Carlos Dafé: O eterno príncipe da Soul Music
Por Cleo Oshiro
Compositor, multinstrumentista (violão, guitarra, baixo, piano, acordeão e vibrafone), cantor e produtor, Carlos Dafé nasceu no subúrbio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Dafé nasceu numa família de artistas. O pai, José de Sousa, era funcionário público e chorista, e sua mãe Conceição Gonçalves, uma poetisa e grande incentivadora da musicalidade dos filhos. Seus irmãos são músicos e compositores: Jorge Badezir (violonista e baixista), Tuninho de Souza (guitarrista e bandolinista – acerca de seis anos, trabalhando e morando na China), Luiz Carlos (violonista e tecladista) e Paulo César (cantor).
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Seu filho, Georgemari Dafé, segue os passos do pai e, além de cantar e compor, toca cavaquinho, violão, contrabaixo, percussão e é co-produtor. Sua filha Verônica Dafé, estudou canto na Falarte e atua como cantora e backing vocal em seus shows, e foi produtora da rádio Viva Rio (AM), do programa clube do swing. Aos quatro anos, Dafé já corrigia alguma nota errada que, por ventura, seu pai ou qualquer dos amigos chorões tivesse cometido. Aos 11 anos já estudava no Conservatório de Música e aos 14 já tocava acordeom e vibrafone em conjuntos e orquestras.
Inicialmente, em 1967, Carlos Dafé foi testado como contrabaixista, no grupo Dom Salvador e Abolição, primeiro grupo de negros a tocar soul music em um festival da TV Globo. Em 1970, fez turnê com o grupo Fuzi 9, do Corpo de Fuzileiros Naval, por Salvador (Bahia), Porto Rico, Martinica e Curaçau. Gravou um compacto simples, em 1972, com as músicas “Venha matar saudades” e “Verônica”, ambas de sua autoria. Por essa época, Tim Maia, ao ouvir seu primeiro disco, convida-o para integrar a sua banda como tecladista e vocalista.
A partir daí, passou a fazer parte do movimento de soul music no Brasil “Movimento Black Rio”, juntamente com Tim Maia, Dom Salvador, Cassiano, Gérson King Combo, Lincoln Olivetti, Sandra Sá, Dom Filó (Equipe Soul Gran Prix), Nirton, Os Diagonais, Banda Black Rio, Alcione (irmão de Oberdan Magalhães), Toni Tornado, Robson Jorge, Paulinho Guitarra, entre outros. Em 1973, apresenta-se como músico, tocando contrabaixo ao lado de Luiz Carlos Vinhas, Osmar Milito e Luizinho Eça. Por essa época, acompanhava Alcione, Nana Caymmi, Emílio Santiago, Joanna, entre outros artistas da MPB, que também interpretavam suas composições.
No ano de 1974, gravou um compacto simples com as músicas “Passarela” e “Bloco da minha rua”, ambas de sua autoria. No mesmo ano, a cantora Alcione interpretou “Acorda que eu quero ver” e Nana Caymmi interpretou “Passarela” e “Acorda que eu quero ver”. No ano seguinte, em 1975, Alcione interpretou “Quadro de Ismael” (com Toninho Lemos).
Em 1976, Dóris Monteiro gravou “Pra não padecer” e Núbia Lafayette interpretou “Basta um gesto seu”. No ano posterior, 1977, foi incluída uma composição sua na novela Dona Xepa, da TV Globo, a música “Pra que vou recordar o que chorei”, saindo neste mesmo ano, o disco com a trilha sonora pela gravadora Som Livre. Ainda em 1977, foi lançado pela gravadora Warner o LP “Pra que vou recordar o que chorei”. Nesta mesma época, foi produzido para o programa “Fantástico”, da TV Globo dois clips com as músicas: “De alegria raiou o dia” (com Mita) e “Bichos e crianças” (com Marilda Barcelos).
Lançou pela Warner o LP “Venha matar saudades” em 1978. E, no ano posterior, gravou o disco “Malandro dengoso”, lançado também pela Warner. Sua composição “Um menino, uma mulher”, em parceria com Toninho Lemos, foi canção-tema do filme “Um menino, uma mulher” de 1980, dirigido por Roberto Mauro e produzido por Jece Valadão.
No ano de 1983, a gravadora RCA Victor lançou o disco “De repente”, do qual foi produzido para o programa “Fantástico”, da TV Globo um clip com a música “De Repente” (com Reyna). No ano seguinte, lançou um compacto simples pela gravadora RGE com a música “Deixa pra lá”. Neste mesmo ano, a música foi incluída na novela “Livre Pra Voar”, da TV Globo, saindo posteriormente em LP pela Som Livre, integrando a trilha da novela.
Em 1985, a gravadora Acorde lançou o disco “O Trem da gente”. No LP interpretou várias composições suas e “Pra que complicar”, de Marquinhos e Gilson Mendonça, sendo esta, a música de trabalho do disco. Neste mesmo ano, Beth Carvalho incluiu no LP “Das bênçãos que virão com os novos amanhãs” a composição “Zi-Cartola”, em parceria com Toninho Lemos.
Em 1997 foi lançado o CD “O seu jeito de olhar” produzido por Gabu (do Grupo Raça Negra) para o Selo Perfil. O disco teve como destaque a música “O seu jeito de olhar” (Gabu, Álvaro e Luís Carlos da Portela). Neste mesmo ano, Mart’nália no disco “Minha cara”, lançado pela gravadora ZFM Records, interpretou “Pra que vou recordar o que chorei”.
Através da Coleção Pop, a gravadora Warner Music lançou, em 1998, uma coletânea reunindo seus maiores sucessos extraídos dos três discos feitos para a gravadora. No ano 2000, a gravadora Warner Music lançou em um único CD, os dois discos “Pra que vou recordar o que chorei” e “Venha matar saudades”, através da “Série Dois Momentos”, produzida por Charles Gavin (do grupo Os Titãs).
Neste mesmo ano, participou do show em homenagem a Tim Maia, no Ballroom, no Rio de Janeiro. Ao final do show, todos os presentes (Ed Motta, Sandra de Sá, Macau, Cláudio Zolli e Pedro Camargo Mariano) cantaram juntos a sua música “Pra que vou recordar o que chorei”. Reconhecido como ícone de um movimento que fez história na Música Brasileira, Carlos Dafé recebeu nos anos 80, o título de O Príncipe da Soul Music, do jornalista, escritor e compositor Nelson Motta.
Ainda no ano 2000, fez temporada com Zeca do Trombone na Gafieira Elite, no Rio de Janeiro, acompanhado de seus irmãos Jorge de Souza no baixo e Toninho de Souza na guitarra, que formam a Banda Malandro Dengoso. Entre os intérpretes de suas músicas estão: Tim Maia “Pra que vou recordar o que chorei”, “Já era tempo de você” e “Sufocante”, Cauby Peixoto “Onde foi que eu errei”, Agnaldo Timóteo “Sonho de um menino pobre” e “Venha matar saudades”, Tânia Alves em “Firmeza” e Márcia Maria “O jeito é não vacilar”.
Elza Soares gravou de sua autoria com Lourenço “Mais uma vez”. Marinês gravou “Se pega com Deus”, parceria sua com Wandenberg e Antônio Faustino. A cantora e pianista radicada na França, Tânia Maria, gravou várias parcerias de ambos: “No ano que vem”, “A cruz”, “Transamazônica” e “Nessa festa de luz”. Sua música mais gravada é “Pra que vou recordar o que chorei”, que já contabilizou mais de 20 regravações de diversos artistas como Emílio Santiago, Patrícia Marques, Grupo Razão Brasileira, Tim Maia, Mart’nália , Royce do Cavaco, Zeca Baleiro, Ivete Sangalo, Edmon, Grupo Força Maior e José Lucas, nos Estados Unidos.
Também em 2000, fez o show de lançamento do disco “Série Dois Momentos” no teatro Rival, no Rio de Janeiro. Neste show recebeu vários convidados como Jorge Aragão, Ed Motta, Lúcio Sherman, Heitorzinho dos Prazeres, Dubhai e Luiz Melodia. Na virada do século e do milênio, participou ao lado de Nelson Sargento, Walter Alfaiate, entre outros, no show em Copacabana.
No ano de 2001, o grupo Katinguelê regravou “Venha matar saudades” e Dom Mita regravou “De alegria raiou o dia” (com Dom Mita), disco no qual participou em dueto com o parceiro e ainda incluiu, neste mesmo disco, a composição “Que sorte a minha” (com William Félix). No mesmo ano, mais dois LP’s seus foram relançados em CD: “Malandro dengoso”, de 1979 e “De repente”, de 1983. Também em 2001, Seu Jorge (ex-integrante do grupo Farofa Carioca) interpretou “Pra que vou recordar o que chorei” e “De alegria raiou o dia”, nesta última, contando com a participação especial do compositor.
No final de 2001, ao lado de Luiz Melodia e David Corrêa, entre outros artistas, participou do show de réveillon na Praia da Moreninha, na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Em 2002, participou da coletânea “Conexão carioca 3” produzida por Euclides Amaral e com apresentação do poeta e letrista Sergio Natureza. No CD interpretou em dueto com Lúcio Sherman “Considerações” parceria com Lúcio Sherman e Euclides Amaral. Ainda neste ano, participou do disco “Petshop mundo cão” de Zeca Baleiro, no qual interpretou em dueto com o anfitrião a faixa “Mundo dos negócios”.
Em 2003, apadrinhou a coletânea de novos talentos “Quem são os novos da MPB?”, produzida por Lúcio Sherman e lançada pelo selo Puro Som. Neste CD, interpretou uma nova gravação da música “Considerações”, além de escrever a apresentação do disco. Neste mesmo ano iniciou o programa “Clube do Swing”, na Rádio Viva Rio, no Rio de Janeiro, no qual recebeu diversos convidados como Ed Motta, Marko Andrade, Sandra de Sá, Lúcio Sherman, Euclides Amaral, Serginho Meriti, Tinho Martins, Luiz Carlos Batera, Hyldon, entre outros.
Apresentou o show “Clube do Swing” no Teatro Rival BR, no qual recebeu como convidados Copa Sete, Preta Gil, Cidade Negra, Dhema, Lúcio Sherman, Marko Andrade, Euclides Amaral, Gérson King Combo e Sandra de Sá. Participou como convidado do baile-show “Gérson King Combo Convida”, na Quadra da Império Serrano e do show de Wilson Simoninha no Ballrrom.
Em 2004 recebeu diversos convidados, Hyldon e Gérson King Combo, entre outros, na casa de show Dandi Brasil, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano duas composições de sua autoria foram incluídas na coletânea “Black Music Brasil”, do selo Som Sicam, foram elas: “Olhando para o céu” em parceria com Lúcio Sherman interpretada pelo próprio e ainda De alegria raiou o dia””, em parceria com Dom Mita, interpretada por ambos. Do disco também participaram Lúcio Sherman, Luís Vagner, Banda União Black, entre outros.
Em 2005 participou do DVD “Alabê de Jerusalém”, de Altay Veloso. No ano de 2006 pela gravadora Universal e em carreira solo, Negra Li lançou o disco “Negra livre”, no qual regravou “Tudo era lindo”, antigo suscesso de Carlos Dafé. Em 2007, com B Negão, Thalma de Freitas, Ganjaman, Grupo Montage, Banda Instituto e o quarteto de rock pernambucano Mellotrons, foi um dos convidados do “Festival Rec-Beat”, em Recife. Na ocasião dividiu o palco com B Negão e a cantora e atriz Thalma de Freitas, com quem interpretou composições de Tim Maia. Neste mesmo ano, ao lado de Verônica Sabino, Ednardo e Totonho e Os Cabras, foi um dos convidados do cantor e compositor Zeca Baleiro, apresentando-se no evento “O Baile do Baleiro”, no Canecão, no Rio de Janeiro.
Em 2008 a banda Du Black regravou “Considerações”, parceria com Lúcio Sherman e o poeta Euclides Amaral, inserida no disco “Soulshine”. Neste mesmo ano, como convidado pelo Coletivo Instituto, participou do “Tim Festival”, no Rio de Janeiro. Em 2009, iniciou a Temporada de Pré-lançamento do seu mais novo CD “Bem Vindo ao Baile”, título que também dá nome ao show, onde recebeu diversos convidados no palco do Canequinho Café (anexo Canecão) como: Danni Carlos, B Negão, Da Gama, Hyldon, Rodrigo Sha, Marlon Sette, Zeca do Trombone, Adilson Aragão, Ary do Chapéu, César Kássi, Gerson King Combo, Aleh, MC Marechal e Banda Avante. A temporada segue continuidade com novos convidados a serem anunciados.
Na sequência, dando continuidade a celebração da obra de Tim Maia da fase Racional, foi convidado pelo Coletivo Instituto ao festival Backstage – “Sala da Justiça” em Recife (PE), baile fantasia ao lado da Orquestra Contemporânea de Recife e do ícone Jorge Benjor e sua Banda. Participou da gravação do CD do jovem cantor João Batista, revelado no programa FAMA da TV Globo, cantando a música “Gosto tanto de você” de composição de Pelé (Edson Arantes do Nascimento).
A convite do maestro Arthur Verocai, na atualidade o brasileiro mais sampleado nos Estados Unidos, Europa e Japão, Carlos Dafé irá participar, junto a José Roberto Bertrami (Azimuth), Ayrton Moreira e Clarice, compondo uma orquestra de vinte músicos, sob a batuta do maestro Verocai, do festival Timeless Concert – The Composer/ Arranger Series Presented by VTech em Los Angeles (Estados Unidos).
“Bafo quente no salão: som negro na Áfricarioca rolando nas quebradas com Marvin Gaye nas vitrolas, cenário, cidade e selva onde se criou o som do Dafé e de outros cobras black (ou seriam coblas bléque?). Esses malandros espertos, de gargantas ágeis e corações quentes, incendiando os salões, bailões esses neguinhos e negões que se afirmam, com fé em Dafé estão aqui, agora, bailando.” (Nelson Motta – 1983)
“… Por isso eu sou da fé, por isso eu tenho luz, por isso eu sou da fé, da fé que me conduz, por isso eu sou da fé, Dafé e Carlos.” (Trecho da música Dafé e Carlos, composição de Jorge Aragão)
“… o Dafé é uma grande expressão da juventude negra brasileira. Um patrimônio da gente que tinha vontade de dançar soul e funk e não tinha lugar para isso… Ele é um cara a quem devo muito, é meu camarada, meu grande educador musical.” (Seu Jorge – SCHOTT, Ricardo. Na essência do soul. Perfil CARLOS DAFÉ. Revista de Domingo, Jornal do Brasil, p.46.)
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