Canção
Silenciosa
Conheço o silêncio. Já o
toquei a ponta dos dedos. Já vesti-me com seus sons mudos. Fiz dele meu lençol
para envolver os soluços que bebi em noites que foram mais escuras do que
deveriam ser.
Entendo o seu silêncio. Cada
palavra não dita. Cada coisa que seus olhos deixaram escapar em uma lágrima
teimosa ou que fugiram pelas molduras dos óculos.
Entendo os seus silêncios
porque já experimentei sabores semelhantes. Não que todos sejam iguais. O
silêncio e a dor do outro é sempre só uma estampa de camisa: vestimos a camisa,
não sentimos o desenho. O silêncio e a dor da gente é tatuagem, que marca, que
acompanha, que revela, mesmo sem palavra dita.
Compreendo o blues triste
que toca lá fora e se diverte com o olhar perdido de quem o ouve. Que parece
ter sido escrito para ser ouvido assim, em silêncio, vagamente, dolorido, uma
paixão quase tranquila de quem clama por um socorro que nem sabe se existe.
Compreendo o meu silêncio
feito das sombras que escolho para guarda-me dos olhares curiosos, das sombras
de tudo aquilo que faz parte de meu mundo, mas que fora dele não são
conhecidas.
Em alguns dias o silêncio é
mais do que necessário. É o elixir sagrado da paz. É a saída do caos. É o afago
na alma. O cuidado mais efetivo que podemos ter. É o cuidado de si precioso.
Tantos são os dias em que o
silêncio é o companheiro de luas, estrelas sem cintilantes, de vãos que não se
ocupam a não ser por ele, que tudo invade, que tudo completa, que tudo abranda.
Eu conheço os seus silêncios
porque tenho os meus e não cobrarei palavra alguma das horas que se perderam.
Todo o tempo – perdido ou não – é construção, por mais que castelos caiam e
pontes desabem, o tempo constrói até as ruínas.
O não dito, às vezes, revela
mais do que o que foi dito. E é preciso atenção. É preciso ter um ouvido atento
para que escute os gritos que lanço em meus silêncios, porque é através deles
que me revelo.
Dy Eiterer - Juiz de Fora,
Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia
ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com
"y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama
História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela
canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a
alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa.
Site:Dy Vagando
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