Penduricalhos
por Nanda Loureiro
Artigo publicado no site Apartamento Azul
Carregava no peito tantos sonhos que evitava titular-se um
sonhador. Perguntavam-lhe qual era a coisa que mais almejava e não sabia
responder. Andava olhando pro chão, os penduricalhos
dançavam no mesmo ritmo que os pés. Em um dia cinza o encontrei. Não
tínhamos assunto, mas quando seus dedos magros tocarem-me a cintura, o
reconheci. Não, não havia o visto jamais, mas aquele sorriso me era
conhecido. Contou-me seus segredos enquanto olhávamos as estrelas e
desejava caminhar com ele por elas de mãos dadas, voando pra longe do
cosmo.
Parecia rude, mas seu sorriso indicava-me afeto, ainda que ele
não assumisse e por ventura negasse. Disfarçava o riso, mas seus olhos o
mostravam feliz. Me contou que tinha pressa em ter paz, mas sempre
tropeçava nos próprios pés e confessou-me que por aquele motivo andava
olhando pro chão. Àquela altura queria curar o desamor que ele deixava
transparecer quando contava das pernas de outras mulheres, mas quando
tentei dizer-lhe que conhecia-lhe de outrora, só consegui sorrir.
Quando voltei pra casa, tentei entender o que tudo significava e
não obtive respostas. Revivi cada segundo buscando entre as entrelinhas
só uma mísera pista de que, talvez, quem sabe, por sorte, ele estivesse
confuso naquele momento também. Em vão, perdi meu sono. Perdi meu sono
por várias noites. Quando o beijei, os últimos anos perderam um pouco de
sentido. Todas as dores ficaram invisíveis por um segundo e cada
detalhe pareceu levar-me até aquele momento.
Tentei durante semanas classificar os meus sentimentos, mas
sempre frustrada. Queria dizer-lhe que estava gostando, apaixonada,
amando, mas tudo parecia meio errado e, pra falar a verdade, ainda
parece. Eu ainda não sei o nome disso que me faz querer tanto saber. Eu
não sei o nome disso que me faz ter vontade de ir nesse momento até a
sua casa, bater em sua porta e tirar sua porta. Eu não sei o nome disso e
nem quero saber
Texto: Nanda Loureiro – https://www.facebook.com/adiosmarceline
Ilustração: Henrique Haroldo – http://behance.net/henriqueharoldo
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