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"OS OLHOS DO MEU PAI", UM LIVRO DE MENALTON BRAFF


"Os Olhos do Meu Pai", um livro de Menalton Braff

O leitor está diante de um livro excepcional. São duas histórias. Uma, o resumo da outra, formada pelas epígrafes. A outra é a contada pela voz do protagonista, na linguagem preciosa das gentes simples. Com as repetições da coloquialidade, que o povo das fazendas usa para reforço de intenção. Cada avanço narrativo recupera o texto anterior, acrescentando uma nova circunstância. A boa técnica da disseminação e recolha, na narrativa. Como numa canção, que começa com um trio de cordas e ao qual vai sendo acrescentado o grito do violino, o langor do violoncelo e o susto do tímpano.

Os diálogos entremeados no texto, se não são novidade desde o romance sinfônico, mostram a segurança do autor na condução da leitura. Ele conhece o leitor. Sabe das suas percepções. E as antecipa, nas metáforas muito bem escolhidas. Também percebo o uso de catacreses forçadas, à moda de Eça de Queiroz, que representam transposições – “a voz agachada”, “a surdez dos pés inchados”, “a brisa de lâmina afiada”, “o chapéu ríspido”. De novo a oralidade, na música do texto.

O vaivém das lembranças, entremeadas dentro do tempo presente do enredo, é uma mimese das acrobacias mentais que naturalmente ocupam e dominam, contra nós, os nossos pensamentos. Nada é linear. E é nesses volteios, nas pausas, no silêncio do não dito, que se oculta o estorvo e a quebra da comunicação dos sentimentos. E nada é linear, mesmo. De tanto calar, de repente o coração se assoberba e a raiva assoma como correnteza de enxurrada. E de novo a música, agora dissonante, aparentemente confusa e tormentosa. Antecipação. Quem tem olhos de ler, lerá. O início já contém o fim.

Esta é uma narrativa em vários tempos e em várias vozes. Falam mais alto um narrador que tudo vê e o protagonista que tudo vive - duas histórias dentro da mesma história, paralelas, tangentes, complementares. Tão profunda uma quanto a outra, enfeitadas da mesma enorme dimensão emocional.

Afinal – e a escolha talvez explique muitas coisas dentro da história -, o nome Venâncio, em latim, significa “o que caça”.

Joaquim Maria Botelho
Jornalista, escritor e crítico literário





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Menalton Braff, nasceu no Rio Grande do Sul, fez pós-graduação em Literatura Brasileira, na Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo. Tem trinta livros publicados. Sua coletânea de contos À sombra do cipreste conquistou o Jabuti 2000 (livro do ano – ficção) e já foi finalista de vários prêmios, como o Jabuti (diversas vezes), Prêmio São Paulo de Literatura e Oceanos. Em 2021 conquistou o Prêmio Machado de Assis da FBN com o romance Além do Rio dos Sinos (editora Reformatório, 2020). Vive na região de Ribeirão Preto desde 1987, onde se dedica exclusivamente à literatura.
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