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Nuno Camarneiro [Professor e Escritor Português]

Nuno Camarneiro nasceu em 1977. Natural da Figueira da Foz, licenciou-se em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra, onde se dedicou à investigação durante alguns anos. Foi membro do GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e do grupo musical Diabo a Sete, tendo ainda integrado a companhia teatral Bonifrates. Trabalhou no CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear) em Genebra e concluiu o doutoramento em Ciência Aplicada ao Património Cultural em Florença. Em 2010 regressou a Portugal, sendo actualmente investigador na Universidade de Aveiro e professor do curso de Restauro na Universidade Portucalense do Porto. Começou por se dedicar à micronarrativa, tendo alguns dos seus contos sido publicados em colectâneas e revistas. No Meu Peito não Cabem Pássaros é a sua estreia no romance.


«Vai um pássaro a voar baixinho, tia, é lindo e vai perdido a voar. Aqui não é céu de pássaros. Tenho muito calor dentro de mim, tia, tenho calor e falta-me o ar. Leve o pássaro para a rua, lá para onde puder voar. No meu peito não cabem pássaros.»



Que linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros arranha-céus de Nova Iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num navio e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem”? Muitas. Entre elas, as linhas que atravessam os livros.

Em 1910, a passagem de dois cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que acreditavam ser o fim do mundo.

Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance - três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar.

Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles.

Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens."



"Debaixo de algum céu", de Nuno Camarneiro, foi o vencedor do Prémio LeYa, com o valor pecuniário de 100.000 euros, sendo divulgado pelo presidente do juri, Manuel Alegre, na sede do grupo editorial.




A narrativa de Debaixo de Algum Céu ocorre num lugar comum: um prédio encostado à praia, onde vários inquilinos vivem as suas existências singulares e, simultaneamente, conjuntas. No que diz respeito ao tempo, uma semana é o suficiente para entendermos a dinâmica dos habitantes e das suas vidas, o purgatório em que se encontram e os acontecimentos que se desenrolam desde o final do ano até ao início do outro. São várias as personagens que nos são introduzidas: uma senhora de idade que vive sozinha com o seu gato, casais com filhos que enfrentam as dificuldades de um matrimónio já longo ou de um ainda cru, um padre que enfrenta os mistérios da religião e a inquietude da alma, uma mulher que traz às costas o fardo de um grande pecado, um informático que trabalha de noite sobre o futuro que ainda há-de vir, um velho homem que faz música através dos objectos que encontra na praia. São pessoas que conseguimos facilmente reconhecer, pois cada andar é uma etapa da vida, uma divisão da existência humana e de todas as suas dimensões, medos, alegrias, vivências – ou até desistências. 

Aquilo que sobressai na escrita de Nuno Camarneiro é a sua capacidade de colocar em palavras sentimentos e experiências que, por diversas vezes, passam desapercebidas ou ignoradas. O leitor, através deste romance, é convidado a entrar não apenas num prédio com janelas, portas, paredes e betão, mas, e sobretudo, numa visita guiada à sua própria natureza. Quando incitado a ler as características e dúvidas das personagens, é confrontado com pensamentos que são também os seus, com dúvidas que são também as suas. No fundo, Debaixo de Algum Céu mostra-nos um retrato de uma sociedade demasiado actual, de pessoas que contam as suas histórias; histórias que, de um modo ou de outro, nos pertencem. São problemas e inquietudes actuais, mas também seculares, a natureza do Homem posta a descoberto, como se a casa que o escritor fala não tivesse paredes, só janelas, só vidro, só uma transparência viva.



A editora Maria do Rosário Pedreira afirmava: "É um romancista jovem que, vindo da área científica, revela uma extensa cultura literária e grande capacidade de criar empatia com o leitor no tratamento de questões humanas e universais".

Nuno Camarneiro olha para a frente com desenvoltura, e assegura querer continuar a escrever. Como quer também continuar a fazer ciência, essa sua outra paixão. Em Portugal trabalha na área da Física e Química, fazendo simulação computacional de moléculas e dando ainda aulas aos alunos de Restauro da Universidade Portucalense, de Ciências Aplicadas aos Bens Culturais. Espera ficar em Portugal, mas sabe que o preço a pagar para cá viver é alto. A escrita é possível em toda a parte, a ciência está cada vez mais impossível aqui.



«A ciência em Portugal, nos últimos 30 anos, teve uma progressão notável, em todos os aspectos. E isso reflectiu-se no número e qualidade das publicações por cientistas portugueses. Mas há um fim de linha. Depois de um ou dois pós-doutoramentos são poucos os que conseguem um lugar como professor ou um contrato. Há uma enorme precariedade até muito tarde. Esse tem sido o maior problema. Com a crise estão a começar outros. Teme-se um corte de financiamentos e há menos alunos a ir para o Ensino_Superior. O que não augura nada de bom». Uma pena, diz Nuno Camarneiro, salientando que há áreas em que estamos no topo do que é feito mundialmente, como na Neurologia e em várias áreas da Biologia e da Física._«Há pequenos nichos onde temos dos melhores grupos mundiais. Mas ao contrário dos países que absorvem os cientistas, como EUA, Inglaterra e Alemanha, onde há um investimento das empresas muito sério na investigação e muitos cientistas que colaboram ou trabalham directamente com o privado, isso aqui não acontece. Ainda não se percebeu que é pela investigação e pelo desenvolvimento que podemos conseguir ter melhor qualidade e exportar mais».



Publicações em Revistas Literárias:

“Nephelibate”, Nouvelle Revue Française, Gallimard, 2013
“Beijar o Mar”, “Rua Larga”, Universidade de Coimbra, 2012
"Concomitância", "A Sul de Nenhum Norte", 2012
“Heteróclito”, revista “Voca”, Porto, 2009



vigília

a vida é tão cheia de mortes
como horas em que não és
como horas em que espero
os meses lentos e baços
entre a ferida e a cicatriz
dormir é morrer às vezes
e os dias remendos finos
nos lábios de quem sonha
todos os beijos são quedas
todos os versos são gritos



Um comentário

Cristal de uma mulher disse...

Uma maravilha de sensibilidade e de alma..Ferve nas veias do autor esta junção...parabéns

Cristal