Van Gogh
Pelas galerias do museu ela
parava diante de algumas obras e chegava a se confundir com elas. Era quase uma
mistura de pinturas de Van Gogh. Os Girassóis lhe douravam os cabelos com
toques dos Campos de Trigos.
Nos olhos trazia brilhantes
como das Noites Estreladas sobre o Róldano. Cores de uma ou outra Natureza
Morta lhe coloriam os lábios e a face e em sua respiração podia-se sentir uma
paz de Lírios do campo.
Era quase uma obra de arte,
feita com o capricho dos deuses, ao mesmo tempo delicada e forte. De aparência
tranquila, comum aos olhos de todos, mas ali dentro, um turbilhão.
Longe dos olhos que a
percorriam, por dentro, ela tremia mais do que folhas ao vento. Mais do que a
árvore onde o balanço da criança não para. E poucas pessoas seriam capazes de
lhe conferir a devida atenção, o devido afago, o silêncio que compreendia.
Como cada um que ali
passava, olhando os tantos quadros, ela se emocionava imaginando o desespero de
se pintar-se mutilado. Como deveria ser arrancar de si mesmo um pedaço por amor
(ou de amor)? E como seria olhar-se e saber que mesmo a parte amputada ainda
parecia estar ali?
Curioso é tentar arrancar o
que foi parte nossa. E ela tateava essa sensação agora. Sentia o formigamento
no peito que ainda sangrava, inapaz de cicatrizar-se tão rápido. Suportar dores
que sufocam, que apertam e que mesmo depois de curadas irão corroer algum
lugar, ainda que seja ali, em um cantinho da unha.
E o pintor se arrancou. Se
enviou em carta à amada. E se perdeu por julgar ter se encontrado nela. E se
perdeu de si. E saiu de si. E quantas vezes ela saiu de si para se achar e não
encontrou nada? E quantas vezes quis arrancar as próprias dores e jogá-las
fora? Inúmeras vezes, mandaria todas elas ao remetente,
presente-de-grego-devolvido.
Parecia uma expectadora
comum, admirando as pinceladas, sã, consciente da beleza da arte, mas era, em
verdade, muito mais do que isso. Era quem enxergava a pressa do pincel, marcada
pela agonia de se ser, de saber-se existir e de desejar sumir.
Comportava-se como mais uma
visitante da exposição, mas quase tocava o intangível momento em que se
finaliza a obra e não se dá nada por ela a não ser o título de desabafo.
Observava calada, mas
gritava uma compreensão que o artista, talvez, buscasse entres as cores e só
agora alguém respondia.
Dy Eiterer.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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