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"PARA ONDE FORAM AS “CRIANÇAS COM FLORES?" OU "WHERE DID THE FLOWER CHILDREN GO?" UM CONTO BILÍNGUE DE CECILIA B. SILVEIRA-MARROQUIN

Janis Joplin

"Para onde foram as “crianças com flores?" ou "Where did the flower children go?" Um conto bilíngue de Cecilia B. Silveira-Marroquin


Para onde foram as “Crianças com Flores”?
Agosto de 2003

No início deste ano, comemorando mais um aniversário, eu disse, "uau, para onde se foi o tempo?" Boa pergunta retórica. Então eu pensei na minha juventude na década de 70.

Mais uma vez eu me dei conta do quanto eu sou feliz e orgulhosa por ter feito parte da geração Hippie das "Crianças com Flores". Eu acredito que estes foram os melhores anos da minha vida. Não foram fáceis, mas certamente foram os mais grandiosos!

Vendo as gerações mais jovens de hoje e tudo com que eles têm de lidar - suas lutas - eu sinto muito por eles. Eles perderam muito cedo, algo que tivemos de sobra durante aqueles anos: Inocência. Através dela, nós viamos toda a beleza do mundo. Eu não gostaria de ser jovem nos tempos de hoje nem pelo corpo mais elegante do mundo. Eu sou uma velha hippie, gordinha e feliz!

Acho muito interessante interagir com pessoas da minha idade nos dias de hoje – no trabalho ou socialmente. Às vezes eu gosto de levar o assunto da conversa para a nossa juventude, na década de 70. Os comentários que ouço são bastante peculiares. Por exemplo: "Oh, [isso] foi há muito tempo atrás... eu mal posso lembrar [daquilo tudo]", ou "eu estava ocupado(a) com [outras] coisas", ou mesmo "eu conhecia algumas pessoas que estavam [nessa] naqueles anos," e assim por diante. A coisa fica melhor ainda quando menciono o socialmente aceitável uso da maconha. Algumas pessoas limpam suas gargantas, alguns dão uma risadinha nervosa ou ficam muito vermelhos, mudando de assunto rapidamente. Outros olham para seus relógios "puxa ... eu tenho que ir." Isto seria até engraçado se não tivesse uma conotação tão triste: A profunda negação da nossa juventude e das coisas positivas que demos ao mundo. Como se ter sido Hippie fosse algo vergonhoso.

Infelizmente, hoje os Hippies são lembrados como um grupo de drogados derrotados, que não tomavam banho. E o que é ainda mais triste é que nós, as antigas ”Crianças com Flores", como éramos chamados por usarmos flores nos cabelos, estamos permitindo que esta idéia absurda persista; e que entre para a história como apenas outra mentira a ser engolida pelas gerações futuras.

Aqui está a verdade: Os Hippies não aceitavam violência ou abuso de autoridade política. Nós não acreditávamos na mentalidade corporativa – exploradora de pobres sofredores - só para fazer mais lucro. Acreditávamos na igualdade e na fraternidade. Nós também não aceitávamos a divisão social de classes. Nós apoiamos o ‘Movimento dos Direitos Civis’ (nos EUA) e o início da ‘Liberação Feminina’. Nós fomos contra as ditaduras assassinas em outros países. Fomos contra todas as guerras. Na verdade, nós fazíamos o amor e não a guerra! Fomos a geração pioneira da difícil batalha contra a homofobia. Nós adorávamos nossa música e valorizávamos a Mãe Natureza. Então, o que está tão errado e vergonhoso em tudo isso?

Hoje, "Paz" é uma palavra desprezível e sinônimo de "antipatriotismo". Os religiosos evangélicos pregam sobre a “Paz na Terra,” mas exibem bandeiras americanas do lado de fora de suas igrejas apoiando as guerras. E, em geral, as pessoas aceitam tudo isso sem nem mesmo questionar. E nós, os Hippies, supostamente fomos os loucos - a geração dos moralmente derrotados. Eu estou confusa…

Acredito que se tivéssemos ficado unidos e não tivéssemos tentado enterrar viva nossa juventude, poderíamos ter tido muito mais influência nos acontecimentos de hoje. Nós provavelmente poderíamos ter mudado o curso do destino do mundo.

Às vezes, eu tento adivinhar onde estão todos os meus velhos amigos do Haight-Ashbury*. Eu sei que muitos não sobreviveram. Não estou negando nada aqui, me entendam. Eu sei que muitos não conseguiram achar o seu caminho de volta das estradas escuras das drogas pesadas. Eu sei que muitos estavam demasiado enfraquecidos para suportar a batalha da renúncia e pereceram. Mas é tão triste pensar que muitos, como eu, voltaram e passaram a viver as chamadas vidas "normais" – nós, aqueles que retornaram das “viagens” e seguimos em frente. Onde estão eles? A maioria está trabalhando e com as suas famílias, como eu estou. Alguns agora até negam ter experimentado drogas, mas infelizmente estão andando pelo Centro da Cidade, em ternos ou saltos altos, viajando em ‘Prozac’ e gastando fortunas em psicoterapia. Alguns chegam a contemplar o suicídio - e eles ainda dizem que nem sequer tragaram.

Ha uns dois anos atrás, minha velha amiga Christina e eu fomos a um concerto de rock juntas. Era o mês de junho na Califórnia e, se supunha, o início do verão. Mas curiosamente estava chovendo - uma garoa fria - totalmente fora de época. Nós ficamos irritadas porque tínhamos entradas para sentar no gramado - "chova ou faça sol". Mas os ‘Moody Blues’ estavam tocando e o show tinha que prosseguir - e nós também.

Todas encapotadas e armadas com um enorme guarda-chuva e uma velha cortina de chuveiro nós fomos para o ‘Pavilhão de Concord’, já lotado, apesar do clima. Christina e eu estávamos em espírito de aventura, estávamos lá para o que a noite nos fosse trazer.... nós éramos jovens outra vez.

Sentadas na velha cortina de chuveiro e amontoadas embaixo do grande guarda-chuva, Christina e eu fumamos um dos baseados mais gordos que tínhamos tragado em anos. Ah...sim....nós duas, como responsáveis mães de família que somos, já não o fazíamos tanto há muito tempo, mas aquela noite era especial - nós podíamos sentir. E quando olhavamos ao redor, encantadas pelos sons melodiosos dos ‘Moody Blues’ I know you’re out there .... somewhere …. somewhere … somewhere” de repente, eu os vi - todos os meus amigos de tempos atrás, lá estavam eles - todos os velhos Hippies. Todos eles haviam embarcado na nave de volta para os nossos “Dias de Flores” também.

Alguns tinham mudado bastante – estavam de cabelos curtos e até mesmo usando roupas formais, mas ainda assim eu sabia quem eles eram. E eu vi muitos cabelos longos afinando, e barbas grisalhas, muitos rostos sorridentes - seguindo a música - olhos sonhadores, emoldurados por rugas. Mas eu reconheci todos eles imediatamente, meus queridos amigos! "Onde vocês estiveram este tempo todo? Eu estava procurando .... " Meus olhos se encheram de lágrimas quando eu olhei para o céu e percebi que a chuva tinha ido embora e algumas estrelas desbotadas estavam querendo brilhar. "Estou em casa", pensei, "estou em casa!"

E então a música parou cedo demais - o concerto se acabou. Nós todos nos levantamos e, muito lentamente, fomos embora, de volta às nossas vidas. Mas de alguma forma, havia uma sensação de paz e alívio entre todos. Eu senti como se cada um de nós tivesse ido lá pela mesma razão: reencontrar a nossa juventude perdida. E nós conseguimos! Nós saímos, com a certeza de que éramos muito reais e de que tudo o que fomos uma vez, era importante para a história da humanidade e para o futuro que ajudamos a criar. Paz e Amor!


*A 'Haight-Ashbury' é a esquina de duas ruas com os mesmos nomes, lugar exato onde teve inicio o Movimento Hippie em San Francisco, Califórnia, na segunda parte da década dos anos 1960.


Where did the flower children go?    
August 2003

At the beginning of this year, as I celebrated one more birthday, I said “wow, where did time go?” Good rhetoric question. Then I went on thinking about my youth in the 1970s.

Once more I realized how happy and proud I am, to have been part of the ‘Flower Children’ Hippie generation. I believe those were the best years of my life. Not the easiest, but certainly the grandest!

Seeing the younger generations today and what they have to deal with - their struggles - I feel for them. They lost very early something we had to spear for years: Innocence. Through that, we saw all the beauty in the world. I would not want to be young in times like these, for the most elegant figure in the world. I am a happy chubby old Hippie!

I find it very interesting interacting with people my age these days – either working or in social situations. Sometimes I like to veer the conversation toward our youth in the 1970s. The comments I hear are quite peculiar. For instance: “Oh, [that] was a long time ago…I can hardly remember [it],” or “I was busy with [other] things,” or even “I knew some people who were into [it] back then” and so on and so forth. Things get even better when I mention the then socially-acceptable use of marijuana. Some people clear their throats, some giggle nervously – or they blush heavily, changing the subject quickly. Others look at their watches, “gee … I gotta go.” This would actually be funny if it did not have such a sad connotation to it: The deep denial of our youth and the positive things we gave to the world. As if having been a Hippie was something to be ashamed of.

Unfortunately, today the Hippies are remembered as a bunch of drugged-out losers, who did not bathe. And what is even sadder is that we, the former ‘Flower Children,’ as we used to be called for wearing flowers in our hair, are allowing this absurdity to persist and go down in history, just as another lie fed to the generations to come.

Here is the truth: The Hippies did not accept violence or political abuse of authority. We did not believe in the corporate mentality which exploits the already-suffering poor, just to make more profit. We believed in equality and brotherhood. We also did not accept social class division. We supported the Civil Rights Movement and the rise of the Women’s Liberation. We were against murderous dictatorships in other countries. We were against all wars. We actually made love, not war! We were the pioneer generation of the uphill battle against homophobia. We loved our music and we valued Mother Nature. So, what is so wrong and shameful about all that?

Today, “Peace” is a dirty word and a synonym of “unpatriotic.” The religious righteous preach about ‘Peace on Earth’ and display flags outside their churches in support of wars. And generally, people are accepting all this without even questioning it. And we, the Hippies, are supposed to be the insane ones – the generation of losers. I am confused….

I believe that if we had stuck together and had not try to bury our youth alive, we could have had a lot more influence in today’s events. We could probably have changed the course of the world’s destiny.

Sometimes, I try to guess where are all my old friends from the Haight-Ashbury area. I know many did not survive. I am not in denial here, mind you. I know many did not make their way back from the dark roads of heavy drugs. I know many were too weakened to endure the letting-go battle and perished. But it is so sad to think of the so many who, like me, returned and went on to live the so-called “normal” lives – we, the ones who made it back from the “trips” and moved on. Where are they? Most of them are at work and with their families like I am. Some now deny even experimenting with drugs but sadly are walking down the Financial District, in business suits or high heels, high on ‘Prozac’ and spending fortunes in psychotherapy. Some even contemplating suicide – and still they say they didn’t even inhale.

A couple of years ago, my old friend Christina and I went to a rock concert together. It was the month of June in California and it was supposed to be the beginning of Summer. Oddly enough, it was raining – a cold drizzling rain - totally off season. We were annoyed because we had lawn tickets – “rain or shine”. But the Moody Blues were playing and the show had to go on - and so did we!

All bundled up and armed with a huge umbrella and an old shower curtain, we headed to the ‘Concord Pavilion’ which was packed in spite of the weather. Christina and I were adventurous, we were there for whatever the evening was going to bring us … we were young again.

Sitting on the old shower curtain and huddling together under the big umbrella, Christina and I smoked one of the fattest joints we had inhaled in years. Oh …. yes.... as responsible mothers that we are, we both have slowed with that a long time ago too, but that night was special – we could feel it. And as I looked around elated by the melodious sounds of the Moody Blues’ “I know you are out there somewhere …. somewhere … somewhere,” suddenly I saw them – all my long lost friends, there they were – all the old Hippies. They all had boarded the spaceship back to our ‘Flower Days’ too.

Some had changed quite a bit – they had short hair and even wore formal clothes, but I still knew who they were. And I saw many long thinning hairs and grey beards - many smiling faces, following the music - dreamy eyes, framed by wrinkles. But I recognized all of them immediately, my dear friends! “Where have you been all this time? I have been looking….” My eyes filled with tears as I looked up to the sky and realized that the rain was gone and a few faded stars were attempting to twinkle. “I am home,” I thought, “I am home!”

And then the music too soon stopped - the concert was over. We all got up and very slowly walked away, back to our lives. But somehow, there was a sense of peace and relief among all. I felt as if each one of us had been there for the same reason – to find our lost youth. And we did! We walked away with the certainty that we were very much real and that whatever we once were, was important to the history of mankind and to the future we helped create. Peace and Love!


* The ’Haight-Ashbury’ is the corner of two streets with the same names, the exact place where the Hippie Movement began in San Francisco, California, in the second half of the 1960s.





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Cecilia B. Silveira-Marroquin era escritora antes mesmo de ser alfabetizada. Com apenas 2 anos de idade, ela brincava com bonecas de papel e criava estórias. Nascida e criada no Rio de Janeiro, Brasil, morou a maior parte da sua vida na Califórnia, EUA, para onde se foi com 22 anos de idade e onde se casou (mais de uma vez), teve três filhos e estudou Direito e Criminologia, trabalhando sempre nesta área profissional. De volta ao Brasil, além de lecionar inglês e espanhol, ela faz trabalhos de tradução e ultimamente resolveu se dedicar de corpo e alma a sua velha paixão: Escrever! Links: Facebook e Youtube





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