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Nilza Costa: A representante da música afro-brasileira na Itália. [Cleo Oshiro]

Nilza Costa: A representante da música afro-brasileira na Itália.


Nilza Costa, cantora e compositora, nasceu em Salvador /Bahia e vive há dez anos na Itália.  Dona de uma voz forte e uma personalidade marcante, essa baiana mistura a World Music/Afro Jazz, mas sempre com uma forte influência da raiz afro brasileira, herança da mãe e avó ainda na sua infância. Seu desejo, é que a sua música chegue até o Brasil e assim possa ter a chance de ser reconhecida, conquistando um espaço no seu próprio país, já que no exterior ela já tem uma carreira consagrada.

-Nilza, como fui sua infância, e quando descobriu que cantar era o que queria para sua vida?

A minha infância como a maioria das pessoas pobres no Brasil, foi muito difícil, mas eu era feliz porque a minha mãe e minha avó me deram muito carinho, educação e fizeram de tudo para que não me faltasse nada. Minha mãe sempre me diz que eu já nasci cantando, mas com o passar do tempo eu fui aprimorando mais esse sonho. Corri de todos os lados para vencer a minha timidez, comecei escrevendo, cantando nas igrejas, nas reuniões da Paróquia, nos grupos de jovens e corais. 

-Quando decidiu morar na Itália e o que te levou a viver em outro país.

Aconteceu naturalmente. Casei com um italiano e depois viemos para a Itália.

-Teve dificuldades de adaptação?

Um pouquinho sim, mas como sou de Gêmeos, me acostumei rapidamente. Sempre fui muito comunicativa, fiz amizade com as pessoas na escola de italiano e praticamente em seis meses, já conhecia um grupo onde comecei a cantar.


-O que mais te atrai na Itália?

A Itália me atrai muitíssimo, porque aqui a cultura é um livro aberto e eu sempre fui apaixonada por História e Geografia. Cada dia aprendo algo diferente e isso me enriquece tanto. 

-Como é a aceitação da música brasileira, e qual o estilo que eles mais gostam?

A musica brasileira é muita querida por aqui principalmente a Bossa Nova. Eu faço outro estilo musical, gosto de misturar os sons afro brasileiros com o jazz, blues, reggae, samba, rock. 


-A boa música e os bons interpretes, são mais valorizados no exterior?

Infelizmente sim. O Brasil é muito difícil para quem faz outros gêneros que não sejam o pagode, o axè, sertanejo e funk.

-Qual o problema do Brasil, que o povo não valoriza a boa música, e nem as mídias dão o espaço merecido ao que temos de melhor na área musical?

O problema é fazer musica que vende, se a musica não vende 200 mil cópias, então não serve para mídia. A boa musica é para poucas pessoas, infelizmente. Porque as pessoas são facilmente influenciadas pela mídia. Elas tem preguiça de pesquisar algo novo, sendo assim, elas começam a ouvir o que os outros ouvem e o que passa na tv.

-Quando iniciou sua carreira artística?

Começou aqui na Itália. Eu tentei várias vezes no Brasil, participando de uma Banda de reggae feminina em Salvador, mas era tudo muito difícil. Um vez me disseram: "porque você não faz a produção e coloca no teu lugar uma menina branquinha para cantar? Ficaria melhor e vocês conseguiriam um monte de shows. Uma banda somente com negras cantando não tem muita visibilidade". Fui fundadora e integrante da Banda Ujahma.

-De onde vem sua influência musical?

A minha influência vem do Candomblè. Quando eu era criança a minha avó me levava nas festas dos terreiros. Eu não entendia nada, mas a musica me entrava no fundo da minha alma, como o alimento que eu precisava. Depois nos corais com a musica clássica que gosto muito também. Maria Bethânia maravilhosa, Elza Soares, João Bôsco, Bob Marley, Caetano Veloso e Gilberto Gil.


-As suas musicas são interpretadas em que idioma?

Eu canto em português, yorubá e italiano.

-É verdade que você era muito tímida e tinha dificuldades de se apresentar solo?

Sim, sempre fui muito tímida, mas a musica, o teatro, a dança me ajudaram tanto.

-Como se livrou da timidez?

Me livrei quando comecei no Coro Cênico Olodum onde tinha que representar, dançar e cantar ao mesmo tempo.

-Durante o tempo que esteve no Brasil, teve participação em vários corais. Quais foram eles?

Cantei no Coro da Fundação Cultural da Bahia, com o maestro Jorge Marques, e no Coro Cênico Olodum com o maestro Jocemar de Castro Aguiar, fiz uma participação curtíssima no OSBA, Orquestra Sinfônica da Bahia também.

-Na Itália você se apresenta em carreira solo?

Me apresento solo, mas tem os músicos que me acompanham.

-Os músicos que se apresentam com você são brasileiros?

Os músicos são todos italianos, apaixonados pela musica brasileira e pelo jazz.

-Seus shows é voltado apenas para brasileiros que vivem na Itália, ou se apresenta para o público italiano também?

Na verdade como faço World Music/Afro Jazz eu procuro tocar para todos sem distinção.
Nos meus shows sinceramente tem mais europeus, africanos, asiáticos que brasileiros. Brasileiros tem, mas em numero menor, infelizmente.


-Costuma se apresentar em outros países?

Sim. Desde 2010 que me apresento em outros países como Espanha, Polônia, Alemanha e agora Holanda também. Gostaria muito que a minha musica chegasse também no Brasil.

-O álbum Revolution, Rivoluzione, Revolução é seu primeiro trabalho. Porque a escolha desse título?

Escolhi esse titulo, porque dentro de mim corre uma Revolução de idéias e gêneros musicais diferentes, que quero coloca-los em pratica. E esse nome veio como uma onda, na hora certa. A minha revolução não é de guerra, mas sim uma revolução musical cheia de mistura e sons de todo o mundo. A musica é uma coisa universal, não pertence a um País, ou a um povo A musica é para todos.

-Como surgiu a oportunidade de gravar o álbum?

Fui gravar uma demo, e os meninos do Studio Soundlab aqui de Bologna gostaram e me perguntaram se eu não queria fazer um disco com mais canções. Eu disse que sim, claro. Então eles acreditaram em mim e até hoje trabalham comigo. Fundaram uma Etiqueta Independente chamada Fonofabrique que me produzem, encontram os shows e tudo o mais. No momento estou gravando o segundo álbum.


-Como foram selecionadas as músicas?

Bem, eu praticamente escrevo todos os dias e já tinha muitas canções em meus cadernos e gravadas no computador. 

-As musicas são todas composições suas, ou tem de outros autores?

As musicas são composições minhas, menos Obanixá, que è uma canção do candomblé e Lettera della Terra, que é de uma poeta italiana, chamada Elena Benvenuti, que me presenteou o texto e eu fiz a melodia. O albúm teve a participação de diversos músicos italianos e a do musico brasileiro Jorge Vieira, em uma das faixas.


-Esse álbum é um trabalho independente ou não?

É independente sim, no sentido de que foi produzido por mim e pelo Studio Soundlab..

-Quais são suas prioridades no momento?

No momento a minha prioridade maior, é poder mostrar o meu trabalho em shows e fazer com que a minha música chegue ao Brasil e quem sabe poder ir ao Japão também.

-E projetos futuros?

Fazer musica sempre.
E gostaria que o mundo conhecesse os outros gêneros da musica brasileira que são tantos e todos tem o seu valor, conhecer a sua história, as suas raízes. O Brasil é um Pais enorme e todos nós fazemos parte dele. A musica é o melhor meio de transformação. 
Quero agradecer a todos os músicos que trabalham nesse projeto junto comigo: O Roberto Rossi, baterista e arranjador, Federico Codicé, guitarrista e arranjador e Pippi Dimonte, baixo acústico.


Terminamos por aqui. Obrigada Nilza Costa. 

Obrigada a você Cleo, pela oportunidade que me destes. Um abraço.




Cleo Oshiro,mineira mas viveu a maior parte da sua vida em São Paulo até se mudar para o Japão em 2002. Colunista Social no Japão, EUA e Suíça.Seu trabalho é divulgado em vários países no exterior onde existem comunidades brasileira.

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