Com o tempo me torno melhor
Maturidade é uma coisa interessante e gostosa, saudável
e necessária. É verdade como afirmei alguma algumas vezes e sempre vou voltar a
afirmar, como um mantra, que a gente só aprende a viver vivendo, ninguém nos
ensina a viver, e que a experiência, a maturidade, o conhecimento de mundo, vem
daquilo que vivemos, raramente daquilo que conhecemos, estudamos e lemos, claro
que essas coisas nos ajudam, mas viver a gente aprende na pele, no sol, no dia
a dia.
Por mais que
alguém nos diga, olha toma cuidado, olha pensa melhor, precisamos sentir o
gosto o sabor do que é vida, como dizem, precisamos passar por lá. Não que isso
seja necessário, uma pessoa prudente e cautelosa prefere analisar-se e analisar
melhor o contexto, mas como somos, em nossa grande maior, imaturos, do ponto de
vista psicológico e filosófico, precisamos chorar pra podermos sorrir.
Saber-se quem se
é e não se deixar velar pela fruição do mundo, pelos rios que correm pela vida
e arrastam vidas, hoje não é mais uma qualidade, mas uma necessidade. Não
precisamos embarcar nos modismos, nas paixões, nos vícios, mas isso se faz
através do controle de si mesmo, do conhecimento dos sentimentos e dos desejos
que acalentamos dentro de nós mesmos.
Em nossa grande
maioria somos orgulhosos e vaidosos, nem quero aqui hoje falar do nosso
egoísmo, mas o nosso orgulho e a nossa vaidade nos empurram para o geral, para
a massa, fazendo com que percamos a nossa individualidade e venhamos a fazer o
que tudo mundo faz, só por senso bobo de inclusão. Não precisamos, precisamos
de valores e de ser quem somos.
Como diz um brocado oriental, quando você não sabe pra
onde ir, qualquer caminho lhe serve de destino. E por qual motivo estou a dizer
essas coisas? Porque a nossa sociedade não permite que a gente pense diferente.
Ainda ontem uma pessoa me ligou e perguntou, como foi de final de semana, eu
respondi, normal, não simpatizo muito com a ideia, e ela com veemência me
retrucou, mas por que você não gosta de nada? Eu disse, oras, e sou obrigado a
gostar? Qual o problema em não gostar, há tanta gente por aí com o mesmo
sentimento de neutralidade e indiferença, por que logo não posso sentir o
mesmo? Ela sentiu o que eu havia dito.
Ter essa maturidade de si mesmo, de se conhecer, te
permite não sofrer pelo que os outros fazem e você não. A gente amadurece e
aprende que não irá morrer se não tiver a roupa da moda, se não for à festa
mais badalada da cidade, se não tiver o celular último modelo, se não souber a
notícia antes de todo mundo. Isso não nos mata, o que nos mata é não saber o
que sentimos, o que nos magoa, nos fere, nos faz perder o sono, o afeto, a
meiguice.
O último Natal passei em casa, sem ceia, sem presente,
vendo um filme, lendo um livro, deitado na rede, ouvindo a alarido das pessoas
pelas ruas, sem me preocupar muito em aparecer, ser visto, meus valores são
outros, cultivo o silêncio dos livros e o sossego do lar.
Curto ser sozinho e adoro a minha solidão universal,
solidão quenão é de pessoas, mas de sentimentos e pensamentos, pensar coisas
que ninguém compreende, quando as pessoas não te aceitam como você é e vive,
isso é solidão, é ser solitário, é ser sozinho num mundo que quer ser sempre
igual a todos, quer ser massivo, banal, ordinário e você prefere ser quem você
é, com sua história, com sua vida, seus valores.
A maturidade te faz entender isso, que ninguém pode
roubar você de você, nem você irá deixar de ser quem é se não for a tudo,
participar de tudo, estiver em tudo, essa loucura que a gente colocou na
cabeça. Acho que engraçado quando o povo vem me dizer, preciso, quero,
necessito ter um amor, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo,
quando o importante é ter amor, não um amor pra si, esse sentimento egoísta de
posse, mas ter o sentimento de amor por algo, pela leitura, pelo trabalho, pela
família, pela vida, esse amor passional virá com o tempo e melhor que seja de
forma serena, cúmplice e simples, sem afoitamento.
Faz parte da nossa loucura coletiva, da nossa
insensatez diária, cotidiana, da nossa busca pelo nosso conhecimento sobre a
vida e sobre nós mesmos. Mas só amadurecendo nos tornaremos melhores e mais
conhecedores de nós mesmos e do que somos. Quase terminado o ano e posso dizer
que ainda me busco a cada momento, sempre.
Ronaldo Magella é professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista,
cronista, tem 33 anos, é do signo de peixes, não gosta de futebol, prefere
livros, é formado em Letras e Jornalismo pela UEPB, tem especialização em
linguística, e agora é acadêmico de Pedagogia pela UFPB, adora MPB, Rock, café,
romance, paixão e café, não nessa ordem, trabalha hoje com
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