Para
ler toda manhã
por Ricardo Coiro
______________, por favor,
não deixe que a sua esperança no amor sincero seja nocauteada por aqueles que
vivem a proclamar, aos berros, que o amor não passa de uma ilusão.
Não permita, em hipótese
alguma, que as mentiras recém-descobertas apaguem a sua fé na existência de
gente sincera e disposta a lutar, com unhas e dentes, para que a verdade – a
palavra sem máscaras e interesses egoístas – caminhe livre por aí.
Não autorize, nem sob a
mira de um revólver, que a sua capacidade de crer no carinho gratuito seja
fraturada pelos pontapés dos que têm o peito oco e assassinada pela leitura das
barbáries que, infelizmente, batem ponto no jornal de cada dia.
E mesmo que todos ao seu
redor se tornem seres desonestos e capazes de pisotear, sem culpa, a cabeça
alheia, ______________, não se sinta menor por ser o único – ou um dos poucos –
a começar pelo final da fila e a não enriquecer, corruptamente, do dia para a
noite.
Não se sinta covarde
quando optar por engolir sapos, aprisionar xingamentos e, sabiamente, correr
para bem longe de uma briga.
______________, na corrida
de cada manhã, junto com o suor que expele dos seus poros, para o bem da sua
saúde, expulse também os mais perigosos venenos que alguém pode conter: o
desejo de vingança e a inveja dos que têm mais.
Pare, de uma vez por
todas, de pagar na mesma moeda, pois agindo assim, muitas vezes, ao invés de
uma atitude nobre, você acabará copiando uma atitude ruim. Se o seu amigo não
procurar você, em vez de fazer o mesmo e contribuir para o esfriamento de uma
amizade, seja o responsável pelo reencontro: ligue, convide e vá até ele. E daí
que você fará o esforço maior? Lembre-se, sempre, o valor inestimável das
amizades. Quando a sua namorada for grossa com você, diferente dos gritos que
deu em ocasiões anteriores e de atitudes que só levaram a lugares ruins,
experimente cuspir paciência, desferir gentileza e bombardeá-la com sorrisos
que evaporam o ódio.
Não se deixe enganar pelos
comprimidos vendidos como se fossem verdadeiras passagens a paraísos. Quando,
por ventura, mesmo sem um tostão no bolso, você precisar viajar: leia uma
poesia do Leminski ou um conto do Cortázar.
Não tenha tanto medo da
morte, mas, por favor, dê mais valor à vida e não confie tanto na suposta
existência do dia de amanhã.
Uma vez por ano, se puder,
por uma semana, esconda o relógio, a agenda e o celular. E diferente do que faz
em sua rotina normal, dê voz de comando aos seus instintos: esqueça o horário
de almoço e coma só quando estiver com fome; não se obrigue a dormir depois da
novela e feche os olhos somente quando você estiver com sono; permita-se o luxo
de fazer apenas aquilo que você sente vontade e de se negar a realizar qualquer
tarefa que você comumente faz por dinheiro, carreira ou currículo.
____________, toda manhã,
depois do despertador e antes do pão na chapa, releia este texto em voz alta e,
se não for pedir muito, vez ou outra, finja que não ouviu a sua nutricionista e
mantenha o miolo todo no pão.
Obs: preencha as lacunas
acima com o seu nome e não tenha medo de falar sozinho.
Fonte:
Ricardo
Coiro
Vive entre o soco e o
sopro. Morre de medo do morno e odeia caminhar em cima do muro. Acha que
sensibilidade é coisa de macho e que estupidez é atitude de frouxo. Nunca
recusou um temaki ou um café. Peca todo dia. Autor do livro Confissões de um
Cafamântico.
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