A CRISE DA POESIA BRASILEIRA ATUAL
Por Cláudio Portella
Rezo para que este texto crítico sobre a atual poesia
brasileira fique datado. Por dois motivos: a poesia está carente e eu estou em
crise. Espero que daqui algum tempo tudo melhore. A poesia volte a ver
passarinho verde e eu a dar pulinhos. Dizem que a poesia nasce da carência e o
poeta se faz na crise.
Será?
Um poeta que está publicado na Babel Poética me
perguntou: “carente de quê?”. Sem pensar muito respondi: “de tesão!”. Mas o que
é a porra do tesão senão o sentimento mais recorrente do mundo. Enganam-se quem
pensa que é o amor! Justamente por esse engano o país está lotado de poesia de
gosto duvidoso. Mas o que é poesia? O que é poesia meu caro Edson Cruz?
Não saber o que é poesia é o que me faz está em crise.
Quase tudo parece ser poesia e deve ser respeitado como tal. Suas muitas faces
estão por toda parte. Confundo-me, entro em crise. Decidi não mais opinar sobre
a poesia de ninguém. Difícil vai ser me segurar. Por favor, não me perguntem
mais o que acho de seus poemas.
Mas não é só de tesão que ela está carente. Vejamos:
“de humor”. Não a continuidade do humor dos modernistas e dos marginais. Um
humor que não tire sarro do poeta, do criador, mas da criatura, de si mesma.
Deixar de se levar a sério.
Falar dos vícios que a atual poesia carrega é repetir o
que disse em outros textos. Mesmo nas edições da Babel Poética onde os poemas
são selecionados por temáticas a cada número, o que poderia trazer uma poesia
menos viciada, os vícios estão lá.
Vejamos outra carência: “de RG”. Está sentada no divã
procurando a identidade. É um reflexo dos tempos a falta de identidade? Sendo
assim, enveredou pelo lado errado. O lado é o outro, onde na falta de um mundo
com alma, a poesia deveria possuir, feito uma entidade, o corpo, a carapaça oca
do mundo.
Estamos copiando formas que no passado funcionaram bem.
Por favor, não me venham com: “o que é bom deve ser copiado”, justificando a
falta de talento em criar uma fórmula que alegre o velho crítico, o leitor
cansado de ler e reler os poetas do passado e o novo mundo desalmado.
Como fazer isso? É com vocês. Espero ter dado um
resquício de pista diagnosticando que a engrenagem emperrou, só gira em
translação. Sou apenas um crítico em crise que cansou de opinar sobre poesia,
esse gênero de muitos disfarces.
Cláudio Portella é escritor, poeta, crítico literário e
jornalista cultural. Tem 10 livros publicados. Compõe o quadro do conselho
editorial do projeto Babel Poética.
Texto publicado no número 6 da revista Babel Poética.
CLÁUDIO PORTELLA (Fortaleza, 1972) é escritor,
poeta, crítico literário e jornalista cultural. Autor dos livros Bingo! (2003),
Melhores Poemas Patativa do Assaré (2006; 1ª reimpressão, 2011; Edição em
eBook, 2013), Crack (2009), fodaleza.com (2009), As Vísceras (2010), Cego
Aderaldo (2010), o livro dos epigramas & outros poemas (2011) e Net (2011).
Colabora nas mais importantes publicações do Brasil e do exterior. Ganhou o
concurso de conto da UBENY - União Brasileira de Escritores em Nova York.
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