Carlos Sérgio Bittencourt.
Nascido em Cataguases, participa da área cultural
da cidade, destacando-se como autor teatral, diretor, ator, professor de teatro,
contista e poeta.
Sua primeira
peça, “Apaguem os Lampiões”, foi
encenada em Cataguases no ano de 1977. Um ano depois, sua segunda peça, “Sorri Periferia”, foi dirigida pelo ator
e diretor Nelson Xavier, do Rio de Janeiro.
Em seguida,
escreveu o musical infantil “O Condomínio
da Floresta Encantada”, encenado no Teatro Princesa Isabel e no Teatro da Praia,
ambos no Rio de Janeiro. Além das peças citadas, escreveu várias outras, no Rio
de Janeiro, destacando-se “Um Visionário
na Noite”, encenada no Teatro da Praia, no Rio, em 1995.
Entre 1998 e 2011,
escreveu e dirigiu os espetáculos anuais apresentados por seus alunos de
teatro, das turmas de adultos, adolescentes e crianças, da Escola de Música Lila
Carneiro Gonçalves.
Nesse mesmo
período, escreveu e dirigiu os seguintes espetáculos: “Ato Final”, “Nunca Sem Poesia”, “Onde Está Minha Poesia?”, “Um Homem Chamado Simão”, “Verdades & Mentiras”, “A Herança” e “O
Segredo do Espelho Mágico”; foi professor convidado de Teatro e Literatura
da Faculdade Integrada de Cataguases – FIC; coordenador do projeto “Caminho das Águas”, evento patrocinado
pela Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais; e escreveu as peças “De Profundis”, “Parabéns Pra Você”, “Espíritos Não Choram”, “A Cantora e o
Seresteiro”, “A História de João
Tertuliano” e “Quer Dançar Comigo?”.
Em 2011, conquistou os troféus de “Melhor
Diretor” e de “Melhor Espetáculo”
no VI Nepopó Festivao, Festival de Teatro de São João Nepomuceno (MG), com o
espetáculo “A Herança”, além de
outros prêmios concedidos à montagem da peça.
Como ator,
participou de diversos espetáculos teatrais, filmes e novelas.
Como contista e
poeta, tem trabalhos publicados em livros, suplementos literários e jornais.
CONTO DE CARLOS SÉRGIO BITTENCOURT
A
Boca de Rosa Piston
Rosa Piston. Ninguém sabia por que este
nome. Talvez por causa da boca redonda, de lábios em bico, boquinha de Brigitte
Bardot. Boca de lábios vermelhos e língua lasciva. Disputada por todos, a todos
comprazia por uma noite na pequena casa da rua retirada. Escolhia um e depois
relatava com minúcias os momentos vividos, feliz em destacar a voracidade do
parceiro. E cada um se envaidecia e morria de rir ouvindo suas proezas na cama.
Rosa Piston não era dali. Conquistou a
cidadezinha aos poucos, assustando de início com seu jeito despachado, tipo
insólito naquela região doméstica, asséptica, de noites de conversas amenas.
Nós, da turma de 13 a
17 anos, olhávamos fascinados para Rosa Piston e invejávamos os amigos mais
velhos que nos revelavam cenas incríveis. Sim, Rosa Piston era proibida para
menores de 18 anos. Os poucos que se atreveram a se aproximar foram rechaçados
com a frase: “Não corrompo menores, volte quando completar 18 anos” e ouviram
sua enorme gargalhada sacudindo o farto corpo cobiçado.
Aquilo aguçava nossa curiosidade e nunca,
em lugar nenhum, houve garotos que mais esperaram completar a maioridade do que
os de nossa terra. Eu, que tinha 17 anos, contava os meses e os dias para o
momento da iniciação, quando segredos de alcova seriam revelados em horas
excitantes e voluptuosas.
Um dia, na praça vazia, vi Rosa Piston
chegar, eu abrindo-lhe espaço como um súdito, olhos fixos no cálido andar do
vulto sensual. Súbito, Rosa Piston cambaleou e se largou num banco de pedra. E
foi então que percebi seus olhos rútilos e a face crispada. Ela bradava
palavras que eu não entendia e as lágrimas desfaziam sua maquiagem.
Acalmou-se aos poucos, mas permaneceu
chorando, os olhos perdidos num ponto qualquer. E eu ali, constrangido, olhando
sua boca redonda, seu rosto sofrido, vincado e vermelho. A praça permanecia
vazia, o tempo parara naquele espaço do mundo, só eu e Rosa Piston como
personagens naquele cenário lúgubre, quando o silêncio foi quebrado pelas
badaladas das seis horas da tarde. Súbito, Rosa Piston me encarou e pude
distinguir um leve sorriso naquela boca de lábios especiais. E disse: “Vai lá
em casa às oito horas. Espero você hoje sem falta”.
Levantou-se e se foi. Eu era um rapazote
reprimido, ávido na imaginação e parco na prática. O que me animava era a
certeza de que um dia teria Rosa Piston. Aquela mulher nua na cama a me ensinar
os segredos do amor era a imagem que me deleitava nos prazeres solitários. E
naquela noite, eu, menor ainda, iria à sua casa, convidado por ela.
Às dez para as oito andava na calçada de
sua rua, de um lado para o outro, aguardando o momento. Curiosidade, excitação,
receio, tudo aflorava em minha mente. Sabia que dali a minutos iria viver um
instante decisivo. Receber a iniciação antes do tempo no templo de Rosa Piston,
minha sacerdotisa do sexo. Às oito em ponto, timidamente, bati palma frente ao
portão de madeira.
Comecei a tremer no instante mesmo que Rosa
Piston apareceu na pequena varanda. Vestida com um quimono vermelho
entreaberto, cabelos ouriçados, cheirando a leite de rosas, ela abriu o portão.
Sem maquiagem, apenas a boca pintada de vermelho vivo, sem cintas, carnes
balofas, seu tipo me lembraria mais tarde a estranha e fascinante Saraghina,
felliniana putana da infância de Rimini, com seu rosto grotesco, amargo e seu
corpo de banhas convulsas. Seria cômico chamar aquela boca com lábios grossos e
borrados de boquinha tipo Brigitte Bardot.
Rosa Piston me colocou sentado num sofá e
sentou-se numa poltrona em frente, criando para ela uma platéia que aguardava
atenta o início do espetáculo. Meu coração batia forte e confesso que estava
com medo. Não tinha ideia do que podia acontecer. Rosa Piston estava toda
escarrapachada, com as coxas gordas aparecendo na abertura do quimono, deixando
à vista veias e sulcos roxos descendo pelas pernas.
Não podia acreditar no que via, era como se
ali à minha frente estivesse uma outra mulher e não a minha sonhada deusa. Os
peitos fartos de matrona pareciam querer saltar do decote e o corpo mole,
desleixado e banhudo, pousava plácido e aliviado na poltrona depois da prisão
imposta pelas cintas e vestes apertadas e não sei mais que milagres ou amarras
que desenhavam aquelas banhas e transformavam aquele bucho inchado em curvas
amplas, desejadas e sensuais.
Ela acendeu um cigarro e começou a falar
num inusitado tom baixo. Falou do passado célebre, vedete famosa, idolatrada
nas capitais do país. Aplausos, adulações, contratos milionários, tudo no
rodamoinho da fama e das noites festivas. Depois se levantou com esforço e
colocou um disco na velha vitrola. Uma música roufenha escorreu pelo ambiente
fazendo fundo a suas palavras.
Falou do declínio, da bebida, do vazio
súbito a machucar suas ânsias de estrela. Depois a fuga para as cidades
pequenas, a criação de um tipo, a mulher voraz dos espetáculos de boulevard que fazia as delícias dos
homens. A necessidade de se oferecer a todos, num show particular naquele palco
insólito de sua sala. Espetáculos proibidos para menores de 18 anos, exatamente
como nas suas apresentações nos tempos áureos. Mas aquele dia era seu
aniversário. Sessenta anos.
Patética, Rosa Piston me encarou. “Você
será o último. Um virgem desta cidade imbecil deixará aqui a infância. Um
presente para mim no dia do meu aniversário”. E soltou uma gargalhada abafada
no instante mesmo em que deixou o quimono cair, as carnes caindo aos rolos,
exibindo-se totalmente nua.
O silêncio era total, agora que o disco de
vinil girava acabado no prato da vitrola. Rosa Piston virou o disco e se
rebolando toda acompanhou a introdução da música, uma velha ária italiana.
Gesticulando sensualmente, convidou-me a tirar a roupa. Esbocei timidamente
vagas recusas. Rosa Piston dançou, sacudindo o corpo oferecido, enroscando-se em mim. Envolvido pela
cena insolente provocada pela nudez decadente de Rosa Piston, tirei minha
roupa.
Novamente o disco acabou, mas Rosa Piston
cantou, ou parecia que cantava uma ária, para mim aquilo era um gemido sem fim.
E me abraçava, mergulhando seus seios inflados e tenros na minha cara. Havia
perdido toda a timidez e o medo. Excitado, louco, tentava sem vergonha alisar
cada vez mais aquelas carnes expostas, suas nádegas imensas e quentes. Até que
lhe penetrei o sexo e me sufoquei aos gritos de gozo entre suas coxas roliças,
esvaindo-me atado nos seus braços. Depois a música italiana, a voz de um tenor
contrapondo-se ao bailado lento da mulher nua, suada e suja.
Calado, assistia com náuseas o que me
parecia o epílogo. Até o som explosivo, seco. Rosa Piston jazia no chão. Um
revólver na mão, sangue escorrendo da boca. Daquela boca. Gran finale.
Carlos
Sérgio
Todos os direitos autorais reservados ao
autor.
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5 comentários
Acho que estou tão chocada e enojada qto o rapaz, personagem do texto, mto bem escrito,por sinal, tanto que me fez sentir as mesmas sensações dele(o personagem). Um misto de prazer e nojo, de luxúria e angústia pela vida decadente de Rosa Piston...
Os paradoxos da vida: uma que se inicia dentro da outra que se vai.
Vejo Nelson Rodrigues aqui...Parabéns! Fiquei fã!
Carlos Sergio
Gostei muito do texto. Simples e com um linguajar facil e acessivel na narrativa. Me transportei para o tempo de minha infancia, quando na Ilha Santa Helena tive ali minha primeira experiencia. Sem muita minucias na descrição mas fez-me lembrar.
Altamir Soares
REGULAMENTO DO “IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”
A Academia Machadense de Letras (Machado-MG / Brasil) comunica a realização em novembro de 2013 de seu IX Concurso de Poesias. As inscrições encerram-se no dia 14 de outubro (2013). Para receber gratuitamente o regulamento em arquivo PDF, entre outras informações, favor entrar em contato através do e-mail: machadocultural@gmail.com
Obs (PS): O tema é livre e aberto a todos de Língua Portuguesa e Espanhola e a taxa de inscrição é de R$5,00 pode ser enviada dentro do envelope.
Favor verificar o recebimento do regulamento em pdf e jpeg. Estarei aqui para novos esclarecimentos. Caso sua poesia seja classificada e você não puder aparecer, a Academia indicará um membro para declamá-la.
O concurso será realizado no dia 09 de novembro, às 20:00hs no Anfiteatro da Prefeitura Municipal de Machado-MG.
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Blog da Academia Machadense de Letras
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Meu Twitter
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Conheçam um pouco do meu trabalho cultural
http://www.youtube.com/watch?v=5gyGLdnpuvQ
Surpreende! Rodrigueano, sem dúvida!
Parabéns Carlos Sérgio Bittencourt..adorei ler vc aqui no Blogger. ..Coisas que não soube que fez..coisas grandiosas ..agora quero nunca mais deixar de saber de vc e do seu belo trabalho...obrigada meu amigo!!
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