|
"Minha terra é o Amazonas, meu escritório Cuiabá e minha casa é o universo!!! Artista Anônimo Foto: Adriano Figueiredo Ferreira |
E o Morro acendeu
QUALQUER CIDADE É DE
TODOS
Andamos
por ela. Sentimos o chão, buscamos horizontes atrás dos edifícios, acompanhamos
as obras, vemos transformações, passamos pelas últimas casas na fronteira,
periférica, cartográfica, na janela em velocidade que divide espaços
Luis Segadas
A
cidade tem cores, sons, aromas, trajetos, entradas, saídas, promove encontros,
esbarrões nos fluxos que buscam a retidão. A cidade é das motos, escavadeiras,
dos cães que precisam atravessar e dos cadeirantes com suas rodas. A cidade
gera e integra diferentes necessidades humanas e não humanas. A cidade precisa
funcionar é a nossa casa, nos abriga e alimenta. O morador de rua apreende o
espaço para si. O parque é o seu jardim, o beco é o seu banheiro. Sua casa
espalha-se em terrenos segmentados pela ação inventiva humana.
|
Territórios |
Territórios
com fronteiras bem definidas, a cidade funciona com suas simbologias
governamentais, particulares ou comerciais. Os automóveis sinalizam suas
intenções no fluxo material e deslizante da vida. Piscam luzes, massas
semióticas ajustam interesses diversos. A cidade em primeiro lugar. É o suporte
poético que proporciona a ação. Ela merece o foco da sua reinvenção, também
pela arte, desconhece os encontros consequentes e simultâneos dos significados
que atrai.
A
Ação Poética, que propõe ocupar e intervir em territórios urbanos para
reinventá-lo em sua breve efêmera existência capta seus próprios
desdobramentos, registros e ressonâncias nas redes internéticas;Escreveu
a Professora Maria Thereza na página –Facebook –:
SOCIEDADE
DOS AMIGOS DO PARQUE DO MORRO DA LUZ: “O Parque do Morro da Luz, grande área
verde com vários espécimes de arvores, seis praças e muitas trilhas, clima
agradável, um oásis localizado no Centro da cidade de Cuiabá, patrimônio
municipal tombado em 1983, está abandonado, sujo, depredado. Uma curiosidade
grande toma conta das pessoas que há muitos anos o veem de longe. Falta-lhes
coragem para conhecer o Parque. Medo, muito medo. No dia 20 de maio de 2014,
enquanto ocorria a prisão de políticos depredadores em Cuiabá, nós do Coletivo
à deriva, subimos o parque do Morro da Luz com um grupo de 47 pessoas. Munidos
de lanternas e outras luzes, instrumentos musicais, objetos lúdicos, materiais
plásticos, poemas, imagens e projeções nós ocupamos a primeira praça do Parque,
a Zé Bolo-Flor. O resultado foi mágico. Dia memorável.”
O
Morro da Luz semiótico ostenta signos de abandono e perigo. Um território bem
definido nas linhas do google /mapa, terra no medo, onde é preciso coragem.
Reforçando as representações entre claro e escuro, noite e dia, esquecido na
escuridão política e ética do seu território livre, aberto, central, íngreme,
sujo, abandonado no centro da cidade, é hoje, um parque sexual, local onde se
negociam encontros escondidos. Quem vai ali não quer ser visto. Um parque sem a
presença do Estado. Um território solto onde impera a astúcia em seus
movimentos nos encontros humanos em busca de sexo, drogas e negócios das ruas.
Transeuntes vagam no símbolo vivo de uma cidade e dominam, reinventando o
espaço do tempo que parece passar, lentamente, no filme de suas vidas. Os medos
intimidam nossas coragens civis, mesmo um simples passeio no parque.
No
dia da intervenção, 20 de maio, o país acordou com notícias inéditas misturando
as páginas políticas e policiais. Importantes nomes do cenário oficial foram
constrangidos em suas privacidades por ordem judiciais apoiadas por forças
executivas armadas. Foram cumpridos mandados, prisão e busca, em diferentes
locais e personagens subverteram as relações de poder nas correntezas da
informação. Anulando câmeras de segurança, forças policiais com suas lanternas
buscaram o que estava oculto nas gavetas bem guardadas do Poder.
Simultaneamente, a ação de
ocupação do Parque Morro da Luz, no centro de Cuiabá, alterou o cotidiano de
seus frequentadores habituais. Exercemos o processo poético em tempo real, na
efemeridade do relógio contra o tempo, buscando conteúdo ocultos no descaso.
Apesar da ação apoderar-se da primeira praça, geograficamente, em suas trilhas
escuras que seguem parque adentro, prevaleceu o que nos observava com seus
temores a poucos metros na escuridão. Por que o Estado age neste e não naquele
sítio. Quais motivações envolvem suas execuções no cotidiano que nos atinge?
Precisamos de governos incompetentes à frente das relações de poder? Antigas
práticas obscuras agora recebem a luz? Neste dia o “Morro” acendeu, de repente,
aquele movimento poético, coletivo, desde às 17 horas, reúne suas coincidências
na potência do grupo que efetiva a ocupação luminosa. Naquela noite de 20 de
maio de 2014, já distante nas linhas de tempo, o Morro da Luz-Cuiabá-Mato
Grosso-Brasil, brilhou repleto de tantos significados como resposta de um
momento, de uma população, de novos pensamentos em cada esfera de poder
refletindo a energia dos holofotes brancos em seus mosquitos iluminados.
Veja mais no Blog do Segadas
Luís Segadas é artista visual com vivência no campo
do design gráfico, nas artes plásticas e processos digitais.
Contemporâneo, vê com interesse, na possibilidade
visual, a apropriação insólita e efêmera, rumo à abstração do mundo invisível.
Luis
Segadas works in the visual arts field. Has broad experience working with
graphic design and a variety of digital processes.
Um comentário
Está linda a revista, amigos, parabéns a todos vocês, Luiza De Marillac Bessa Luna Michel
Postar um comentário