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ANÁLISE CRÍTICA DA POESIA “NOITE ADENTRO’ DE LASANA LUKATA. POR VERA LÚCIA LOPES DIAS


𝐀𝐧á𝐥𝐢𝐬𝐞 𝐂𝐫í𝐭𝐢𝐜𝐚 𝐝𝐚 𝐏𝐨𝐞𝐬𝐢𝐚 "𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐀𝐝𝐞𝐧𝐭𝐫𝐨" 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐬𝐚𝐧𝐚 𝐋𝐮𝐤𝐚𝐭𝐚
Por Vera Lúcia Lopes Dias*

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Nas intricadas teias da poesia de Lasana Lukata, encontramos a tapeçaria de uma jornada que se desenrola entre as águas e as árvores da Visconde de Inhaúma. A habilidade singular do poeta em entrelaçar as experiências marítimas com a vida urbana cria uma sinfonia de imagens que dançam nos recessos da mente do leitor.

noite adentro

quando chego do mar,
vou por entre as árvores da Visconde de Inhaúma,
marujos pelos bares tomam uma
e a vida fluxível muito mais se desapruma;
muito brancas passam garças
e só uma se inclina para mim;
vem do abismo, oceânico lirismo,
para a margem do poema,
trazer peixes para alimentar os versos.
quando piso terra firme,
com as sílabas do mar,
vou com a verdadíssima verdade,
vou com a verdíssima idade,
vou com os 15 anos que me restam,
vou entre o desejo e o sofrimento,
a proa penetrando as ondas moças,
em espumas se esvaindo suas forças,
as palavras rechaçadas por chapiscos do seu muro.
quando chego do abismo me deparo com outro abismo,
grande é a ferida:
vou por entre as árvores da Visconde de Inhaúma,
rociadas de esperança,
que aguardam novas flores,
onde as aves fazem ninhos,
que escondem um pouco a rua,
que ocultam um pouco a lua
e os lazarones da estreita Teófilo Otoni,
vigiados por drones, limitados por cones,
ouvindo Benny Mardones, Into the Night,
e a guarda municipal, que no carnaval, orienta,
não assomem à Presidente Vargas,
ninguém deve saber que existem,
só no pleito eleitoral.

A poesia inicia-se com a chegada do poeta do mar, um retorno que transcende a mera geografia, transformando-se em uma transição entre elementos, entre o líquido e o sólido. As árvores da Visconde de Inhaúma se tornam testemunhas do desdobrar da vida noturna, enquanto marujos, como mariposas noturnas, buscam a luz nos bares. A vida, fluindo como o próprio mar, se desapruma em uma dança desregrada, mas harmoniosa.

A imagem das garças, tão brancas, destacam-se como sentinelas da noite, e uma delas, inclinando-se para o poeta, é a ligação entre o abismo do oceano e o abismo da criação poética. O "oceânico lirismo" emerge para alimentar os versos, trazendo peixes do abismo do mar para sustentar as palavras que ganham vida na margem do poema. Aqui, Lukata nos convida a mergulhar nas profundezas da inspiração, onde as palavras são como peixes frescos, capturados no vasto oceano da imaginação.

Ao pisar em terra firme, as sílabas do mar ecoam verdade e idade. É uma jornada que se desdobra entre o desejo e o sofrimento, onde a proa penetra as ondas moças, simbolizando a navegação corajosa através dos desafios da vida. As forças, como espumas, se esvaem, e as palavras, por vezes rechaçadas pelos obstáculos do mundo, persistem na construção do poema.

O poeta, ao se deparar com outro abismo, reflete sobre a ferida que é a vida. Entre árvores rociadas de esperança, Lukata destaca a dualidade da rua e da lua, elementos que se ocultam e se revelam na paisagem urbana. O cotidiano é permeado por drones e cones, símbolos da vigilância e da limitação, enquanto a música de Benny Mardones ressoa na noite.

As aves fazem ninhos, ocultando um pouco da rua e da lua, uma metáfora para a busca por refúgio e intimidade na cidade. A rua, frequentada por lazarones, é um espaço controlado, onde a presença da guarda municipal é efêmera, surgindo apenas no carnaval e no pleito eleitoral.

A poesia de Lukata é um convite à reflexão sobre a complexidade da existência urbana e marítima, onde a busca pela verdade e pela idade se entrelaça com a resistência poética diante dos desafios. "Noite Adentro" é uma jornada poética que ressoa com a beleza da dualidade e da resistência, uma lição de vida em versos que nos convida a navegar nas águas da experiência humana, explorando os abismos e descobrindo peixes frescos para alimentar nossa própria expressão criativa. 









Vera Lúcia Lopes Dias* Professora aposentada de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da UNESA \(Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro) e de Língua Portuguesa e Libras do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES)) Mestre em Educação e Letras pela UERJ

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