Olhos d’água
A Serra do Estrago, no Brejo
da Madre de Deus, tem seus segredos, oásis escondidos na mata cerrada. Um dos
milagres da Natureza revela-se num fino fio transparente, sem compunção, saído
do centro da terra. Pulsa de uma fresta na rocha e escorre, sereno, em majestoso
véu, com ligeiras ondulações.
Ladeado de pedregulhos
desce, em correnteza, de uma altura considerável, como lágrima de alegria,
diante da necessidade saciada do homem.
No poço formado no terminal
da laje águas e lavadeiras se misturam em comunhão. As crianças molham-se
desfrutando o frescor dos pingos. Risos se ouvem como música de duendes meio ao
verde do mato.
Cristalina a importância
perante a sede do mundo. O líquido vital, mensageiro da fertilidade da terra,
serpenteia a vegetação rasteira, umidifica a terra para o plantio do alimento e
não vai longe.
Apenas um olho d’água,
lacrimejante da intimidade da terra, com o poder de trazer a felicidade da vida
farta, sem exageros. A terra parecia ser de todos que dela necessitavam, muitos
homens iam lá fazer o seu roçado, sem paga.
O segundo milagre vem da
cacimba, de Seu Oscar. Lajeiros imensos formam o calçamento natural de um
terreno cercado por avelozes, juazeiros, quixabeiras, capins de flecha, e numa
das extremidades um veio d’água que não para. Duas pequenas muralhas de pedras
servem de concha. Dali se retira água potável. O milagre da água em aberto,
dividido irmanamente pelos que entendiam as necessidades.
O terceiro manancial, a
Lagoa, que deu nome ao sítio. Vertente compunsiva, cercada pelo homem, com a
finalidade de aproveitar cada gota do líquido precioso.
Cercada por árvores
frutíferas, onde o frescor das sombras são convites ao descanso. O camponês,
rico pela abundância da água, distribui para os que não receberam da natureza o
presente. Seu Afonso, homem simples de bom coração, merece reverência por ter
divido as águas de sua Lagoa.
A esses homens que generosamente
matavam a sede dos outros a minha eterna gratidão. Meus avós, tios e primos
somos, eternamente, agradecidos. Foi entre essas três vertentes que nossas
necessidades foram supridas. Portanto bendizemos a Natureza de Deus e do homem
de boa vontade.
Luciene Freitas -
Prêmio Vânia Souto Carvalho de Ficção, pela Academia Pernambucana de
Letras, em 2009. É pernambucana e tem publicados os seguintes livros:
Explosão (poesias); A Dança da Vida (parábolas e contos); Mil Flores
(poesias). Encenado no Teatro do SESC em 2004; O Sorriso e o Olhar
(parábolas, contos e crônicas); Meu Caminho, textos para reflexão; Uma
Guerreira no Tempo, (pesquisa). O resgate de uma época – 1903-1950; a
vida e a obra da escritora Martha de Hollanda, primeira eleitora
pernambucana. Premiado pela Academia Pernambucana de Letras, em janeiro
de 2005; Viagem dos Saltimbancos Escritores pelos Recantos do Nordeste,
(cordel); Mergulho Profundo, 264 pensamentos filosóficos; Brincando Só e
Brincando de Faz de Conta, Vol. I e II da série No Ritmo da Rima; O
Espelho do Tempo, romance de pura emoção; Sob a Ótica das Meninas, 42
contos de um tempo determinado.
Tem
trabalhos publicados em jornais e revistas do Brasil, Portugal e
Argentina. Participações em várias antologias. Conta com alguns prêmios
literários. Pertence ao quadro de sócios da União Brasileira de
Escritores (UBE– PE); União Brasileira de Trovadores (UBT– PE);
Instituto Histórico e Geográfico da Vitória, Vitória – PE; Academia de
Letras e Artes do Nordeste (ALANE); Academia Vitoriense de Letras, Artes
e Ciências da Vitória de Santo Antão; Grupo Literário Celina de
Holanda. Membro correspondente da Academia Irajaense de Letras e Artes
(AILA) Irajá / RJ e Academia de Letras de Itapoá / SC.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário