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Lindeza [Marcelo Vitorino]

Lindeza


Crônica em que quatro amigos conversam e tentam chegar no que realmente faz um homem se encantar com uma mulher. "Lindeza" é baseado na música homônima de Caetano Veloso e Pedro Aznar


Já era tarde, muito mais do que dez latas de cerveja para quatro tropeços quando o papo enveredou para o assunto preferido dos homens. Engana-se quem pensa em futebol ou política, o gosto por falar das aventuras e desventuras passadas com as mulheres é muito superior a qualquer outro assunto. 

Como Renato estava para casar, surgiu a dúvida do que o fez notar sua futura esposa e assim o assunto enveredou para o que mais cativa um homem.

—   Os seios, óbvio! Sem essa de silicone, falo dos seios naturais, daqueles que só podem ter sido esculpidos pela mão de Deus. Tecnologia nenhuma do mundo consegue reproduzir a sutileza dos gêmeos. 

—   Que isso, Geraldo? Fixação por seios é coisa de quem não passou direito pela fase oral!

Armando era um excelente sujeito, mas não perdia a mania de mostrar o seu lado “intelectual”. Como era vendedor de livros, daqueles que batem de porta em porta oferecendo coleções ao coitado que faz a gentileza de atender a campainha, ocupava seu tempo livre lendo tudo o que vendia.

Diante disso acabou sendo o rei do conhecimento inútil, pois sabia de tudo, mas nada que ele pudesse aproveitar a não ser nas discussões com os amigos. Chegava a ser chato em alguns momentos, mas como era boa praça e aceitava as patadas que levava, ficou no grupo. 

—   Coisa de criança é uma ova! Já estou quase nos quarenta e, para mim, não tem coisa melhor! Você devia é parar com essa ideia de ser psicólogo de botequim.

—   Deixe de bobagem… Você gosta dos seios porque, independentemente da idade, ainda acha que é garoto. Assim que amadurecer vai dar valor ao que realmente pode deixar um homem perdido… 

Eis que passa a Marinete indo atender outra mesa. A garçonete do bar em que estavam era dona de uma bunda digna de estudo metafísico, algo que encantava até mesmo as mulheres, impossível passar despercebida por qualquer um que fosse. Reza a lenda que até cego conseguia perceber sua exuberância.

Claro que todos na mesa olharam para o mesmo ponto, ao mesmo tempo e, ficou evidente que a continuação da conversa geraria em torno dela, da bunda! 

—   A bunda? Isso é muito clichê de pornochanchada brasileira de quinta categoria, Armando! Para com isso, depende do ângulo, bunda é tudo igual!

—   Logo se vê porque você não tem muita sorte com as mulheres, um homem que não consegue diferenciar uma bunda de outra com certeza não merece nenhuma delas. 

Enquanto isso, Renato permanecia calado, no aguardo para saber qual dos amigos ganharia o debate. Deixou até para pedir uma nova rodada em outro momento, não queria interromper a luta histórica entre os seios e a bunda, melhor dizendo, entre Geraldo e Armando.

O silêncio dele só é interrompido quando nota que o último integrante do quarteto parecia estar com a cabeça em outro lugar, o que realmente era de se estranhar, visto que Fernando era o amigo que mais respirava o universo feminino do grupo e com certeza teria toda uma explicação que convenceria os demais. 

—   O que foi, Fernando? O que é que te deu para ficar de fora dessa história?

—   Nada não, só pensando na vida… 

—   Na vida? Só pode estar de sacanagem com a gente… Essa tal “vida” aí é loira ou morena? É bunduda ou peituda?

Nenhum dos outros a conhecia e mesmo que conhecessem, pelo nível das perguntas e pelo tom da conversa não saberiam identificá-la nem se houvesse um luminoso em cima da cabeça da moça. 

Decidiu então continuar negando a sua existência e desconversou enquanto fazia a sua melhor expressão de descaso como quem dissesse “vocês não entenderiam”. Claro que isso só aumentou a curiosidade do grupo, pois nunca haviam visto o amigo se omitir de um bom debate.

—   Ok, então já que vocês insistem tanto: morena. Mas vou logo adiantando que se rirem por um segundo que seja eu paro de falar na hora. Combinado?

Após a confirmação de todos com a cabeça, continuou com a história. 

—   Vocês não vão acreditar, mas conheci uma mulher espetacular que deixaria qualquer uma destas no chinelo.

—   Ahá! Eu sabia que viveria para ver esse dia! O dia em que o grande Fernando se dobraria aos encantos de uma mulher! Não falei para vocês que ele andava estranho? — Disse Geraldo quase aos berros. — Marinete, traz uma rodada que o papo vai esquentar! 

—   Posso continuar?

Claro que podia! Um fato raro como ver Fernando falar com tamanha aprovação sobre uma mulher faria até político em cima de palanque segurar o discurso. 

—   Pode ser que eu esteja ficando velho, mas dessa vez baqueei, companheiros. Confesso que nem eu imaginei que me encantaria tanto, vocês sabem que não sou de paixonites…

—   É peituda ou bunduda? — Perguntou Geraldo. 

Nessa hora Fernando fez menção de levantar da mesa e só não foi porque os demais o seguraram e ordenaram que Geraldo se calasse. Pode então continuar.

— Uma mulher bonita como tantas outras, mas com um característica encantadora: é exibicionista! — Pela expressão do grupo percebeu que merecia complementar antes que viesse alguma outra maledicência. — E respondendo ao Geraldo, nem bunda, nem peito, o que me fascina é a maneira com que ela exibe sua felicidade!

Fonte:



Marcelo Vitorino- Trabalho com publicidade desde 1999 e, depois de um tempo, acabei indo naturalmente para o marketing e desde 2007 passei a integrar o pessoal do marketing digital.Como produtor de conteúdo na internet estreei escrevendo o Pergunte ao Urso, um projeto que visava entender como funcionava o consumo de conteúdo pelo público feminino. A ideia deu certo, o blog virou dois livros, teve presença em rádio, mídia impressa e até na televisão. Chegou a ter um milhão de acessos mensais.No final de 2012 decidi que era a hora de virar a página e encerrar o projeto. Publiquei todo o meu aprendizado em um documento que está disponível na internet, portanto, se você quer começar um blog, sugiro que leia. Acabei me viciando em escrever e interagir com o público. Já que não fui forte o bastante para largar o vício, entendi que o melhor caminho era começar outro projeto.  Sou fruto de uma família muito numerosa e como acabei chegando por último tive uma formação muito diferenciada. Aos 14 anos escutava muita Bossa Nova e MPB, depois passei a escutar Samba, Blues, Jazz e Soul. Fui escutar Rock e outros gêneros musicais bem mais velho. O fato é que sempre gostei de música. Para mim, todo grande momento da vida tem uma trilha sonora.  Como referências literárias tenho dois modelos: Nelson Rodrigues e Luís Fernando Veríssimo. O primeiro pela ambientação perfeita que há nos seus textos, o segundo pelo diálogo e reflexões de seus personagens. Blog: http://naquelamesa.com/

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