No tempo do meu Castanho
Ouvi
o galopar dos cavalos ao longe vindo da planície verdejante e orvalhada em
minha direção. Não havia cerca que os impedissem de ir e vir quando quisessem.
Eu as tinha arrancado esperando ansiosamente esse momento.
Levou
muito tempo para ouvi-los outra vez e agora achegavam-se a mim devagar,
arfando, com olhares meigos e cheios de cumplicidade. O meu preferido,
Castanho, aproximou-se num trote delicado, de mansinho e meneava a cabeça como
quem pede desculpas pela longa ausência, pedindo carinho, insinuando que eu o
montasse. Acariciei o dorso, as crinas e seus grandes olhos castanhos
olhavam-me com uma ternura que doía e meus olhos ficaram borrados de uma maré
sem culpas. Seu pelo brilhava a luz do sol e suas ancas eram fortes e bem
desenhadas. Calma, eu falava, descanse um pouco e eu o montarei e iremos
conquistar terras não sonhadas e castelos de nuvens onde só nós saberemos como
encontrar para nos escondermos nos tempos ruins e lá colheremos maçãs e ervas
para o nosso sustento. Corri para dentro dizendo a eles que esperassem um
momentinho e arrumei um cesto cheio de maçãs e cubinhos de açúcar que usava
para adoçar meus chás. Distribui maçãs a todos e logo estava rodeada por
crinas, olhos e músculos que reluziam a luz do sol. Gritei para eles que o
celeiro estava aberto e que poderiam se servir de alfafa e como crianças que
correm num piquenique para comer torta eles se foram e aproveitei para montar
em pelo em meu Castanho agarrada em suas crinas. Galopamos sempre rodeados de
borboletas amarelas e libélulas. Galopamos por algum tempo que não se conta e
nem se mede e sumimos no horizonte da planície verdejante ao encontro de terras
não sonhadas e castelos de nuvens e meu Castanho alçou um voo levemente íngreme
e logo nos misturamos ao branco das nuvens, ao azul anil do céu daquela
primavera e as borboletas amarelas e as libélulas foram ficando para trás até
tornarem-se invisíveis e o que se via era apenas o verde desbotado em que a
planície transformava-se. Não olharíamos mais para trás, não entendíamos nada
disso sobre regressos e planos...
Marisete
Zanon.
Nascida em São Paulo, criada em Porto Alegre e atualmente residindo em Foz do Iguaçu.
Artista plástica e escritora. Pensa que um bloco de papel e um lápis bastam
para transformar o mundo. Tanto o poeta como o artista precisam estar
deslumbrados com alguma coisa para criar. Muitas pessoas querem renascer,
recomeçar, mas as vezes Marisete prefere estar nas nuvens, ou balançando em
algum galho de árvore.
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