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Rádio MEC é espaço para difusão da obra de compositores e instrumentistas clássicos [Revista Biografia]

Rádio MEC é espaço para difusão da obra de compositores e instrumentistas clássicos

Rio de Janeiro - Com 40 anos dedicados à Rádio MEC, Lauro Gomes acompanhou o processo de implantação do sistema FM, em 1983,  e foi o primeiro coordenador da  nova emissora. Além do Sala de Concerto, que comanda há 13 anos, ele apresenta Música e Músicos do Brasil, no ar há 50 anos e o segundo programa mais antigo do rádio brasileiro. O primeiro, também da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), é A Voz do Brasil.

Segundo Lauro Gomes, foram necessários três anos para a definição de uma grade completa para a FM. “Paulatinamente, a programação foi se diferenciando até que ficou decidido que a AM ficaria com a música popular e os programas educativos e a FM com a música clássica, a música de concerto. No entanto, alguns programas tradicionais, como a Ópera Completa, continuaram a ser transmitidos também na AM”, conta.
Testemunha da longa tradição de música clássica da rádio, quando ela só transmitia em AM, Lauro lembra que a implantação do sistema FM era uma cobrança do público, por causa da qualidade sonora da banda. “Na época, em FM só havia música clássica em algumas horas na JB FM e na Globo FM.  Nos anos 90, surgiu a Opus 90, que enquanto existiu tinha uma vantagem sobre a MEC FM porque tinha um som melhor. Hoje não, a MEC tem um som muito bom”, diz.

Para Lauro Gomes, o caso da extinta Opus 90 mostra como é fundamental o critério de seriedade na programação de uma rádio voltada para a música clássica. “A Opus 90 transmitia uma obra clássica em pedaços, ou seja, apenas um movimento de um concerto ou de uma sinfonia, uma filosofia que não adotamos de jeito nenhum. A obra tem que ser tocada por inteiro, como o compositor a imaginou Por isso, a nossa programação nunca foi contestada, temos um ouvinte fiel e agora, com o som melhor, a rádio deslanchou”, enfatiza. 

Apresentado todas as sextas-feiras, das 17h às 18h, o Sala de Concerto é o reflexo mais conhecido dessa filosofia. Segundo Lauro, a decisão de fazer o programa no Estúdio Sinfônico Alceo Bocchino, da emissora, foi pelo fato de haver lá o piano que era utilizado nas gravações feitas na rádio. “Fizemos do estúdio um auditório. Ficou muito gostoso pelo aconchego que deu. Pegamos o ouvinte e colocamos no coração da rádio. Compositores, como Ricardo Tacuchian, ficaram admirados por estarmos fazendo um programa de auditório, como o rádio de antigamente, com a música de concerto”, conta.

A exemplo do que ocorria com a Rádio Nacional no universo da música popular, até os anos 60 a então Rádio Ministério da Educação tinha seu elenco de artistas, no caso uma orquestra sinfônica, uma orquestra de câmara e um quarteto de cordas, um quinteto de sopros, um grande coral, um quinteto vocal e um conjunto de música antiga.

“Compositores como Francisco Mignone, Radamés Gnattali, Guerra Peixe e Bocchino criavam obras especialmente para a rádio, porque ela tinha uma orquestra, um quarteto, um quinteto, enfim, para interpretá-las em primeira mão”, lembra. Posteriormente, a rádio possibilitou a difusão de obras de compositores como Edino Krieger e Marlos Nobre. “Eles são da geração formada na Rádio MEC”, conta Lauro.

Hoje a realidade é diferente, o que não impede que esse papel de difusão seja desempenhado pelo Sala de Concerto e pelo Música e Músicos do Brasil. Esse último é um programa gravado, que apresenta obras de compositores clássicos brasileiros ou destaca gravações de instrumentistas brasileiros, mesmo que executando obras de estrangeiros. Já no Sala de Concerto podem se apresentar ao vivo músicos brasileiros e estrangeiros.

Para o compositor clássico brasileiro, o Sala de Concerto é um espaço importante para a apresentação de obras inéditas, que ainda não foram gravadas. “Quem interpreta são os músicos de câmara que a gente convida para o programa. Às vezes, eu mesmo encomendo aos compositores uma obra inédita para que eles possam tocar”, revela o apresentador, que procura estimular os instrumentistas a gravarem compositores brasileiros. “Quando me chega um pianista jovem com uma gravação sua de uma obra de Chopin, por exemplo, para divulgar, eu digo: ótimo, está lindo, mas só que isto não vai vender, porque os maiores pianistas do mundo já gravam Chopin e ninguém vai escolher o seu disco”.

Com os pianistas brasileiros de renome internacional, como Nelson Freire, Arnaldo Cohen e Cristina Ortiz, a questão é diferente, segundo Lauro Gomes. “Eles não tocam e gravam muita música brasileira porque o mercado internacional não aceita”. Gomes reconhece, no entanto, que nos últimos anos vem aumentando o interesse mundial pelos compositores brasileiros. “Não apenas Villa-Lobos, mas também Francisco Mignone. Estão gravando muito, nos Estados Unidos e também no Japão”, diz.

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil


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