Conversando
sobre Arte entrevistado o artista David Almeida
Quem
é David Almeida?
Sou David Almeida, nasci em
Brasília, tenho 24 anos. Vivo e trabalho na cidade, mais especificamente no
Guará, uma das cidades satélites de Brasília. Sou formado em artes visuais na
Universidade de Brasília desde 2012. Além de produzir no meu ateliê tenho uma
banda, a gente toca de vez em quando. Na verdade sou bem envolvido com música,
tenho alguns projetos alem da banda, mas nada profissional. Me envolvi com
alguns projetos independentes de artes visuais, fiz algumas produções
culturais, algumas curadorias. Mas passo boa parte do meu tempo no meu ateliê
mesmo.
Como
a arte entrou em sua vida?
Decidir estudar artes
visuais e assumir como vocação é algo relativamente recente. Não tive muitas
experiências em artes durante a minha infância, ou adolescência. Decidi
enquanto estava pensando nas possibilidades do vestibular e escolhi sem pensar
muito depois que visitei uma exposição no Espaço Ecco que tinha uma obra
maravilhosa do Nelson Felix, aquela das vigas douradas de poesia sustentando
blocos quadrados de mármore, e no piso de cima uma mostra com os oratórios do
Reza. E desde que tive essa experiência percebi que isso deveria fazer parte da
minha vida de maneira direta. Não sei exatamente se houve algum encantamento
pelas possibilidades materiais ou poéticas que me surgiram quando vi aqueles
trabalhos, mas queria tentar gerar essas experiências com as minhas próprias
mãos.
Qual
foi sua formação artística?
Como citei lá em cima,
estudei bacharelado em Artes Plásticas na faculdade, na Universidade de
Brasília. Durante a minha formação tive contato com artistas professores e
colegas jovens artistas da universidade que me influenciaram muito. Trabalhar 4
anos com programas educativos em espaços expositvos também foi extremamente
determinante pra minha formação como artista. Entender o olhar e as
possibilidades de fruição do outro sobre um objeto sensível, que na maioria das
vezes não tem interesse comercial algum como no caso do público escolar, me fez
entender bem o propósito mais sincero do objeto de arte. Dividi ateliê durante
boa parte de minha graduação também. E acho que essa 'formação informal’, é que
foi determinante pra me formar como artista.
Que
artistas influenciam em sua obra?
Nossa, muitos. Acho que o
primeiro que me vem à cabeça nesse momento é o Cildo Meireles, com sua longa
série de cantos. Na verdade pensei nele, porque estava com o livro dele e do
Waltercio Caldas do lado enquanto respondia as perguntas, então nem sei se é a
minha principal referencia diante de tantos outros que acesso diariamente. O
Amilcar me faz pensar na condição da forma, o Richard Serra me fez entender a
gravidade do preto. Frank Stella, na divisão pictórica de suas formas
concêntricas que não se tocam, me faz olhar pros encontros das lajotas do meu
chão de ardósia. Adriana Varejão, na sua série de saunas me atiça quanto a
possibilidade arquitetônica da pintura. Daniel Senise da mesma forma, me
fazendo olhar o chão com freqüência. David Hockney, Gerhard Richter e Lucian
Freud no inicio da minha formação. Acompanho muito alguns pintores novos como a
Gisele Camargo, que articula espaço em pintura como ninguém, Rafael Carneiro,
Ana Elisa Egreja. Tatiana Blass, que é uma das minhas pintoras favoritas
atualmente. Estudo muito pintura à partir de Paulo Pasta, também. Ah! E poxa, tenho
um banco de imagens não autorizado só com os amigos e conhecidos de Brasília:
Alice Lara, Clarice Gonçalves, Fabio Baroli, Camila Soato, Moisés Crivelaro,
Hermano Luz, Pedro Ivo Verçosa, Rodrigo Cruz. Tem muita gente que eu olho todo
dia.
Como
você descreve seu trabalho?
Meu trabalho é a minha
experiência de tempo e estado com o meu espaço simbólico, com o meu ateliê no
caso. É uma tentativa de entender esse lugar que me é intimo como um espaço que
me diz respeito, como extensão de mim enquanto corpo, mas também como um lugar
que pode dizer respeito a outros, que pode vir a ser ou ser identificado como
de vivência do outro. E essa relação se manifesta como objeto nas pinturas da
série do ‘quarto vazio’, que são pinturas figurativas de imagens fragmentos do
meu ateliê. Esse interesse veio do próprio movimento de se fazer pintura, que
surgiu da minha relação com amigos pintores. Percebia como a imagem que era
produzida dentro de meu atelie se alterava de acordo com o grau de intimidade
que eu tinha com aquele lugar. E cada vez que minha relação se estreitava com
meu lugar de trabalho, mais ele se manifestava, tanto no meu olhar, que já
procurava pequenos refúgios e superfícies sensíveis, quanto na pintura em
processo, instalada na parede sem cavalete. Então entendi a pintura como meio,
e como linguagem do espaço também. Engraçado que é um processo inverso ao do
contato com o lugar novo, do estado de viagem e da surpresa com o que
desconheço, onde todas as imagens são meio que sensíveis e ausentes de familiaridade.
Acho que tem muito a ver com esse exercício de enxergar a si mesmo com o
espaço, com essa insistência e necessidade de pertencimento. Acho que to indo
embora na conversa, né?
É
possível viver de arte no Brasil?
Ah, acho que sim. É processo
um pouco lento, mas a medida que seu trabalho é visto e inserido ele vai se
pagando e sustentando por conta própria. E uma oportunidade de visibilidade
leva a outra e assim por diante. Creio que é um processo natural da
profissionalização do artista, da assimilação do trabalho dele pelo mercado, e
acho que não é muito diferente aqui do resto do mundo. Afinal, é uma profissão
como qualquer outra e precisa ser remunerada, mesmo no Brasil com um mercado
tão heterogêneo e mutável.
Qual
sua opinião sobre o desenvolvimento da arte contemporânea em Brasília?
Não sei se consigo falar
tanto do desenvolvimento da arte contemporânea na minha cidade, do que era
antes e do que é agora. Sou tão novo nessa cena que já passou por tantas
gerações. Sei que existe muita gente produzindo coisas incríveis na cidade e
responsáveis por uma identidade cultural que se fortalece a cada dia. Tem uma
produção incrível de performance, corpo e política. Tem uma escola não formal
de pintura na cidade recentemente mapeada e mostrada na exposição ’20 - Pintura
e Pictorialidade em Brasília’ que aconteceu no TCU. Existe uma produção
crescente, forte e quase epidêmica de publicações independentes que tem ganhado
visibilidade no Brasil inteiro. Fora que tem crescido o número de espaços
autônomos e independentes de arte que estão se sustentando por conta própria e
fomentando boa parte dessa produção local. Claro, não está ideal. Ainda está se
formando consumidores de arte contemporânea na cidade, os artistas ainda estão
aprendendo a lidar com um mercado ainda em formação. Não se compara ainda a
estrutura e a circulação do mercado de São Paulo, por exemplo. Mas em termos de
produção, não fica nem um pouco atrás. Isso tudo estou falando porque vejo isso
no meu dia-a-dia, no momento presente, no meu contato diário com os colegas de
percurso. Imagina quem já observa a cena a anos e participou de vários momentos
dela
.
Você
acabou de ser selecionado para o Salão Anapolino, que você pensa sobre os
salões de arte? Alguma sugestão para aprimorá-los?
Eu acho uma plataforma
necessária. É um meio de ser visto, do seu trabalho ser identificado por
curadores, ser pinçado por galerias. E é bem aquilo que eu falei também, um
salão te leva a outro e assim você vai sendo visto por pessoas que precisam ver
seu trabalho. E é um modo de se mostrar firme com sua produção. Um ano você não
é selecionado, mas no ano seguinte o mesmo curador verá a regularidade de sua
produção, a entender de uma outra forma. Bom, sou bem novo nesse circuito, mas
talvez abrir mais espaço pra produções fora do eixo. Alguns salões de SP acabam
sendo bem fechados, por exemplo.
O
que é necessário para um artista ser representado por uma galeria?
Acho que o que é necessário
pra um artista ser representado por uma galeria seria o próprio interesse da
mesma na poética do artista e do potencial dele de mercado. E isso vem desse
processo de visibilidade também. As vezes acontece de ele ser identificado
pelas galerias em pleno inicio de carreira, ou do galerista gostar do trabalho
dele numa análise de portifólio. Não sei se tem muito segredo.
O
material nacional para pintura já tem qualidade adequada?
Você diz material artístico?
Poxa, quebra um galho, eu diria. Eu tenho usado muito em meus trabalhos. Claro,
não chega a ter uma qualidade primorosa de pigmento e aglutinante como é o caso
de algumas tintas internacionais. Mas é complicado trabalhar com tinta
internacional, principalmente em Brasília. Elas são muito caras e como tem
pouca procura acabam envelhecendo nas prateleiras. E quando você compra, elas
já estão ressecadas e são difíceis de se diluir. Ainda mais quando você
trabalha com grandes formatos. Então as nacionais me atendem bem pela
praticidade, mas a qualidade ainda é bem ok.
Mas se estiver falando sobre
material acadêmico, de estudo e tradição de pintura no Brasil, nossa não sei se
é preciso falar.
Qual
o significado da Residência Artística na FAAP, para o qual você foi
selecionado?
A experiência da Residência
da FAAP é uma oportunidade incrível de troca. Acho que toda as residências tem
esse principio de troca com seus pares, com a cidade que não é familiar, de
entrar em contato com outras manifestações culturais. Acho que o que eu mais
espero dessa experiência é entender como a minha pesquisa e meu interesse pelo
espaço se manifestará num lugar que não faz parte do meu cotidiano, que terei
que tecer relações num curto período de tempo, onde poderei entender todas
essas coisas que me movem de uma outra maneira. Se bem que não é um lugar tão
estranho assim, já tenho algumas memórias e vivências com a cidade. Mas essa
experiência de deslocamento sempre te faz entender o porque de você carregar
algumas bagagens consigo.
Quais
são seus planos para o futuro?
Os planos pro futuro? Continuar produzindo,
enquanto isso for verdade pra mim.
Anapolino 2.
Anapolis 1.
Remota 10.
Remota 18.
Altered.
Remota 11.
Remota 12.
Remota 17.
Remota 1.
David Almeida
Bacharel em artes plásticas
pela Universidade de Brasília. Durante sua formação teve contato com os
professores artistas Pedro Alvim, Elder Rocha, Marília Panitz e Vicente
Martinez, responsáveis pela formação de grande parte da geração atual de
artistas atuantes em Brasília. O seguimento ‘ele estava de pé em um quarto vazio’ passou pela
orientação de Gê Orthof, no segundo semestre de 2012. Em 2013 foi premiado no
12º Salão de Arte de Jataí, e participou, no mesmo ano, dos salões 19º Salão
Anapolino de Arte, 20º Salão de Arte de Praia Grande e da feira de arte
Novos Eixos, realizada pela Referencia Galeria de Arte.
Currículo
2010 - Presença das Idéias – Exposição
coletiva – Galeria UnB
2011 – 1º Salão
Universitário Paralelo de Artes Visuais – Galeria UnB
2011 – 2º Salão de Artes
Visuais das Regiões Administrativas do DF – Galeria Van Gogh
2012 – Havia um ar de Leveza
– Exposição coletiva – Aliança Francesa
2013 – Exposição de
Diplomação 2/2012 – Espaço Piloto
2013 – 12º Salão de Arte de
Jataí – MAC Jataí – Artista Premiado
2013 – 19º Salão Anapolino
de Arte
2013 – 20º Salão de Arte de
Praia Grande
2013 – Referencia Feira de
Arte – Novos Eixos – Referencia Galeria de Arte
2014 – Exposição coletiva
BRAZIL: ARBEIT UND FREUNDSCHAFT – Espaço Pivô
2014 – 42º Salão de Arte
Contemporânea Luiz Sacilotto
2014 – Iverossímeis,
Diálogos – Exposição Coletiva – Espaço Piloto
2014 – SP ARTE – Brasília –
Stand Referencia Galeria de Arte
2014 – Elogio ao Obstáculo –
Exposição Individual – Galeria Inverso
2014 – 20º Salão Anapolino
de Arte – Artista Premiado
2014 – Retrato Brasília –
Exposição Coletiva – CCBB Brasília
2014 – Feira Artigo – Stand
da Orlando Lemos Galeria – Finalista do Premio Obra Revelação
2014 – 20 - Pintura e
Pictorialidade em Brasília de 2000/2014 – Espaço Cultural Marcantonio Vilaça
Release curto:
Formado pela Universidade de Brasília em 2012,
construiu uma formação em pintura durante toda a graduação. Através de sua
pesquisa mais recente, ‘ele estava de pé em um quarto vazio’, uma análise do
espaço intimo por meio de pinturas-instalações, participou de importantes
exposições nos últimos dois anos. Premiado em 2013 no 12º Salão de Arte de
Jataí e em 2014 pelo 20º Salão Anapolino de Arte, esteve presente em coletivas
como BRAZIL: ARBEIT UND FREUNDSCHAFT no Espaço Pivô, em São Paulo, SP ARTE –
Brasília e Retrato Brasília no CCBB Brasília.
Marcio Fonseca,
1943. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Responsável pelos blogs
art&arte marciofo,ocacadordeobjetos.blogspot.com e imagemsemanal
juntamente com Brenda. Professor Adjunto Fac Med UFRJ e médico inativo;
Estudou pintura e história da Arte com Katie van Sherpenberg e Arte
contemporânea com Nelson Leirner http://arteseanp.blogspot.com.br/
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