"HÁ
CONTROVÉRSIAS": UM MODELO DE NARRATIVA
Ronaldo
Werneck faz da crônica vida. Do fértil e importante provincianismo de
Cataguases, cidade-ícone com sua reserva de ternura, ao cosmopolitanismo
europeu e asiático da vivência do cronista cada página tem uma pulsação
cultural própria, todas enfeixadas num estilo arisco, dinâmico, atualíssimo.
Além
da profusão de assuntos o cronista se reinventa em cada texto, nunca se dando
por satisfeito, donde ponderar, quase sempre, haver controvérsias.
Suas
crônicas recarregam as épocas de significação, satisfazendo a memória de quem
foi lúdico na infância e na adolescência e foi adulto num país de exceção. De
quem viveu o cinema no cinema e felineou a vida como Amarcord. De quem
vivenciou bem a bossa nova, as Copas do Mundo, os festivais de música. De quem
sempre teve com o Rio uma cumplicidade profunda. De quem estendeu um círculo de
amizades cuja raiz traz à tona experiências existenciais arraigadas em porres
de vida com todas as facetas.
HÁ
CONTROVÉRSIAS é plurivalente e surpreendente: há sempre uma palavra a seduzir
numa narrativa veloz que arranca de si mesma o mundo macro/micro mágico,
realista, poético, fílmico, musical, teatral, futebolístico, amoroso, fecundo
até quando subentende a natureza da própria crônica.
Os
registros são deliciosos fatos pinçados para encantar os leitores, memórias,
ousadias, buscas existencialistas, poéticas inusitadas, feedback e proposições
de histórias de gente que perpassa ao longo da existência fértil, sábia,
porralouca, lírica, cinematográfica em muitos sentidos, pronta para jogar na
cara do leitor uma vida em trânsito mas com alguns portos de conhecimento que
envolvem o leitor em sua própria vivenciação de tudo que emociona, exaspera,
ilude, conflitua, constrói, faz o ser humano ser melhor.
E há
em tudo um prazer muito grande em saborear textos em nada caretas ou
convencionais, mas velozes, com uma dicção nova para o cronismo brasileiro. Às
vezes o autor monta um texto como Godard faria com um filme. Às vezes o texto é
a surpresa de se identificar nele o inusitado, o neologismo, o quiprocó, o
lance de dados.
O
autor destila uma cultura básica da (pós)modernidade, materializando em seus
pensares o existencialismo que sobressalta de Rimbaud ao Cine Edgard, de um
campo de futebol a sabores muito peculiares, de coisas especiais que arrasam na
Conceição a lusco-Fuscos, de um ter filhos (e amá-los) sem ufanismo, de
privilégios de ser amigo de vips e de personagens cataguariocas que sustentam
os pilares da memória que escreve.
HÁ
CONTROVÉRSIAS é um exemplo da crônica nacional. Um marco que sem preconceitos
ou frescuras faz da crônica uma voz ativa na comunicação de vivências. É a
mineiridade universal.
Ronaldo
Werneck cria a própria crônica para a crônica-contra-estilo. Faz lembrar o que
foi bom porque vivido com a gula de quem com inteligência sabe tirar proveito
de lembranças: "aquilo que do sujeito emana e se escapa." Uma lição
de vida para quem vive de futuro.
Márcio
Almeida
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