta
63 programas, especialmente os de empreendedorismo. "Cada vez que ouvia,
ganhava mais força para perseguir meus sonhos e trabalhar com o que
gosto", diz. "Abri minha própria empresa e estou a caminho da
independência financeira". Podcasts dificilmente criam webcelebridades da
noite para o dia, como o YouTube ou o Facebook. Mas o público conquistado é
fiel e duradouro. E é isso que eles querem.
COMO
FAZER SEU PRÓPRIO PODCAST
Nove dicas para você ter
um programa.
1. Tenha um headset, que
reúne fone e microfone em um só equipamento. É a opção mais barata e com melhor
qualidade de som.
2. Se houver mais de um
locutor, use Skype ou Google Hangout para gravar. Assim, não é preciso se
reunir fisicamente toda vez que fizer um programa.
3. Para editar, baixe o
Audacity, que é fácil de usar, leve e de graça.
4. Cuidado com direitos
autorais. Use sites como Jamendo e Freeplay, que oferecem músicas livres, para
usar em trilhas.
5. O podcast precisa de um
servidor. Você pode publicar em um blog, mas o mais profissional é registrar um
domínio e escolher uma empresa de hospedagem.
6. Crie um design próprio.
Mas, se preferir um pronto, use algum tema gratuito de serviços de blogs como
Wordpress.
7. Faça um feed, como o
Feedburner, do Google. Assim, quem assinar seu podcast será notificado
automaticamente quando houver um novo programa.
8. Instale o podpress, o
player mais usado entre os podcasters.
9. Agora é divulgar nas
redes sociais.
Foto: GettyImages
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