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Fotos: Divulgação
MANOEL DE BARROS em 1942; o autor e
a esposa
Stella,
no Rio de Janeiro nos anos de 1940
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Cartas e manuscritos inéditos estão em reedições de Manoel de Barros
Em dezembro
deste ano, o poeta Manoel de Barros completaria cem anos. Por conta da data, a
Alfaguara começou a reeditar a obra do escritor, com volumes que contam também
com material iconográfico inédito, como cartas, manuscritos e fotos do autor.
Nesse
processo de republicação da obra de Manoel, a Alfaguara traz com dois títulos
nas livrarias: o primeiro reúne as duas primeiras obras do autor, Poemas
Concebidos Sem Pecado e Face Imóvel, de 1937 e 1942, e a outra é um dos
clássicos, Arranjos para Assobio, de 1982. “É uma cronologia não cronológica,
afinal, a vantagem da poesia é permitir vários caminhos de entrada”, aponta
Italo Moriconi, organizador da coleção.
Os títulos
contam com material inédito. No seu início, é notável a influência de Manuel
Bandeira e Oswald de Andrade, encarnada no desejo de captar a voz do povo: a
grande virada de Manoel de Barros será, depois, transfigurar essa voz, como fez
Guimarães Rosa. Em Face Imóvel, um raro livro com ar urbano e existencial, a
referência parece ser Drummond. Os livros, na verdade, ajudam a ver como o
poeta do Pantanal percorreu um caminho nada gratuito na sua escrita. “Desde o
início, ele marca que o poeta é aquele que tem um olhar de menino diante das
coisas. Quando fala em poemas ‘sem pecado’, é nesse sentido: não existe a
transgressão porque não existe a proibição, tanto que ele tangencia uma certa
eroticidade”, explica Italo.
CARTA de
Carlos Drummond de Andrade a Manoel de Barros em novembro de 1942
Entre os
materiais inéditos, está a carta de Carlos Drummond de Andrade a Manoel de
Barros comentando sobre “Face Móvel”.
“Meu caro
Manoel de Barros: Li “Face Móvel” em alguns minutos. Depressa e com emoção.
Penso que você, através desse livro rápido e imperfeito, mostrou possuir os
elementos essenciais de uma poesia cheia de humanidade e pungente lirismo. Não
lhe dou conselhos nem me sinto autorizado a dá-los (de resto, nada valem). Mas
acredito que quem escreveu esses poemas têm muita coisa a dizer, no confronto
de si mesmo com o mundo. Guardei aquele “como rosa em peito de suicida” e
aquela “luz da lâmpada na moringa” como sinais, entre vários outros, de uma
expressão poética rica de dramaticidade e sentimento das relações secretas
entre as coisas. Com um grande interesse pelo desenvolvimento de sua poesia
(interesse que é simpatia amiga), e grato ainda às boas palavras que me dedicou,
abraça-o cordialmente”, disse Drummond de Andrade em carta datada em 3 de
novembro de 1942.
POEMA
“Enseada de Botafogo” escrito a punho por Manoel de Barros na década de 40
Outra
‘relíquia’ é o manuscrito do poema “Enseada de Botafogo”, “O corpo que morava
ali, equilibrado nas curvas da enseada; Ao lado dos carros vermelhos que
transportavam os donos da vida para seus escritórios; Ao lado dos emigrantes
subjugados ao infinito; E crianças reclinadas sobre as ondas azuis; Tantas
vezes o corpo sobre as curvas, tantas que ficou como certas casinhas tortas,
que jamais podem ser evocadas fora da paisagem”, escreveu o poeta.
Manoel de
Barros recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios
Jabutis. Ele é considerado o mais aclamado poeta brasileiro da
contemporaneidade nos meios literários.
* Editora
Alfaguara, atual dona dos seus direitos, começou a republicar a obra completa
do poeta
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