Octávio Paz (1914-1998) foi
poeta e pensador mexicano. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1990. Foi
ensaísta, tradutor e diplomata. Foi durante muitos anos, uma das personalidades
mais influentes na vida cultural da América Latina.
Octávio Paz (1914-1998)
nasceu na Cidade do México, no dia 31 de março de 1914. Durante sua infância,
morou com a família nos Estados Unidos. De volta ao México, estudou Direito na
Universidade Autônoma do México. Começou a escrever desde a adolescência, convivendo
com as maiores expressões da poesia hispânica.
Em 1933, Octávio Paz publica
seu primeiro livro "Luna Silvestre". Em 1945, ingressa no serviço
diplomático do México. Morou na Espanha, em Paris, no Japão e na Índia. Além de
diplomata, destacou-se como poeta e por todo seu trabalho de ensaísta, crítico
literário, agitador cultural e polemista político.
Em 1950, o poeta escreveu
"O Labirinto da Solidão", uma investigação histórico-antropológica
sobre seu país, que se tornou uma obra clássica. Em 1956, publicou "O Arco
e a Lira", um ensaio lírico a respeito da poesia, de sua origem e
natureza.
Seu primeiro grande poema,
de dez páginas, "Pedra e Sol", escrito em 1957, recebe elogios quase
unanimes da crítica. O poema consiste numa extensa meditação poética, com temas
que acompanharam o poeta durante sua trajetória: a memória e a história, o amor
e o erotismo, o contraste entre o Ocidente e o Oriente e a essência da criação.
Otaviano Paz Losano faleceu
na Cidade do México, no dia 19 de abril de 1998.
Octavio Paz was born in 1914
in Mexico City. On his father's side, his grandfather was a prominent liberal
intellectual and one of the first authors to write a novel with an expressly
Indian theme. Thanks to his grandfather's extensive library, Paz came into
early contact with literature. Like his grandfather, his father was also an
active political journalist who, together with other progressive intellectuals,
joined the agrarian uprisings led by Emiliano Zapata.
Paz began to write at an
early age, and in 1937, he travelled to Valencia, Spain, to participate in the
Second International Congress of Anti-Fascist Writers. Upon his return to
Mexico in 1938, he became one of the founders of the journal, Taller
(Workshop), a magazine which signaled the emergence of a new generation of
writers in Mexico as well as a new literary sensibility. In 1943, he travelled
to the USA on a Guggenheim Fellowship where he became immersed in
Anglo-American Modernist poetry; two years later, he entered the Mexican
diplomatic service and was sent to France, where he wrote his fundamental study
of Mexican identity, The Labyrinth of Solitude, and actively participated
(together with Andre Breton and Benjamin Peret) in various activities and
publications organized by the surrealists. In 1962, Paz was appointed Mexican
ambassador to India: an important moment in both the poet's life and work, as
witnessed in various books written during his stay there, especially, The
Grammarian Monkey and East Slope. In 1968, however, he resigned from the
diplomatic service in protest against the government's bloodstained supression
of the student demonstrations in Tlatelolco during the Olympic Games in Mexico.
Since then, Paz has continued his work as an editor and publisher, having
founded two important magazines dedicated to the arts and politics: Plural
(1971-1976) and Vuelta, which he has been publishing since 1976. In 1980, he
was named honorary doctor at Harvard. Recent prizes include the Cervantes award
in 1981 - the most important award in the Spanish-speaking world - and the
prestigious American Neustadt Prize in 1982.
Paz is a poet and an
essayist. His poetic corpus is nourished by the belief that poetry constitutes
"the secret religion of the modern age." Eliot Weinberger has written
that, for Paz, "the revolution of the word is the revolution of the world,
and that both cannot exist without the revolution of the body: life as art, a
return to the mythic lost unity of thought and body, man and nature, I and the
other." His is a poetry written within the perpetual motion and
transparencies of the eternal present tense. Paz's poetry has been collected in
Poemas 1935-1975 (1981) and Collected Poems, 1957-1987 (1987). A remarkable prose
stylist, Paz has written a prolific body of essays, including several
book-length studies, in poetics, literary and art criticism, as well as on
Mexican history, politics and culture.
O RIO (Fragmento)
A metade do poema
sobressalta-me sempre um grande desamparo,
tudo me abandona,
não há nada a meu lado, nem
sequer esses olhos que por detrás
contemplam o que escrevo,
não há atrás nem adiante, a
pena se rebela, não há começo nem
fim, tampouco muro que saltar,
é uma esplanada deserta o
poema, o dito não está dito, o não dito
é indizível,
torres, terraços devastados,
babil8nias, um mar de sal negro, um
reino cego,
Não,
deter-me, calar, fechar os
olhos até que brote de minhas pálpebras
uma espiga, um repuxo de sóis,
e o alfabeto ondule
longamente sob o vento do sonho e a maré suba
em onda e a onda rompa o dique,
esperar até que o papel se
cubra de astros e seja o poema um
bosque de palavras enlaçadas,
Não, não tenho nada a dizer;
ninguém tem nada a dizer, nada nem
ninguém exceto o sangue,
nada senão este ir e vir do
sangue, este escrever sobre o já escrito
e
repetir a mesma palavra na metade do poema,
sílabas de tempo, letras
rotas, gotas de tinta, sangue que vai e vem
e não diz nada e me leva consigo.
(Trad. Haroldo de Campos)
ARCOS
A Silvina Ocampo
Quem canta nas ourelas do
papel?
De bruços, inclinado sobre o
rio
de imagens, me vejo, lento e
só,
ao longe de mim mesmo: 6
letras puras,
constelação de signos,
incisões.
na carne do tempo, ó
escritura,
risca na água!
Vou entre verdores
enlaçados, adentro
transparências,
entre ilhas avanço pelo rio,
pelo rio feliz que se
desliza
e não transcorre, liso
pensamento.
Me afasto de mim mesmo, me
detenho
sem deter-me nessa margem,
sigo
rio abaixo, entre arcos de
enlaçadas
imagens, o rio pensativo.
Sigo, me espero além, vou-me
ao encontro,
rio feliz que enlaça e
desenlaça
um momento de sol entre dois
olmos,
sobre a polida pedra se
demora
e se desprende de si mesmo e
segue,
rio abaixo, ao encontro de
si mesmo.
1947
(Trad. Haroldo de Campos)
DESTINO DO POETA
Palavras? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre
palavras,
deixa que eu seja o ar entre
esses lábios,
um sopro erramundo sem
contornos,
breve aroma que no ar se
desvanece.
Também a luz em si mesma se
perde.
(Trad. Haroldo de Campos)
Antes do começo
Ruídos confusos, claridade
incerta.
Outro dia começa.
Um quarto em penumbra
e dois corpos estendidos.
Em minha fronte me perco
numa planície vazia.
E as horas afiam suas
navalhas.
Mas a meu lado tu respiras;
íntima e longínqua
fluis e não te moves.
Inacessível se te penso,
com os olhos te apalpo,
te vejo com as mãos.
Os sonhos nos separam
e o sangue nos reúne:
Somos um rio que pulsa.
Sob tuas pálpebras amadurece
a semente do sol.
O mundo
No entanto, não é real,
o tempo duvida:
Só uma coisa é certa,
o calor da tua pele.
Em tua respiração escuto
as marés do ser,
a sílaba esquecida do
Começo.
(Trad. Antônio Moura)
Octávio Paz
Todos os direitos autorais reservados ao autor.
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