O (en)cantador de sonhos
E Chico Lobo chegou aos sessenta anos! Quarenta deles dedicados à viola e às modas. Delas tornou-se amigo. Confidente atento aos seus desejos. Deu-lhes personalidade e amor. Fez-se íntimo. Parceiro de vida. Amante fiel e respeitador. E as trata como rainhas que são e sempre serão. Dá-se através delas e para elas. Tocando e criando, abre-se ao mundo. E assim, juntos, ganham a vida em folias, catiras, modas e batuques, através dos quais a viola ponteia, revelando sua história em construção.
Com produção musical e arranjos de Ricardo Gomes, que tocou baixo, violão, teclados e fez vocais, além de cinco outros instrumentistas, ficou garantido o apoio para que Chico Lobo recebesse quem o admira em Chico Lobo 60 Anos (Kuarup).
A tampa abre com “Benvirá” (Chico Lobo), cantiga com letra engajada, inspirada no disco Das Terras do Benvirá, de Geraldo Vandré, e que teve a participação do MPB4 (honraria a nós concedida). Em duo com Zeca Baleiro, a balada “Hoje Amanheci em Paz” (CL) reflete o estado de espírito do sessentão. “Viola, Verso e Canção” (CL e Jorge Nelson) é um batuque mineiro que lembra uma chula do recôncavo baiano e tem participação de Roberto Mendes.
“Vida Bela” (CL) é a história do amor entre Chico e sua esposa Angela Lopes, que conta com a voz do cantor paulista Tuia. “Alma Barroca” (CL e Thales Martinez) é uma canção em que Chico expressa gratidão à vida, e tem Renato Teixeira a dividir o canto com ele. Em “Meu Primeiro Amor” (Hermínio Gimenez, José Fortuna e Rafael Hidalgo), única composição que não é de CL, temos Maria Bethânia cantando com ele. Emoção pura.
Chico escreveu a letra para uma melodia que considera ser uma “rapsódia caipira”, “Violas de Minha Terra Canção” (Marcus Viana e CL), na qual um arranjo exemplar ajuntou sua viola ao violino de Marcus Viana. “Nascente do Rio” (CL) foi composta para louvar as belezas de Minas, e Lobo convidou o guitarrista Cláudio Venturini para tocar com ele. “Trovador de Sonhos” (CL), cujo título define a sua “sina”, tem participação do parceiro e amigo Renato Boechat em novo arranjo com violinos (Marcelo Fonseca) e vocal de Gih Saldanha – bela é a sorte do violeiro que tem a glória de ser um cantador do mundo.
“Frutos da Terra” (CL) / “Lírio Roxo”, música tradicional do Alentejo, foi adaptada pelo português Pedro Mestre, que a canta com Lobo. “Roçado” (CL e Marília Abduani) tem a festa das folias e reisados como tema – bateria e percussão soam, enquanto o tocantinense Genésio do Tocantins canta com Lobo. “Harmonia” (CL) é uma bela toada caipira, feita por Chico para homenagear Rolando Boldrin – para tanto, chamou a dupla Élcio Dias & Amorim. O resultado é encantador.
A tampa fecha com “Filho É Feito Pro Mundo”, composta por Chico para seu filho Tomás. Amor absoluto e sincero, digno do talento de um violeiro (en)cantador de sonhos.
_________________________
Aquiles Rique Reis. Nossos protetores nunca desistem de nós. Músico, integrante do grupo MPB4*, dublador e crítico de música.
*MPB4 é um grupo vocal e instrumental brasileiro formado em Niterói, Rio de Janeiro, em 1965. A primeira formação contou com Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria. Em 2004, Ruy Faria saiu do quarteto, sendo assim substituído por Dalmo Medeiros, ex-integrante do grupo Céu da Boca, convidado para ficar em seu lugar.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário