Conversar, filosofar e fazer
amor… tudo com a mesma pessoa: a trilogia perfeita
Ana Macarini
Artigo publicado no site Conti Outra
Poder ficar em silêncio na
presença de alguém é dessas bonitezas da vida que só a mais delicada intimidade
pode trazer. Aquele átimo de tempo suspenso, em que a respiração do outro nos
acalma, o calor ou a frescura da sua pele nos apazigua e a presença é inteira,
doce, querida. A quietude amorosa entre dois amantes é a comunhão das almas
depois do encontro dos corpos.
Há, de fato, momentos em que
as palavras são desnecessárias, descabidas, intrometidas, até. Mas… ahhhhh como
é bonito ver nos olhos de alguém um interesse vivo e autêntico pelo que temos a
dizer. Como é preciosa a sorte de encontrar alguém que veja naquilo que dizemos
algo que ilumine, inquiete, provoque, derrube certezas, desperte. É preciso que
haja amor nos silêncios e também nos barulhos.
Somos todos barulhentos,
afinal. Mesmo os mais silenciosos, quietos e introvertidos, têm dentro de si
milhares de ruídos a serem interpretados. Às vezes, acordamos cheios de
inquietações profundas, outras vezes são palavrinhas leves e sorrateiras que
querem sair de nós e ganhar o mundo. E ainda que sejamos apaixonados pela
quietude, quando temos algo a dizer, sonhamos com a companhia de alguém que nos
ouça, de alguém que nos ajude a pensar em voz alta, de alguém que nos ajude a
traduzir as inúmeras línguas que habitam a nossa “Torre de Babel” particular.
E as palavras, essas
criaturinhas inquietas e dúbias, antes de serem palavras já foram seres mais
alados e voláteis que elas próprias. Antes de serem palavras, essas meninas
travessas já foram pensamentos. Pensamentos são ainda mais fugazes que as
palavras, podem nos abandonar sem aviso, caso não recebam de nós alguma genuína
atenção. Os pensamentos voam, como voa o tempo quando estamos nos braços de
alguém que nos ame e a quem amemos de volta.
Encontrar nesse vasto e
confuso mundo alguém que se apaixone por filosofar com a gente é tão raro
quanto lindo. Dar ao pensamento as merecidas asas e deixar que as asas nossas
toquem de leve as asas alheias, a fim de dar vida aos devaneios e
interpretações das coisas profundas e tolas, é uma magia tão poderosa, mas tão
poderosa, que uma vez experimentada não nos permite voltar a algo menos intenso
ou mais óbvio.
Compartilhar desejos e
fantasias, tão físicas quanto emocionais, é tão forte quanto cálido. Oferecer
ao corpo a possibilidade de partilhar o afeto que aquece e o prazer que
arrepia, a fim de dar vida a sensações esquecidas, é da esfera das coisas
místicas, e loucas, e belas, que tendo feito parte uma única vez de nossa
existência, faz acordar na gente a alegria que nos desperta de um sono sem
sonhos.
Conversar, filosofar e fazer
amor… tudo com a mesma pessoa, é uma trilogia perfeita. É daqueles presentes
embrulhados em caixas inesperadas, envoltas em papel colorido e brilhante. Eu
tenho direito a isso, você tem direito a isso, a moça caminhando sozinha na
praia, o homem sentado sozinho no meio do caminho… todos nós temos direito a
isso. É preciso acreditar na possibilidade desse sonho bonito se converter em
realidade. É preciso estar desperto para reconhecer de olhos fechados que, isso
sim, é uma relação afetiva de verdade.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
2 comentários
I like that I wish I had someone to share myself with wholly as well. And yes we all deserve this its what makes us whole.
Texto maravilhoso!
Postar um comentário