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Foto/Gabriel Soares |
Historiador desenvolve
projeto de leitura em regiões carentes
Há uma década, Clóvis Matos
realiza trabalho itinerário de leitura; em 10 anos, doou mais de 25 mil obras
A caminhonete Rural Willys
verde, intitulada “Furiosa”, chama atenção pelas ruas de Cuiabá. Na carroceria,
são carregados mundos de conhecimentos, através de livros de literatura.
O veículo abriga o projeto
“Inclusão Literária” e leva cultura para diversos municípios de Mato Grosso.
Dirigindo o automóvel, o
técnico administrativo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Clóvis
Matos, de 60 anos, orgulha-se da ação social, que está completando uma década.
A paixão de Clóvis pelos
livros surgiu na infância, quando morava no município de Iporá, em Goiás.
Apesar de o lugar ser
distante, o criador do “Inclusão Literária” conta que conheceu os primeiros
livros da vida a partir de hóspedes que passavam temporadas no hotel de sua
família. O primeiro grande livro ao qual teve acesso foi “Cem Anos de Solidão”,
do Gabriel Garcia Marquez.
“Na minha cidade não tinha
livraria, nem asfalto. Os turistas levavam livros, gibis e revistas, foi a
partir daí que comecei a me interessar pela leitura”, relembrou.
Formado em história, no ano
de 1992, Matos teve a ideia de criar o “Inclusão Literária” após trabalhar como
diretor de marketing em uma livraria da Capital mato-grossense.
Ele conta que criou um
espaço de leitura na loja, para que o público pudesse ler trechos das obras.
Porém, notou que muitas vezes os leitores iam diversas vezes ao local, para que
pudessem terminar de ler os livros, sem comprá-los.
“Eu percebi que as pessoas
terminavam de ler na própria livraria, sem comprar os livros, porque eles eram
caros. A partir de então, tive a ideia de facilitar a leitura para quem não
tinha condições financeiras”, explicou.
Criado em 2005, o “Inclusão
Literária” marcou uma nova fase na vida de seu criador. O primeiro passo foi a
compra da “Furiosa”, que desde o princípio foi utilizada para servir de
biblioteca itinerante. Clóvis Matos sempre teve o objetivo de levar os livros
para as zonas rurais, como Pantanal, Manso e Poconé.
Sem grandes apoios
governamentais, o projeto teve pouco auxílio do governo. Clóvis relatou que
o“Inclusão Literária” possuiu somente uma ajuda custeada pelo Governo do
Estado.
O início da ação social foi
avaliado em R$ 94 mil. O valor foi encaminhado para o programa de Lei de
Incentivo Estadual, que concedeu apenas R$ 30 mil para ajudar na empreitada.
“Houve uma outra vez em que
o projeto foi aprovado pela Lei de Incentivo Federal à Cultura e eu deveria
captar verba. Mas fiquei dois anos e meio tentando e acabei não conseguindo
nada”, lamentou.
Os gastos com gasolina,
estadia e alimentação são pagos pelo próprio Clóvis, que não conseguiu nenhum
tipo de ajuda financeira. Para auxiliá-lo na distribuição dos livros e na
condução dos eventos, ele conta com voluntários. Alguns estudantes da UFMT costumam
viajar com o técnico-administrativo para outros municípios.
Dificuldades de incentivo no
Estado
Ele afirma que a falta de
incentivo financeiro a projetos culturais ocorre pelo fato de Cuiabá não fazer
parte dos grandes centros do Brasil.
“Somos periferia, se fosse
Rio de Janeiro ou São Paulo, conseguiria recursos mais facilmente. Aqui é muito
difícil”, disse.
Além do projeto “Inclusão
Literária”, Matos também costuma ensinar audiovisual aos jovens presentes nas
regiões onde faz distribuição de livros. Ele ensina a produzir obras que
incluem som e imagem a partir da leitura dos jovens.
Por enquanto, apenas os
municípios próximos a Cuiabá foram contemplados com incursões da “Inclusão
Literária”, que ocorrem em quase todos os finais de semana. As regiões
periféricas são os alvos. As zonas rurais do Pantanal, Manso, Barão de Melgaço,
Chapada dos Guimarães, Acorizal e Poconé foram algumas das áreas que receberam
o projeto.
A próxima parada do projeto
será Juína, no interior do Estado, dia 4 de junho. A “Furiosa” desta vez será
deixada em casa, pois este será o primeiro evento de Clóvis com sua nova
biblioteca ambulante, uma Kombi branca. A nova ação tem empolgado o
técnico-administrativo, que ainda está acertando os últimos detalhes do novo
veículo.
Em uma década do “Inclusão
Literária” foram distribuídos 25 mil livros. As obras são doadas às pessoas que
participam dos eventos, pois Clóvis é contrário ao empréstimo literário. Ele
compartilha do pensamento de que os livros devem circular e, por isso, acredita
que as doações contribuem para que mais pessoas tenham acesso à cultura.
“Os livros contribuem muito
para ajudar intelectualmente as pessoas. Por isso, não quero que elas devolvam,
mas que passem para frente. A intenção é fazer as obras circularem”, explicou.
A partir do ano que vem,
Clóvis deve se aposentar. Ele espera que na nova fase da vida possa se dedicar
mais aos projetos de incursões literárias.
Bruno Cidade/MidiaNews
A "Furiosa" leva leitura a todas as regiões do Estado - dos centros das cidades à periferia
Papai Noel
Há 10 anos, durante o final
de ano, aproveitando-se da aparência de bom velhinho, Clóvis Matos trabalha
como Papai Noel em um shopping center de Cuiabá. O dinheiro que arrecada
durante a ação é revertido para os seus projetos sociais.
No dia 25 de dezembro,
quando encerra o trabalho no shopping, o homem vai a hospitais de regiões
carentes do interior do Estado e distribui presentes para as crianças.
“A gerente do shopping
center me chamou para trabalhar como Papai Noel porque estava difícil encontrar
alguém para o cargo. Então, aproveitei disso para ajudar nos meus projetos
sociais, que estavam no início”, contou.
Doações
As doações de livros, de
acordo com Clóvis, são feitas geralmente por adultos. Poucas obras infantis são
doadas ao projeto.
Para doar livros ou gibis
para o projeto “Inclusão Literária”, basta entrar em contato com fundador do
projeto. O telefone é (65)8135-1176 ou através do e-mail
clovismatos@hotmail.com
Seduc
Neste ano, Clóvis poderá
realizar a primeira parceria com o Governo do Estado. Através da Secretaria de
Educação do Estado (Seduc-MT), o “Inclusão Literária” deverá ganhar
desenvolvimento e auxílio financeiro. A partir da união, o projeto irá para
novos municípios do interior.
A Seduc-MT, através de
assessoria de imprensa, que está avaliando verba para custear os gastos
necessários à ação.
Bibliotecas no Estado
No momento, a Biblioteca
Estadual não está alugando livros para o público. A medida ocorre em razão do
regimento da entidade, que ficou pronto recentemente e aguarda decisão jurídica
para que possa entrar em vigor. A coordenadora das bibliotecas públicas do
Estado, Salime Daige, relatou que alguns projetos de leitura são desenvolvidos
pelo Estado.
“A biblioteca vem
reavaliando medidas de acesso aos livros e leituras. Periodicamente, realizamos
colônias de férias para incentivar crianças a lerem. Na ação, também realizamos
trocas de livros”, contou.
Conforme Daige, cada
município do Estado deveria possuir uma biblioteca pública. Porém, ela afirma
que nem todos os lugares respeitam a decisão e os prefeitos acabam deixando de
lado os cuidados com a leitura.
“Os cuidados com as
bibliotecas municipais ficam a cargos dos prefeitos de cada cidade. Mas alguns
não as valorizam e acabam fechando”
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