AS MULHERES POETAS NA
LITERATURA BRASILEIRA (34º post)
MARIA LUISA RIBEIRO (1954)
poeta goiana, é advogada, possui licenciatura plena em letras e português.Faz
parte da Academia Goianiense de Letras e da UBE, Goiás. Já publicou romances,
contos e literatura infantil. Em poesia publicou O Tempo Responde(1988), Além
do Alambrado(1990),O Pássaro de Bico de Ferro(2009) e Mergulho nos Poros.
MERGULHO NOS POROS
Aos poucos tu mergulhas
no fundo dos meus poros
na vã filosofia
que esconde os meus anseios
e no pico da neblina
que assusta os meus cabelos.
Sem pressa e com presteza
descobres meus atalhos
te mostras tão inteiro
que inibe os meus retalhos
me prendes nos teus olhos
e sossegas minhas dores.
É quando a flor da pele
se implanta no meu solo
e espalha um novo cheiro
na cava da rotina.
E a chuva cor de rosa
te entrega a mesma história
por trás das fontes
depois das mortes
além dos montes.
COLUNA DE PERNAS
Ao revés
da maioria de nós
são-me raras
as enxaquecas
e nunca cataloguei
tensões pré-menstrual.
Mas desde que nasci
carrego penas na coluna
porque meu coração
é a coluna do meu eixo.
E quando ele se dobra
ao peso das arestas,
incita-me ao diálogo
com minhas febres íntimas
que em reprise
pisam o meu chão fatigado
de promessas.
É esta dor sem nome
as penas que em mim
habitam
e o meu texto sentido
habilitam.
MÁSCARAS
Enquanto caía o pano
o espelho
refletia
a minha nova solidão:
findava-se a hora de
ângelus.
Agora eu era só
um tronco sem raízes
sustentando um galho seco
florado na primavera.
Sobrevivo
com a
sentença do teu nome
ecoando no meu peito
e continuo amando-te
além de mim.
E nesta parede, o espaço do poema
reservei às
nossas máscaras Top line.
SILHUETA DOS DÉDALOS
Na intensidade que cabe a
cada coisa
presume-se um quarto de espelhos
onde cada
lado reflete muitas faces.
Ainda não foi possível
entender
a silhueta dos dédalos
que permanecem
na alquimia dos homens
enquanto os espelhos se propagam
Assim, cada circunstância é uma esquina
onde os minutos fogem
pelos vãos do dedos
e a vida pulsa no conta-gotas das horas.
Permaneço na galeria dos
anônimos
enquanto redescubro
o segredo
dos instantes
multifacetados.
REGINA DAYEH (1954), poeta
carioca, passou a infância e adolescência em Santos. Mudou-se para São Paulo,
onde se formou em Direito no Largo de
São Francisco, em 1977. Foi professora universitária de Direito
Empresarial e é atualmente Assessora Jurídica do TRT-SP. Publicou apenas um
livro de poemas :Meu Pai Desenhava Navios, lançado no mês de maio deste ano.
POLTRONA
Quando me sinto cansada
não tenho urgência nas
palavras.
respiração pausada,
engulo a lágrima
preguiçosa
a fumaça tragada
encontra a fadiga em mim.
Afinal qual a resposta para
o cansaço?
minha poltrona recebe
o corpo jogado
balanço balanço
barulho leve
da mola enferrujada
embala embala
embaralha imagens
inúteis
largadas pelo caminho.
Minha poltrona é o colo
que tenho
embala embala...
Quando me sinto cansada
não vejo sentimentos
só meus pés inchados
de realidade.
FATO
Acabou de desabar um
edifício dentro da minha cabeça.
Pela vias laterais do
monumento
chega poeira
entulho
devasta defuma
a rua sem saída.
o fio solar mira na minha
retina
rompe o escuro
desenha
reta
a linha.
A vida continua
dizem os que passam.
Ante o imponderável
eu concordo
e respiro
e faço planos
para ocupar os espaços
abertos pelo esquecimento.
VIAGEM I
para Fernando Pessoa,
Lisboa, junho de 2009
Cada viagem solitária tem
seus encantos e seus infernos.
Naquelas eu queria ganhar o
mundo,
quanta pretensão...
Nesta eu quero ganhar o meu
mundo,
ganhar-me de volta,
quanta pretensão...
Parte de mim eu perdi em
viagens sem volta
enroscada em cipós
encalhada em bancos de areia
embicada em barrancos.
Não há resgate.
Que parte de mim
hoje vive sem mim?
Que parte de mim
se restaura a cada passo?
A cada viagem no tempo
deixo vazio o espaço que
sobrou entre nós
que se acomoda
sem conforto
no pouco experimentado.
Novas viagens
outros portos
janelas abertas.
E a areia fria e lavada de
cada manhã sob meus pés.
PACÍFICO
San Francsico, janeiro, 2012.
Esse mar
se apropria
do meu fundo
se encapela
no meu raso
esse mar
respinga sal
sobressalta
em mar pesado
pacífico
acinzentado
não é mar de azeite
espuma raiva
ensandece
e encontra a pedra
inutilmente.
LILA MAIA (1955) – poeta
maranhense, pedagoga, vive no Rio há 32 anos Tem dois livros de poesia
publicados: A idade das águas e Céu Despido. Em 1998, teve três poemas
publicados na Revisa Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional e conquistou, no ano
passado, o prêmio Paraná de Poesia, com o livro As maçãs de antes.
Quando o insuportável começa
a virar maré cheia,
me pergunto:
por que não me tornei
alpinista de empresa
escalando os prédios mais
altos da Avenida Rio Branco?
Quatro anos de Letras,
mais dois de Pós em
Literatura Portuguesa,
o curso completo de inglês
no IBEU,
não permitem que a mesa do
café seja invadida
de iogurtes, queijo branco,
uvas, kiwi, pêssegos,
mamão com mel.
Por que não me especializei
em alturas?
Uma estrofe de cor dos
Lusíadas,
não é suficiente para o
trabalho de Call Center
na empresa Silva Lins.
Era preciso ter um
diferencial na voz.
Mas eu disse um verso de
Camões.
E a menina ao meu lado,
estudante de Propaganda e
Marketing na Estácio,
saia justa, corpo bronzeado
de Ipanema,
um quê de rouquidão forçado
no final das frases,
sai com carteira assinada e
setecentos reais por mês.
AQUELA PERDIDA LUA DE
COPACABANA
Amores não correspondidos
são balas perdidas
em plena Avenida nossa
senhora de Copacabana.
Não ouvem a musicalidade
lógica das ondas
para calar o bêbado soluço,
a sina de carregar o corpo
deserto.
Tudo é avesso, naufrágio,
solidão velha
neste calçadão bordado de
prostitutas, pivetes.
Amores não correspondidos
nunca se apossam
das tardes lentas no Caminho
do Pescador.
A rede que devia partilhar a
carne,
recolhe homens, mulheres que
têm no peito
não um rio amparado por
estrelas,
mas uma Bagdá de abandonos.
Quarto alugado
Tudo tem a dureza de muitos
degraus.
Um esgrimir que corta aquele
feeling
de perceber encantamentos.
Até a cama não comporta o
meu desejo par.
É ímpar a saudade dos livros
espalhados na mesa.
Hoje, Clarice e Drummond
continuam na mala.
E aquela voz que lapidava
escuridão e chama,
quando eu tinha o direito de
dar
nomes ao silêncio,
agora vive como se estivesse
olhando a presa.
QUASE LAMENTO
Desses sonhos mais simples
Deus não sabe
Nunca sentirá o prazer de
ter livros na estante
e da falta que fazem uma
mesa, quatro cadeiras,
um colchão de casal
Ele não compreende aquela
janela inquieta,
as paisagens que transbordam
livres
Deus é o que há de mais
interminável em mim: a dor
Mas eu bebo do cálice
como do pão
às vezes ofereço a outra
face por amor
O tempo segue com seu fogo
milenar
Eu passo o pente nos cabelos
sobriamente
Sobrevivo diante dos
mistérios,
e desta claridade que não
salva
O OLHAR MADURO DA ONÇA
Não se escreve um poema de
amor impunemente.
No desvão da noite uma onça
perpetua a sombra de fogo
sobre teu caminhar espaçado.
Há uma súplica com os
devidos ais prudentes,
a onça sabe onde derrama
seus passos.
Crava os dentes nesta carne
que tem cheiro de batismo,
o sangue suado da caça.
Que rara luz expressa teu
corpo.
A onça é aos poucos
domesticável.
Não se escreve um poema de
amor impunemente.
CÉLIA MUSILLI (195 ) poeta paranaense, é jornalista,
cronista e . Autora de Sensível Desafio (2006) e Todas as Mulheres em Mim (
2010), faz Mestrado em Literatura na Unicamp e tem sonhos premonitórios. Gosta
de livros, viagens, estrelas e gatos, nem sempre nesta ordem
PRAZER
ainda que
o que me instigue o corpo
seja breve
seja novo
será sempre
a lição sem fim
de redescobrir paraísos
perdidos
dentro de mim
SABEDORIA QUASE CHINESA
se alguém não te alimenta
inventa
uma manhã de sol
fruta fresca
chá de hortelã
para despertar a alma
com calma
que o dia apenas começa
e o amor não combina com
pressa
ROSA ÍGNEA
Abro e deixo
ao seu prazer de homem
a rosa
ígnea rosa
abro e deixo
ao seu prazer de fogo
líquen e caule
de novo
a conjunção da carne
entre as minhas pétalas
e as suas veias
paisagem em meu corpo
mergulho em seu mar
sereia
DELICADEZAS DOEM
porque há canções de chegada
canções de partida
o coração eu tomo pela mão
quebrável
no último beijo
transversal de línguas
poliglota
falo de amor
delicadezas doem
não sei se já disseram
mas você sabe matar pássaros
TODAS AS MULHERES EM MIM
a cada vez que ele volta
abro meus braços de rio
serpente do Nilo
Alice no espelho
estrela cadente
gata no cio
sereia de Ulisses
Penélope nua
queria tanto ser sua
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
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