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SAMUEL BECKETT, O ESCRITOR QUE RELEMBROU A ESCURIDÃO DO VENTRE MATERNO


Samuel Beckett, o escritor que relembrou a escuridão do ventre materno
Por: Pedro Luizão
(O texto original, em espanhol, pode ser lido AQUI)

O escritor Samuel Beckett tinha memórias angustiantes de sua vida antes de nascer.

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O grande escritor irlandês Samuel Beckett era um homem com uma perspectiva única sobre a vida, caracterizada por uma consciência aguçada do sofrimento humano e uma disposição para o absurdo. Beckett não hesitou em brincar, com uma propensão para o humor negro, embora também seja autor de algumas das passagens mais sinceras e profundas da literatura do século passado.

A visão particular de Beckett se reflete em dois aspectos um tanto estranhos de seu próprio relato biográfico: a lembrança de experiências fetais e a insistência em nascer na Sexta-feira Santa.

Beckett insistiu que ele nasceu em 13 de abril de 1906, Sexta-feira Santa, que também era sexta-feira 13. Isto agradou-lhe, dada a ligação com a crucificação de Cristo, um eco da sua consciência do sofrimento humano. In Company, obra tardia de forte caráter autobiográfico, sublinha essa coincidência, introduzindo analogias e comparações entre a história de vida de Cristo e a de seus personagens degradados.

Isso é um pouco questionado porque, aparentemente, sua certidão de nascimento registra que ele nasceu em 13 de maio de 1906, um domingo. Além da insistência na data de nascimento, Beckett afirmou ter lembranças que antecederam esse dia. Ele alegou ter uma memória vívida de sua existência fetal, descrevendo um estado de desolação e dor, e uma lembrança particular de estar no ventre de sua mãe, na mesa de jantar, antes de nascer.

De acordo com o New York Times, Beckett contou isso para mais de uma pessoa e, depois, em uma entrevista quando tinha 64 anos. Disse então que se lembrava de sua vida pré-natal e que essa existência era um deserto doloroso: "Tenho uma memória clara da minha própria existência fetal. Era uma existência em que nenhuma voz, nenhum movimento possível me libertava da agonia e da escuridão a que estava submetido."

Ele também disse a Peggy Guggenheim que manteve uma "terrível memória da vida no ventre de sua mãe". Essa experiência teria sido traumática e decisiva em sua visão de vida. Aparentemente, ele chegou a discutir com o psiquiatra Geoffrey Thompson.

Tudo isso sugere uma narrativa mais complexa e não é mais fácil saber se é uma invenção ou realmente um livro de memórias – alguns dirão que, particularmente no que diz respeito a um escritor, não há muita diferença entre os dois. Não é totalmente exagerado pensar que Beckett se lembrou do poço escuro da vida fetal e que isso o marcou, especialmente considerando que muitas pessoas acreditam que se lembram até mesmo de vidas passadas.

Durante sua vida, Beckett mostrou apego a um versículo do Livro de Jó que refletia sua visão da vida: "Pereça o dia em que nasci e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!" Em suma, o mistério da data de nascimento de Beckett e suas alegações de memória pré-natal pintam o retrato de um homem com uma compreensão profunda e única da existência humana.




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[Tradução: Daufen Bach.]

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