Jingle bell [Jean Marcel]
– Afonso, as crianças já estão impacientes, o Papai Noel vem ou não vem?
– Conseguiu ou não conseguiu?
– Bem... Sim, claro que sim!
– Afooooooonnnnso...
– Confia em mim, Clo! Alguma vez eu já pisei na bola?
– Você quer a resposta em ordem cronológica ou por gravidade do acontecido?
– salvo pelo gongo, o Afonso suspira aliviado ao ouvir a buzina tocando – É ele...
– Paaai, paaaaaai tem alguém chamando lá na frente!
– É o Papai Noel, crianças! Vamos, Clô... Vem... o bom velhinho nos aguarda...
...
– De fusca, Afonso? Papai Noel de fusca?! – questiona a Clotilde, assim que chega ao portão da frente de casa, ainda a tempo de vê-lo saindo cambaleando do carro.
– Por cinquenta paus você queria o quê? Um trenó e renas de nariz vermelho?
– Tudo bem, Afonso, mas esse Papai Noel não está magrinho demais? – cochicha decepcionada – E esse bermudão vermelho? Nada a ver!
– Pô, Clotilde, vivemos num país tropical! E é dezembro... verão!
– Mas ele não vem do Polo Norte? As crianças vão desconfiar!
– Relaxa, elas estão estudando aquecimento global no colégio!
– Uhm... Está esquisito! Mas fazer o quê?! Diz pra ele entrar que as crianças já estão indóceis!
– Tá liberado, Magrão... – autoriza o Afonso – Vai entrando!
– EI, o que é aquilo saindo do carro, Afonso?
– Pô, Clotilde, sei lá... não implica! Devem ser as assistentes dele...
– De biquíni e pompom vermelho?
– Claro... tudo vermelho, Clotilde, inclusive o salto alto!
– Mas nem que a rena tussa! – avisa a Clotilde com as mãos na cintura – Na-na-ni-na-não!
– Mas...
Não teve jeito... Sem chance! O Afonso precisou negociar com o “Papai Noel”, que se recusava a deixá-las esperando na frente de casa, já que nenhum argumento convenceu a Clotilde a autorizar a entrada das tais ajudantes na festa. Evidentemente o gesto foi considerado pelo “bom velhinho” e por toda a ala masculina da família uma séria violação do espírito natalino. Ainda assim, o apelo foi em vão. Já de mau humor, o Papai Noel jogou seu saco nas costas e entrou cambaleando porta adentro, com as crianças pulando à sua volta.
– Pai, pai... Olha o que eu ganhei! – mostra o Júnior para o Afonso, que não acredita no que está vendo.
– Porra, Jonja – se apressa o Afonso em alcançar o amigo travestido de Noel – Pirou? Você está entregando charuto pras crianças?
– Ops, sorry... Errei de bolso. As guloseimas “hic” estão do outro lado! Olha só... Se vires a molecada soprando balão “hic”... me devolve que são camisinhas!
– Jonja! Não acredito... Você está bêbado?!
– Ops, eu? “hic”, Bêbado? Só tomei um “hic” traguinho... Pô, você sabe que sou tímido... – interrompe a explicação para soltar um arroto – Desculpa, escapou! “hic”... Pensa que é fácil vestir essa fantasia na cara dura? Dá licença “hic” que agora preciso entregar os presentes! Fica frio que eu sei tudo de Natal! – e entrou na festa cantando:
– “Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?...”
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