Pen(s)ar
A cabeça girava mais que
um girassol nas tardes alaranjadas de verão. Os seus sóis eram as ideias.
Preferia o silêncio turbulento de suas reflexões às tagarelices intermináveis e
vazias.
Fazia do ato de pensar o
seu esporte. Passava horas em lugares distantes, por mais plantada que
estivesse no chão. Chegava a fazer parte da paisagem de tão comprometida com
suas elucubrações. As noites eram combustíveis para suas ideias febris e
sedentas de respostas e elos perdidos.
Ao longo de tantas
madrugadas o pensar já se havia transformado em atividade terrível: tirava-lhe
o sossego, o sono, a calmaria e conduzia a passos lentos, mas contínuos ao
cansaço.
Pouco a pouco o gosto pela
solidão aumentava, assim como o apreço por certa ponta de tristeza e
desapontamento observados pelas janelas abertas de suas reflexões. Chegava a
ser movida pela vontade de não pensar, de poupar-se à tarefa que lhe desgastava
pelas madrugadas sem fim.
Imersa em si mesma já sentia
um penar no ato de pensar. Muito maior, é verdade, se era chamada a expor-se.
Não sabia mais em que medida deveria manter seus pensamentos soltos. Prendê-los
e não mais pensar seria uma saída, mas, sobre isso, era preciso pensar.
Estava feito: estava
condenada a si mesma, círculo vicioso do pensar (até em não pensar), de
repensar e de se alterar, fluida como as próprias ideias, leves e confusas,
emaranhadas e dispersas, vigorosas e tênues, possíveis ou insanas.
Pensava. Voava. Abria-se
em si mesma e se recolhia com as asas maiores, capazes de voos longos e cada
vez mais perto do sol: sabia que não cairia, suas asas não eram com as de
Ícaro, mas como as de Ísis, que humildemente sempre se lembrava de todos os
começos.
Dy Eiterer.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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