A moça que descobriu um
jeito de vender livros
por Fátima Fernandes
Para a empreendedora Juliana
Ribeiro, com passagem pelas livrarias Cultura e da Vila, os vendedores ainda
têm grande influência para o sucesso de um livro
Em um país onde se lê pouco
não é nada fácil ser vendedor de livros. Ainda mais em ano de crise, quando as
famílias começam a economizar até com o arroz e o feijão.
Foi em meio a um cenário
nada propício para o consumo que uma vendedora de livros se destacou a ponto de
ser encorajada por ex- patrões a montar uma empresa especializada em preparar
seus colegas de ofício.
Quando um cliente entra em
uma livraria e pede para ver lançamentos de autores como Nicholas Sparks, John
Green, Paulo Coelho é muito mais fácil. O vendedor nem precisa ter lido os
livros para vender.
Esse é aquele típico
consumidor que já sabe muito bem o que quer, possui uma lista de autores
preferidos, não precisa de estímulo para comprar.
Agora, imagine aquele
cliente que entra na loja e diz. “Eu quero ver aquele livro que acaba de ser
lançado, que está na mídia, não lembro o nome do autor. É um romance de capa
vermelha.”
Neste caso, o que é o mais
frequente, a venda está nas mãos do vendedor. Ele precisa saber que livro de
capa vermelha acaba de ser lançado, quem é o autor, qual o conteúdo. Se não, é
quase certo, vai perder a venda.
Foi justamente essa
observação que levou Juliana Ribeiro, 38 anos, formada em Letras pela USP, com
passagem pelas livrarias Cultura e da Vila, a montar há quatro anos uma empresa
para preparar vendedores.
“O autor pode ser bom,
conhecido, mas quem tem o poder de fazer o cliente comprar o livro é o
vendedor”, afirma Juliana.
O que ela diz pode ser
comprovado com fatos vividos por ela própria. Quando trabalhava na Livraria da
Vila, na loja da Rua Fradique Coutinho, a chegada de um livro infantil com capa
colorida, da editora Salamandra, chamou a sua atenção.
O livro era “O meu cachorro
é um elefante”, com tradução de Ana Maria Machado. O que ela fez: leu o livro,
gostou e o colocou em destaque.
Para todas as pessoas que
entravam na livraria em busca de um livro infantil ela oferecia “O meu cachorro
é um elefante” como uma “ótima” opção. Resultado: o livro começou a vender como
brinquedo para o Dia da Criança.
O pessoal da Salamandra,
ficou surpreso. Procurou a loja para saber qual a razão de o livro estar
vendendo tanto de uma hora para a outra.
Juliana explicou. Ela tinha
gostado do lançamento e por isso o oferecia para pais e clientes em busca de
presentes para as crianças.
Detalhe: o livro não era um
lançamento, era uma edição de mais de 10 anos. A capa é que havia mudado.
O sucesso como vendedora da
Livraria da Vila acabou rendendo para Juliana um convite de almoço especial da
editora Salamandra.
E, em seguida, convites para
trabalhar em duas editoras, a Objetiva e, posteriormente, a portuguesa Leya,
que estava chegando ao Brasil.
Sem conhecer o mercado
brasileiro, a Leya acabou aceitando a sugestão de Juliana, recém-contratada:
preparar um café da manhã para reunir os principais vendedores de livros de São
Paulo no hotel Renaissance.“Nunca tinha preparado um evento daquele tamanho,
mas apostei e fiz, inclusive com palestras.”
Era o dia 25 de fevereiro de
2011. O café da manhã estava marcado para 8h30. Chegou o horário e não havia
ninguém no local.
“Eu tinha convidado uns 200
vendedores para o evento e comecei a entrar em pânico. Quanto deu 8h45
começaram a chegar algumas pessoas e depois mais e mais. Enfim, consegui reunir
210 vendedores naquele dia.”
Naquele evento, a editora
Leya apresentou, entre outros escritores, Leandro Narloch, autor do “Guia
politicamente incorreto da história do Brasil”, que foi depois um dos livros
mais vendidos da área.
“Foi naquele dia, olhando
para toda aquela plateia de vendedores, que percebi que eles eram a minha
carteira de clientes. E que eu estava preparada para trabalhar sozinha com
eles”, diz.
Dali até montar a Allure
Consultoria foi um pulinho. Juliana trabalha para editoras. Ela recebe um fee
fixo e mais comissão sobre as vendas.
O trabalho dela consiste
basicamente em visitar cerca de 40 lojas por mês, expor bem os livros e treinar
vendedores, principalmente na região da Grande São Paulo.
Nessas visitas, ela
identifica o vendedor que possui maior potencial e afinidade com a função, o
presenteia com um livro, e abre um canal de relacionamento para discussão sobre
os livros e formas de vendas.
Quando um livro novo sai na
mídia, ela já faz um resumo, e encaminha para os vendedores, com um exemplar de
cortesia. Também prepara o vendedor em relação a resenhas publicadas na
imprensa. Tudo para que o cliente saia deslumbrado da loja de tanta informação
que o vendedor já possui, mesmo quando se trata de um livro que acaba de chegar
ao mercado.
“Como meu atendimento é
personalizado, faço duas visitas por mês em cada loja. Vejo se o livro vendeu,
não vendeu, identifico as razões. Minha função é deixar o livro bem exposto e o
vendedor bem informado”, diz.
SALÁRIOS BAIXOS
O vendedor de livros,
segundo ela, é geralmente aquela pessoa que precisa trabalhar para pagar os
estudos ou ajudar a família.
Em muitos casos, é o
primeiro emprego dele ou dela. Os salários são baixos. A maioria das livrarias
paga menos de R$ 1.000 por mês. As comissões é que podem fazer a diferença no
final do mês.
“O que eu digo para eles é
que, para vender livro, é preciso ter entusiasmo. Faço também com que o
vendedor vire um amigo, um parceiro. É comum eu ir para festas particulares de
vendedores.”
O jeito de Juliana trabalhar
tem agradado. Se a loja que ela visita não está na programação, os vendedores
já começam a reclamar. Isso já aconteceu com um vendedor da Livraria Blooks,
por exemplo, que fica no shopping Frei Caneca.
“Meu pacote com as editoras
inclui visitas a 40 lojas. Só que uma loja que não estava no meu roteiro
colocou um livro da Foz, editora para a qual eu trabalho, em destaque e o
vendedor reclamou porque eu não visitava a loja. Bom, acabei incluindo essa
loja também no pacote. Isso mostra que os vendedores querem e precisam dessa
assessoria”, diz.
A Allure Consultoria tem um
grande desafio: fazer com que os livros de editoras clientes, que hoje são Foz,
Tinta na China e a gravadora MCD, especializada em CDs e vídeos infantis, se
destaquem, competindo com centenas de outras editoras nacionais e estrangeiras
que disputam o mercado brasileiro de livros.
Com o seu trabalho, afirma
ela, a venda de livros chega a aumentar 45%, em média, mas já houve caso de
alta de 110% nas vendas – no caso, foi um CD infantil.
Jeito para o negócio ela
tem. No período em que trabalhou na livraria Cultura do shopping Vila Lobos, de
2004 a 2006, ela chegou a vender cerca de 2 mil livros infantis por mês.
Como exige o seu trabalho,
Juliana lê em média de 30 a 40 obras por ano. Como não consegue mais dar conta
da tarefa sozinha, está recrutando profissionais como ela para expandir seu
negócio: preparar vendedores de livros.
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